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André Abujamra: compositor paulista estreia o ambicioso projeto "Omindá", sua obra-prima

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                                                                               André Abujamra, no show-filme "Omindá"

O humor frequenta a música e as apresentações de André Abujamra há décadas, mas desta vez esse inventivo compositor, instrumentista e ator paulista está falando sério, no melhor sentido da expressão.

“Omindá - A União das Almas do Mundo pelas Águas” (show-filme que estreou ontem, no palco e no telão do Auditório Ibirapuera, em São Paulo) é sua obra-prima. Difícil defini-la em poucas palavras, mas não deixa de ser uma coleção de belas canções inspiradas pelas relações do ser humano com a água.

Não é à toa que André tem dito em entrevistas que já pode morrer feliz. Dedicou-se por 11 anos a esse projeto, incluindo viagens para 14 países da Europa, da Ásia e das Américas. Editar tantas imagens e participações de dezenas de cantores e instrumentistas (como Anelis Assumpção, Mauricio Pereira, Paulinho Moska, Ritchie, Marcos Suzano, Mintcho Garrammone, Trupe Chá de Boldo ou a atriz Maria de Medeiros, entre outros)  deve ter sido uma tarefa difícil, mas André pode se orgulhar do resultado, não só pela mensagem humanitária que transmite, mas especialmente pela encantadora beleza das melodias e arranjos.

Surpreende também o fato de um projeto tão ambicioso como esse ter sido realizado sem qualquer patrocínio. André bancou toda a produção com o que ganha, principalmente, como compositor de trilhas sonoras. Um caso muito raro de artista que coloca sua música em primeiro lugar.

Para quem não pode apreciar o show-filme “Omindá” ao vivo, as inspiradoras canções de André já estão registradas no CD homônimo. Mas se você vive ou está em São Paulo não perca a chance de ver e ouvir o compositor e guitarrista à frente de uma pequena orquestra recheada com muita percussão e um coro, tocando e cantando ao vivo durante a projeção do filme (até domingo, 25/3). É uma experiência emocionante, daquelas que ficam em nossa memória por muito tempo.

Carlos Malta & Pife Muderno: clássicos da canção brasileira em linguagem original

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Um disco de música popular brasileira, gravado ao vivo em um dos teatros mais conceituados da China, pode parecer algo inusitado. Mas não para quem já ouviu a música contagiante do flautista Carlos Malta e seu grupo Pife Muderno, cujas melodias, ritmos e texturas sonoras são capazes de encantar plateias em qualquer lugar do mundo. Até porque essa música -- registrada agora no CD "Ao Vivo na China" (lançamento Delira Música) -- independe completamente da comunicação verbal.

Além dos pífanos e flautas de Malta, o sexteto Pife Muderno destaca também as flautas de Andrea Ernest Dias, o pandeiro de Marcos Suzano e a percussão de Oscar Bolão. Depois de 20 anos juntos, eles desenvolveram uma linguagem tão original que suas releituras de clássicos da canção brasileira, como “Ponteio” (Edu Lobo), “Qui Nem Jiló” ou “Asa Branca” (ambas de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), ou até mesmo as composições do grupo, soam como músicas ancestrais. É o poder mágico dos “pifes”. 

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 30/05/2015)
 

5º CopaFest: evento carioca celebra a diversidade da música instrumental

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                                                                       Wilson das Neves e sua orquestra / Photo by Carlos Calado

Foram três noites animadas e ecléticas. Quem acompanhou a quinta edição do CopaFest, no último fim de semana, no Rio de Janeiro, ouviu samba, baião, funk, jazz, choro, bossa nova, maracatu, salsa, reggae, até rock. Talvez esta seja a melhor definição desse evento: um festival de música instrumental brasileira sem preconceitos.

Isso ficou mais evidente ainda na última noite, que se estendeu pela madrugada de domingo. Liderando sua pequena orquestra, o veterano baterista e sambista carioca Wilson das Neves recriou sucessos da MPB, como “Zazuêra” (de Jorge Ben), “Irene” (Caetano Veloso) e “Essa Moça Tá Diferente” (Chico Buarque). Os suingados arranjos instrumentais da banda animaram dezenas de casais a sair dançando, nas beiradas do salão do Hotel Copacabana Palace. Tudo a ver, já que o sugerido formato da noite era mesmo o de um baile.

Claro que o repertório essencialmente instrumental, centrado no álbum “O Som Quente É o das Neves” (de 1976), não impediu que o sambista cantasse seu sucesso (e hoje cartão de visita) “O Samba É Meu Dom”, com a plateia fazendo coro com ele, ao entoar os versos de Paulo César Pinheiro.

“Ô, sorte!”, brincou Das Neves, arrancando sorrisos dos fãs com seu popular bordão. Depois, retornou à bateria para comandar uma contagiante versão, em ritmo de samba, do funk “Pick Up the Pieces” (sucesso da escocesa Average White Band). E, no melhor estilo das bandas de New Orleans, fechou a apresentação com a festiva “When the Saints Go Marching In”. 

                                                                    Pepeu Gomes e seu filho Felipe Pascoal (no fundo)

No primeiro show do sábado (3/11), Pepeu Gomes já havia transformado o salão do Copa em uma excitante arena de rock. “Vai ser alto!”, avisou logo o guitarrista baiano, elevando ao máximo o volume de seu instrumento – sem falar no naipe de sopros, que deu mais consistência sonora à sua banda. Ou ainda as presenças do irmão Didi Gomes, no baixo, e de outros dois guitarristas: seu filho Felipe Pascoal e Davi Moraes.

Pepeu exibiu sua pegada roqueira até mesmo em uma seleção de clássicos choros, como “Noites Cariocas” (Jacob do Bandolim), “Brasileirinho” (Waldir Azevedo) e “Lamento” (Pixinguinha). Relembrou também alguns de seus dançantes sucessos dos anos 70 e 80, como “Malacaxeta” e “Cartagena”. Pelas expressões de alguns espectadores mais jovens, que provavelmente só o conheciam pelos discos, o guitarrista foi a surpresa da noite.



                                                   O guitarrista e compositor Kassin / Photo by Carlos Calado

Os shows da sexta-feira (2/11), mesmo bem diferentes entre si, revelaram algo em comum: muitas composições inéditas. À frente da banda Magnética Intergaláctica, o guitarrista e produtor carioca Kassim prendeu a atenção da plateia por quase duas horas com temas que compôs para o animê “Michiko to Hatchin”. Para isso contou com toda a experiência do tecladista Lincoln Olivetti (grande destaque do CopaFest no ano passado) e os eficazes arranjos do flautista Felipe Pinaud.

Atração mais esperada do festival, o “supergrupo” Shinkansen – com o mineiro Toninho Horta (guitarra), o paulista Liminha (baixo elétrico) e os cariocas Marcos Suzano (percussão) e Jaques Morelenbaum (cello e teclado) – mostrou pela primeira vez, num palco, o eclético e quase todo inédito repertório de seu CD de estreia, que será lançado só em 2013.



                             Suzano (esq. para dir), Morelenbaum, Liminha e Horta / Photo by Carlos Calado

 
“Shinkansen é o trem, é a nossa vontade de ir além”, disse Morelenbaum, tentando definir a proposta do quarteto, mas sua música criativa já estava falando por si. Entre várias referências ao Japão, o delicado baião “Hai-Kai”, a hipnótica “Maracatuesday”, a percussiva “Thousand Volts” ou o samba “Shinkansen” combinam lirismo e experimentações sonoras.

O tecladista e compositor carioca Eumir Deodato – expoente da bossa nova radicado nos EUA, que abriu o festival na quinta-feira – trouxe uma panorâmica de sua obra. Lembrou arranjos que escreveu para o cinema e para a TV, como “Peter Gunn” e “Carly & Carole”, uma versão funk-soul de “Summertime” (Gershwin) e ainda fez questão de exibir algumas de suas incursões pelo pop/rock.



                                                          Eumir Deodato (de branco) / Photo by Carlos Calado

Deodato chegou a tocar o pesado rock “Black Dog” (Led Zeppelin) e a suingada “Do It Again” (Steely Dan), mas o clímax de sua apresentação foi mesmo o inventivo arranjo de “Also Sprach Zarathustra” (Richard Strauss), que fez para a trilha do filme “2001”, de Stanley Kubrick, misturando música clássica e pop – não à toa escolhido para o bis exigido pela plateia.

Um país como o nosso, com uma música instrumental tão rica e diversificada, pode certamente inspirar outras saborosas edições do CopaFest por muitos anos.

(resenha publicada parcialmente, na “Folha de S. Paulo”, em 6/11/2012) 


 

5º CopaFest: supergrupo Shinkansen estreia em festival de música instrumental

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                                           Toninho Horta, Liminha, Marcos Suzano e Jaques Morelenbaum 

Bastante requisitados nos estúdios de gravação durante as últimas décadas, esses quatro conceituados músicos nem imaginaram que um dia formariam um “supergrupo” como este. O Shinkansen é uma das atrações da quinta edição do CopaFest, evento de música instrumental brasileira, que vai agitar o salão Cristal do Hotel Copacabana Palace, no Rio, de 1 a 3/11 (quinta a sabado).

O idealizador do quarteto foi o violonista e compositor mineiro Toninho Horta, um dos líderes do lendário Clube da Esquina. No ano passado, durante as gravações de seu novo CD “Harmonia e Vozes”, ele formou o Shinkansen, pensando em levar o baixista e produtor Liminha (ex-Mutantes) ao Japão pela primeira vez.

“Liguei para o Marcos Suzano, que já esteve lá mais de 30 vezes, e gostou logo da ideia”, conta Horta. “Como ele e Liminha são músicos mais percussivos, pensei então que precisava de um companheiro nas harmonias. Daí lembrei do Jaques Morelenbaum, que também já tocou muito no Japão. Logo marcamos uma sessão de uma semana para gravar o disco”.  

Ex-parceiro de Gilberto Gil e Lenine, o percussionista carioca Marcos Suzano diz que as gravações foram estimulantes. “O disco ficou bacana porque tem a cara dos quatro. Não houve uma direção, na hora de gravar. Foi um bate-bola bem maneiro”, compara.

“O mais incrível é a sonoridade desse grupo, por causa das contribuições de cada um. O som é de banda elétrica, um pouco mais pesado, com muito equipamento”, analisa Horta, que encostou seu violão, nesse projeto, para se concentrar na guitarra.

Com lançamento previsto para março de 2013, o CD de estreia do Shinkansen (nome inspirado no trem-bala japonês) reúne composições inéditas dos quatro músicos, algumas feitas especialmente para esse álbum.

É o caso de “Sayonara in Narita”, segundo Horta, “um samba bem carioca”. Já a faixa “Sakura”, inspirada no ritual japonês que festeja o florescer das cerejeiras, “é uma música bem leve”, descreve o compositor de ambas.

“As músicas do Liminha têm aquela coisa do ‘groove’ e melodias simples. O Suzano aparece com um lado eletrônico misturado com percussão real. Já as músicas do Jaquinho, de formação mais erudita, têm contracantos e seguem caminhos diferentes”, revela Horta, animado com as novas parcerias. 

Na primeira noite do CopaFest, o pianista carioca Eumir Deodato faz uma retrospectiva de seus sucessos no mundo, exibindo arranjos que escreveu para figurões do jazz e do pop, acompanhado por um noneto, com alguns dos melhores instrumentistas do Rio.

Produtor atuante na cena atual da música brasileira, o carioca Kassin interpreta a trilha sonora que fez para o animê “Michiko e Hatchin”, na sexta-feira. A noite termina com a estreia oficial do quarteto Shinkansen.

O show de sábado começa com o guitarrista baiano Pepeu Gomes, um dos fundadores dos Novos Baianos e ex-parceiro de Baby Consuelo, que vai se concentrar na faceta instrumental de sua obra. Depois, o veterano Wilson das Neves, mestre da bateria e do samba carioca, revisita o repertório de seu cultuado álbum “O Som Quente É o das Neves” (1976). Para dançar ou só ouvir com prazer.

(texto publicado parcialmente na "Folha de S. Paulo", em 1/11/2012

 

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