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Bourbon Festival Paraty: mais próxima do blues, 11.ª edição manteve a variedade musical

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                                   A cantora Dawn Tyler Watson, um dos destaques do 11.º Bourbon Festival Paraty


Para quem teve, como eu, a oportunidade de acompanhar uma das primeiras edições do Bourbon Festival Paraty, foi fácil perceber o crescimento desse evento, cuja 11ª edição terminou no último domingo (12/5). De volta à bela cidade histórica do litoral fluminense, logo notei que o palco principal, instalado em uma grande tenda na Praça da Matriz, agora é mais amplo. Ao seu lado há uma outra tenda, com um bar e loja de souvenirs, que também pode proteger a plateia, no caso de uma chuva eventual.

“No início, nosso festival era mais jazz. Agora ele está mais blues”, comentou comigo Herbert Lucas,da equipe de produção do clube paulistano Bourbon Street, que programa e produz o evento desde sua primeira edição. Mesmo que as atrações de blues tenham sido em maior número neste ano, o Bourbon Festival Paraty segue com um perfil diversificado: não faltaram shows (todos gratuitos, vale lembrar) de jazz, soul music, r&b, música instrumental, MPB, até rock.


Logo na noite de abertura do festival, na sexta (10/5), a plateia já foi recebida com uma boa surpresa: a inglesa radicada no Canadá, Dawn Tyler Watson, que comandou um contagiante show de rhythm & blues. Em sua primeira passagem pelo Brasil, a cantora e compositora fez muita gente dançar e cantar, especialmente quando relembrou um clássico do gênero, “Let the Good Times Roll”, acompanhada pelo gaitista Marcelo Naves e a banda The Tigermen.

O blues também deu as caras durante o show de Zeca Baleiro (na foto ao lado), que fechou essa noite, aplaudido euforicamente por milhares de fãs. O compositor e guitarrista maranhense não só cantou “Blues do Elevador”, de sua autoria, contando com o apoio da plateia nos vocais, como relembrou alguns clássicos da MPB que flertam com o blues, como “Vapor Barato” (de Jards Macalé e Waly Salomão) e “Pérola Negra” (Luiz Melodia). Zeca ainda recebeu o bluesman e gaitista Sergio Duarte para uma calorosa canja, dividida com Tuco Marcondes, o eclético guitarrista de sua banda.

Já no sábado (11/5), o festival ofereceu sua noite mais longa e eclética. Na abertura, a música do Folia de TReis (na foto abaixo), formado pelo baterista Edu Ribeiro com o acordeonista Toninho Ferragutti e o bandolinista Fábio Peron, logo conquistou a plateia. O trio exibiu composições próprias de seu recente álbum “Folia de TReis” (lançado pelo selo Blaxtream), calcadas em ritmos e gêneros tipicamente brasileiros, como o choro, o frevo e o samba, além de muita improvisação. A vibração da diversificada plateia, que estava ouvindo pela primeira vez esse trio paulistano, sugere que a música instrumental brasileira está longe de ser um gênero musical elitista, como insistem alguns porta-vozes do chamado “mercado”.

Atração seguinte, o guitarrista Gui Cicarelli contagiou a plateia com seu tributo musical ao grande bluesman e guitarrista norte-americano Stevie Ray Vaughan (1954-1990), morto prematuramente em um acidente de helicóptero. Pena que o brasileiro tenha se excedido, tocando por mais de uma hora e meia, tempo demais para uma noite com três atrações. C
ontando com participações da cantora Bruna Guerin e do bluesman e gaitista Sergio Duarte, tocou até clássicos do repertório de Jimi Hendrix.  


Não fossem a alegria e o carisma de Clarence Bekker (um dos fundadores da popular banda Playing for Change), última atração da noite, na certa uma parte da plateia teria ido embora mais cedo. Entre os momentos mais quentes do show desse cantor e violonista radicado na Holanda, naturalmente, não poderia faltar o hit “Stand by Me”, com participação especial da jovem cantora paulista Bebé Salvego.

Com seus 15 anos, a talentosa Bebé já havia chamado atenção, cantando clássicos do jazz e da MPB, nos palcos menores que o festival costuma instalar em ruas do centro histórico da cidade. Esses palcos também exibiram uma programação diversificada — do blues do homem-banda Vasco Faé à black music do trio Madmen’s Clan.

Já no segundo maior palco do festival, instalado no largo da Igreja de Santa Rita, brilhou na tarde de sábado o Mani Padme Trio, um dos grupos mais criativos da cena jazzística paulista. Além de tocarem composições próprias que fazem parte do novo álbum do trio, o cubano Yaniel Matos (piano), Ricardo Mosca (bateria) e Sidiel Vieira (contrabaixo) recriaram com personalidade “Cais”, clássico do repertório de Milton Nascimento.

Uma pena, mas fui obrigado a abrir mão pelo menos três shows que gostaria de ter acompanhado na programação de domingo (12/5): o trio com Celso Pixinga, Faíska e Carlos Bala, veteranos craques do jazz brasileiro; o quinteto do guitarrista e cantor americano Mark Lambert com a cantora Amanda Maria; e o trio de jazz do grande pianista Kenny Barron com Nilson Matta (contrabaixo) e Rafael Barata (bateria), cujo excelente show no Bourbon Street Music Club, três dias antes, cheguei a assistir e a comentar neste blog. Como eu poderia dizer a uma querida velhinha, que não iria comemorar com ela o Dia das Mães?


(Cobertura realizada a convite da produção do Bourbon Festival Paraty)


 

Bourbon Festival Paraty: paulistanos também apreciaram o piano elegante de Kenny Barron

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                                                                               O pianista norte-americano Kenny Barron

A plateia paulistana teve o privilégio de ouvir, na noite de ontem, no Bourbon Street Music Club, uma das principais atrações musicais da 11.ª edição do Bourbon Festival Paraty  evento que começa na tarde de hoje (10/5), na charmosa cidade histórica do litoral fluminense.

Muito bem acompanhado por Nilson Matta (contrabaixo) e Rafael Barata (bateria), o grande pianista norte-americano Kenny Barron abriu a apresentação com a popular “All Blues” (de Miles Davis). Depois recriou com muita personalidade os standards “You Don’t Know What Love Is”, “I Remember April” e “Body and Soul”. O trio tocou também uma composição de Matta, o samba "Paraty", que o contrabaixista radicado em Nova York certamente voltará a apresentar no festival.

O Bourbon Fest Paraty vai até domingo, com extensa programação gratuita, em ruas e praças da área histórica da cidade. A MPB e o blues de Zeca Baleiro, o rhythm & blues da cantora inglesa Dawn Tyler Watson, a música instrumental brasileira do trio Folia de TReis, o swing do guitarrista Mark Lambert, o jazz contemporâneo do grupo Mani Padme, a 
soul music do cantor Clarence Bekker e o tributo do guitarrista Gui Cicarelli ao bluesman Stevie Ray Vaughan também se destacam entre as atrações do evento.

Mais informações no site do festival: www.bourbonfestivalparaty.com.br/


Rio das Ostras Jazz & Blues: chuva não impede evento de festejar 10 anos com grandes shows

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                                              Armand Sabal-Lecco e Romero Lubambo / Photo by Carlos Calado 

Um mar de guarda-chuvas molhados. Essa imagem praticamente acompanhou os cinco dias de shows da 10ª edição do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival. A chuva intermitente impediu que o evento repetisse a média de 20 mil espectadores por noite, verificada em 2011. Por outro lado, o mau tempo mostrou também que a população local e muitos turistas, que mais uma vez foram a essa cidade fluminense para ouvir música de alta qualidade, não se incomodaram de enfrentar a chuva e o chão enlameado. Certamente, não se arrependeram.


                          Mário Sève e David Ganc, solistas da Orquestra Kuarup / Photo by Carlos Calado

A noite de estreia, no palco principal, em Costazul, destacou atrações nacionais. Projeto pedagógico-musical da Fundação Rio das Ostras de Cultura, a Orquestra Kuarup Cordas & Sopros abriu o evento com uma saborosa seleção de arranjos instrumentais de temas da bossa nova, de “Samba do Avião” a “Garota de Ipanema” (Tom Jobim), além de clássicos de outras fases da música popular brasileira, como “O Ovo” (Hermeto Pascoal). À frente da orquestra, o maestro e violonista Nando Carneiro e os solistas convidados, Mário Sève e David Ganc, nos sopros.

                                         Naipe de saxofones da Big Band 190 / Photo by Carlos Calado

Surpresa da noite, a afiada Big Band 190, formada por músicos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, deliciou a plateia com suingados arranjos de temas de jazz e da música instrumental brasileira, como “Spain” (Chick Corea) e “Melancia” (Rique Pantoja), além do soul-jazz “John Brown’s Other Body” (Woody Herman), com destaque para o solo de sax tenor do sargento Geovani, do Exército. Uma big band muito bem ensaiada, com um repertório moderno, que merece ser ouvida no resto do país. 

                                                                       Helio Delmiro / Photo by Carlos Calado

Com a categoria de sempre, apesar de ter enfrentado há pouco uma cirurgia cardíaca, o mestre do violão Hélio Delmiro foi outro destaque da noite de abertura. Homenageou o saudoso maestro Moacir Santos, tocando “Nanã”. Lembrou também o grande Baden Powell, com uma versão instrumental de “O Morro Não Tem Vez”. Até se arriscou a cantar a sinuosa “Ilusão à Toa” (Johnny Alf). “Como cantor, tenho um ‘handicap’ que outros não têm: o acompanhamento do violão de Hélio Delmiro”, brincou, bem humorado. E não fez feio nos vocais. 


                                                                        Celso Blues Boy / Photo by Carlos Calado

A noite de abertura trouxe ainda o blues-rock de Celso Blues Boy, veterano carioca do gênero, dono de um grande fã clube em seu Estado. Mesmo se movimentando com certa dificuldade no palco, sem o vigor físico de outras épocas, o guitarrista e cantor desfiou seus sucessos, com a plateia bastante animada, acompanhando-o nos vocais. Claro que não faltou o hit “Aumenta Que Isso Aí É Rock’n’Roll”. E para ajudar o colega a recuperar o fôlego, também entraram em cena os ‘bluesmen’ Joe Manfra e Jefferson Gonçalves. 

                                                                Mauricio Einhorn / Photo by Carlos Calado

A programação de quinta-feira (7/6) foi a mais prejudicada pela chuva, que não deu sossego à plateia, literalmente, encharcada. O grupo instrumental mineiro Plataforma C iniciou a noite, tocando arranjos próprios de sucessos da MPB dos anos 60 e 70, assinados por Milton Nascimento (“Vera Cruz”) e Edu Lobo (“Ponteio”), entre outros. Em seguida, o veterano gaitista e compositor Mauricio Einhorn também viu sua plateia encolher por causa da chuva. Quem ficou deliciou-se com sua bagagem jazzística, exibida tanto em clássicos instrumentais da bossa nova, como “Batida Diferente” (sua parceria com Durval Ferreira), como na emotiva versão da balada “Autumn Leaves”. 

                                                                  Kenny Barron / Photo by Carlos Calado

A chuva aumentou tanto, na hora da apresentação do quarteto de jazz do pianista norte-americano Kenny Barron, que alguns músicos, como o guitarrista Mike Stern e os integrantes de seu grupo, foram ouvi-lo nas laterais do palco. Indiferente aos ruídos provocados pela tempestade, Barron comandou uma das apresentações mais inspiradas do festival, com destaque para os improvisos do trompetista Mike Rodriguez e do furioso baterista Johnathan Blake. Ao recriar dois conhecidos standards jazzísticos, “Softly, as in a Morning Sunrise” e “My Funny Valentine”, o pianista esbanjou sensibilidade musical, deixando muita gente de queixo caído. 

                                                                 Michael Hill / Photo by Carlos Calado

Fechando a noite, o bluesman norte-americano Michael Hill e sua banda Blues Mob, já conhecido pela plateia do festival, fez mais um de seus shows ecléticos. Tocou vários estilos de blues, rock, até o reggae “No Woman No Cry”, de Bob Marley. E ainda chamou ao palco a cantora brasileira Lica Cecato para uma canja, em “Georgia on My Mind”, o hit soul de Ray Charles. 

                                                      Armand Sabal-Lecco / Photo by Carlos Calado

Na sexta-feira (8/6), nem a lama que já tomara conta de grande parte da área reservada à plateia, frente ao palco em Costazul, impediu os fãs mais decididos de curtirem mais uma noite com atrações eletrizantes. Ainda desconhecido no Brasil, o baixista e cantor camaronês Armand Sabal-Lecco revelou seu potencial como músico e compositor. Variado, seu repertório vai do funk ao rock, do reggae à disco – uma salada pop, que destaca seus vocais e solos ao baixo elétrico, coloridos pela percussiva técnica do slap. Não bastasse seu carisma, Sabal-Lecco ainda chamou ao palco o carioca Romero Lubambo para uma canja. Tocando a funkeada “Cuscuz Clan”, os dois excitaram a plateia. 

                              Mike Stern (à esq.) e Romero Lubambo (à dir.) / Photo by Carlos Calado

Lubambo retornou ao palco, no show seguinte, já à frente do quarteto que lidera com guitarrista norte-americano Mike Stern. Para quem ainda desconhecia o passado roqueiro desse carioca radicado nos Estados Unidos, foi uma preciosa chance de vê-lo tocar guitarra, em sanguíneos duelos com o parceiro. Elementos do jazz e o peso sonoro típico do rock se misturaram, em vários números. O mais original, no set da dupla, foi “Bachião”, um baião instrumental de Lubambo, que serviu de veículo para alguns dos improvisos aplaudidos da noite. 

                                                    Duke Robillard / Photo by Carlos Calado

Depois de uma apresentação tão quente, só restou ao bluesman e guitarrista norte-americano Duke Robillard diminuir a temperatura em seu set, para tentar conquistar aos poucos a atenção da plateia, que ainda se refazia do show anterior. Com seu toque elegante, ele destaca em seu repertório velhos blues de mestres do gênero que o influenciaram, como T-Bone Walker e B.B. King.

                                                    A Big Time Orchestra / Photo by Carlos Calado

Também já conhecida pelo público de Rio das Ostras, a banda curitibana Big Time Orchestra fechou a noite com uma apresentação descontraída, recheada de sucessos do rock, do rhythm’n’blues e do swing, coloridos por divertidas coreografias. 

Mais shows e atrações nas próximas edições

Já na manhã do sábado, o idealizador e produtor do festival, Stenio Matos, e o prefeito de Rio das Ostras, Carlos Augusto, fizeram um balanço dos 10 anos do evento, em uma coletiva de imprensa. Inicialmente, o prefeito comentou que o mau tempo serviu para confirmar o sucesso do festival, já que mesmo com a previsão de chuvas, uma semana antes, a cidade voltou a ter seus hotéis totalmente ocupados durante o evento. 

“Não fosse o festival, com essas chuvas, muitos turistas teriam mudado seus planos de vir a Rio das Ostras”, observou Matos. “Em nossa cidade, acabou aquele preconceito de dizer que jazz é coisa de rico. O melhor de tudo é ver a alegria do povão, participando e se divertindo”, completou o prefeito.

Carlos Augusto disse também não acreditar que o resultado das eleições deste ano para a prefeitura local possa ameaçar a continuidade do festival. “Ele já está consolidado como um evento de ação cultural”, afirmou o prefeito. Citou também uma pesquisa do Cebrae, que mostra que o evento atraiu cerca de R$ 6 milhões para a economia da cidade, no ano passado. 

Já o produtor Stenio Matos disse que tem planos de levar os shows do festival a outros locais da região, além de estender a duração do evento para duas semanas, aumentando também o número de atrações musicais, nas próximas edições. 

Rio das Ostras Jazz & Blues: festival faz 10ª edição com melhores atrações de outros anos

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                                                                                 O saxofonista David Sanborn


Ostentando a condição de maior festival gratuito do gênero na América Latina, o Rio das Ostras Jazz & Blues vai comemorar sua décima edição, de 6 a 10 de junho, com uma programação especial. Stenio Mattos, produtor do evento, trará novamente músicos que fizeram alguns dos melhores shows de edições anteriores, como os bluesmen Roy Rogers e Michael Hill ou os jazzistas Mike Stern e Romero Lubambo.

Para completar o elenco, outros nomes de peso na cena do jazz norte-americano, como o saxofonista Dave Sanborn, o pianista Kenny Barron e o baterista Billy Cobham, além do guitarrista de blues Duke Robillard e o talentoso baixista camaronês Armand Sabal-Lecco. O elenco nacional de instrumentistas não fica atrás, com o grupo Cama de Gato, o gaitista Maurício Einhorn, o violonista Helio Delmiro e o guitarrista Celso Blues Boy, além da Orleans Street Jazz Band.


Durante os cinco dias do evento, nos palcos da Costazul, da Praia da Tartaruga, da Lagoa de Iriry e da Praça de São Pedro vão acontecer 29 shows, todos gratuitos. Quer saber como foi a edição do ano passado? Leia aqui:

http://www.carloscalado.com.br/2011/06/rio-das-ostras-jazz-blues-festival-os.html

Mais informações sobre o festival e sua programação em 2012 no site oficial: www.riodasostrasjazzeblues.com 

Rosa Passos: afastada dos palcos, cantora retoma a carreira com o álbum "É Luxo Só"

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O ano de 2011 já se aproximava de seu final, quando o lançamento do álbum “É Luxo Só” (pela gravadora Biscoito Fino) veio acompanhado por uma ótima notícia: depois de três anos de afastamento dos palcos, a doce cantora, violonista e compositora Rosa Passos está retomando sua carreira musical.

Nesse álbum em homenagem à eclética Elizeth Cardoso (1920-1990), uma das grandes intérpretes da música popular brasileira, Rosa imprime seu sofisticado estilo vocal, entre o jazz e a bossa nova, a clássicos de Cartola (“As Rosas Não Falam”, “Acontece”), Noel Rosa (“Ultimo Desejo”, “Três Apitos”), Ary Barroso (“É Luxo Só”) e Zé Ketti ("Diz que Fui por Aí").

Nesta entrevista, ela conta o que a levou a interromper a carreira musical, comenta detalhes dessa homenagem a Elizeth e revela seus próximos projetos, incluindo um disco com canções de Djavan e possíveis parcerias com os jazzistas Ron Carter e Kenny Barron. Rosa também comenta o fato de cantoras das novas gerações já não se preocuparem mais com a afinação ou outros detalhes essenciais numa gravação.

Sua carreira internacional estava a todo vapor, no final de 2008, quando você se afastou da música. O que aconteceu?

Rosa Passos - Tive “síndrome de burnout”, uma estafa muito grande provocada por excesso de trabalho. O pianista Keith Jarrett ficou três anos sem tocar pelo mesmo motivo. Quinze anos atrás minha carreira deslanchou no exterior e eu passei a viajar muito. Como entrei num processo de desgaste e continuei trabalhando, meu organismo começou a reclamar. Eu já estava fazendo tudo mais pela obrigação do que pelo coração, nem conseguia mais olhar para o meu violão. Cheguei a ficar mais tempo viajando, do que em casa. Então tive que parar tudo, por recomendação médica. Fiquei baianíssima, só na rede, em casa, cuidando de três gatos e quatro cachorros (risos).

O que a levou a gravar um tributo a Elizeth Cardoso?

Rosa - Foi presente de um amigo, que sugeriu essa homenagem. Eu me animei com a ideia, pesquisei bastante o repertório e os discos da Elizeth, mas não queria fazer nada óbvio. Coloquei algumas músicas no disco, como uma homenagem pessoal. Escolhi músicas que a maioria das pessoas nem sabe que ela gravou, como “Palhaçada” (Haroldo Barbosa/Luis Reis), “Diz Que Fui Por Aí” (Zé Ketti) e “Acontece”, que Cartola fez para ela. Elizeth abraçou toda a música brasileira, não tinha um repertório característico ou limitado. Ela gravou tudo.

O estilo vocal da Elizeth era bem diferente do seu. O que atrai você na obra dela? Rosa - A versatilidade dela como intérprete, algo que sempre admirei muito. Aprendi a gostar da Elizeth com meu pai, aos oito ou nove anos de idade. Ela tinha aquela elegância, foi uma grande intérprete, que sempre esteve à frente de sua época. Outra coisa que me encantou muito nela foi a decisão de cantar as “Bachianas”, de Villa-Lobos. Ou quando gravou o disco “Canção do Amor Demais” (1958), cantando Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que tem João Gilberto tocando violão, já com aquela coisa do começo da bossa nova. Ali, mais uma vez, ela estava à frente.

Mas o fato de seu estilo vocal e o dela serem diversos não tornou mais difícil se aproximar do repertório dela? 

Rosa - Sempre gostei de desafios. Já fiz um disco muito difícil, o “Amorosa”, em homenagem a João Gilberto. Tudo bem, ele é meu ídolo, teve uma grande influência na minha maneira de tocar e cantar, mas, no caso da Elizeth, eu me identifico com a ousadia dela como grande intérprete que foi. Anos atrás a Zezé Motta já homenageou Elizeth, cantando o repertório mais clássico dela. Minha ideia foi trazer a lembrança da Elizeth, mas fazendo uma homenagem mais pessoal. Eu nem saberia como cantar algumas canções mais conhecidas do repertório dela, como “Barracão” ou a “Canção do Amor Demais”.

Quando você gravou o “É Luxo Só”?  

Rosa - Gravei esse disco entre 1º e 5 de março de 2011, em Brasília, com Lula Galvão (violão e arranjos) e Jorge Helder (baixo acústico), meus amigos e parceiros de muitos anos. Foi muito gostoso porque eles ficaram hospedados em minha casa. Eu fazia comidinha para eles e, à tarde, íamos para o estúdio. O show de lançamento também será em Brasília, dias 2 e 3 de março (de 2012), no Teatro Oi. Depois quero fazer São Paulo e, devagarzinho, viajar pelo Brasil. Estou bem animada com esse recomeço. Tenho recebido um carinho muito grande de meus fãs, especialmente pelo Facebook.

O que você acha dessas cantoras de gerações mais recentes, que já não atentam mais aspectos essenciais do canto, como a afinação ou a dicção? 

Rosa - Pois é, a afinação deveria vir em primeiro lugar (risos). Hoje, gravar um disco é a coisa mais fácil do mundo. Existe toda uma tecnologia para isso, que permite até afinar a voz do cantor numa gravação. Então as pessoas não estão mais preocupadas com a técnica da interpretação, com a divisão, com a respiração e a dicção. Acho que essa mudança tem uma razão cultural. Nos Estados Unidos e na Europa, as pessoas têm aulas de música desde criança, nas escolas. Aqui no Brasil não existe mais isso. Os poucos que têm acesso à formação musical devem isso a seus pais. Eu fui feliz, porque meu pai colocou aulas de música na educação que eu e meus irmãos recebemos. Aqui no Brasil, a criança, o adolescente e o jovem crescem com informação musical da pior qualidade. Só ouvem música de consumo imediato, música popularesca em excesso. Quando dou aulas ou oficinas de música, sempre ressalto o cuidado que você deve ter com a interpretação, com a respiração e a dicção. A estética da música é algo muito importante, que os professores de canto deveriam ensinar.

Você já tem planos para outro disco?  

Rosa - O próximo será uma homenagem ao Djavan, com certeza. Eu amo Djavan de paixão! Quero gravar os clássicos dele com a minha leitura. Quem sabe, ele até dá uma música inédita pra mim (risos). Estou muito feliz, porque cheguei numa fase de minha vida profissional em que me sinto realizada. Em 2008, recebi o título de doutora honoris causa da Berklee School. Já gravei com Ron Carter, gravei e viajei com Yo Yo Ma, toquei com meu amigo Paquito D’Rivera. Me sinto tranquila para poder voltar ao trabalho mais madura.

Como andam os convites para projetos no exterior?  

Rosa - Como plantei meu trabalho com muito carinho e amor, essas portas continuam abertas para mim. Recebi convite para um show com o Wynton Marsalis, em Nova York, em abril, mas não pude ir. Mesmo assim, ele me disse que podemos fazer esse show quando eu quiser. Ron Carter já demonstrou interesse em fazer outro disco comigo. Também recebi a proposta de gravar com outro músico que eu amo de paixão: o pianista Kenny Barron. Ele viria para o Brasil, gravar com músicos brasileiros, e eu seria a cantora convidada. Se isso acontecer mesmo, vou ficar muito feliz, porque ele é um dos meus pianistas preferidos. 

(entrevista publicada parcialmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", na edição de dezembro de 2011)

 

 

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