Fachada da loja Jazz Record Mart, em Chicago
Se você, como eu, passou muitas horas de sua vida vasculhando prateleiras de lojas e sebos de discos, provavelmente vai entender minha surpresa quando tentei comprar alguns lançamentos, em Chicago (EUA), na semana passada. Como aceitar que uma cidade tão importante para as histórias do jazz e do blues moderno possa hoje oferecer, praticamente, apenas uma loja com bons acervos dedicado a esses gêneros musicais?
Lembrar que Louis Armstrong realizou em Chicago, ainda na década de 1920, algumas das gravações mais influentes para a evolução do jazz, ou que foi nessa mesma cidade que Muddy Waters, Howlin’ Wolf e Sonny Boy Williamson eletrificaram o blues, só aumentou minha sensação de estranhamento.
Interior da loja Jazz Record Mart
O fato é que ao visitar a Jazz Record Mart (www.jazzmart.com), na área de River North, no centro de Chicago, com uma lista de uns dez CDs de jazz lançados nos últimos meses, sai de lá com apenas um. Obviamente, eu poderia conseguir comprar todos esses discos pela internet, depois de esperar alguns dias (semanas no Brasil), mas é lamentável perceber que o prazer de se sair de uma loja de discos, com algumas novidades na mão, tornou-se coisa do passado.
Claro que ainda vale a pena visitar a JRM, que se intitula, por sinal, “a maior loja de discos de jazz e blues do mundo”. Mesmo que seja só para encontrar um CD ou um LP menos conhecido de algum músico de jazz que você admira, um DVD que jamais chegou ao Brasil, uma revista especializada (como a “Down Beat” ou a “Jazz Wise”, cada vez mais raras em livrarias e bancas), um livro de referência ou a biografia de algum músico menos badalado.
Fachada da loja Dusty Groove, em Chicago
Se você também se interessa por outras correntes da música negra, como o soul, o funk e o R&B, uma ida à Dusty Groove (www.dustygroove.com), na área de Ukrainian Village, também é um programa essencial em Chicago. Apesar de seu nome, curiosamente, essa loja não tem nada de empoeirada, nem mesmo a relativa bagunça que se encontra no acervo da JRM. Tudo é organizado e bem cuidado, como raramente se vê em alguma loja de usados.
Além de raridades na área da black music, a Dusty Groove oferece também uma razoável seção de CDs e LPs usados de jazz, além de uma seção de música brasileira recheada de LPs raros e CDs (alguns pirateados no Japão e na Europa) que você dificilmente vai encontrar no mercado brasileiro.
Interior da loja Dusty Groove
A algumas quadras da Dusty Groove, em meio às lojinhas descoladas da Milwaukee Street, na alternativa área de Wicker Park, encontram-se outras lojas de discos usados, como a Reckless Records (www.reckless.com), que tem filiais em outras área da cidade, e a vizinha The Exchange (www.myexchangefranchise.com).
Porém, em ambas, as chances de se encontrar algo mais interessante nas prateleiras de jazz e blues são bem menores, pois, nessas lojas, o rock, o pop e a música eletrônica, reinam quase absolutos. Saí de lá, não sei porquê, com o mote de um antigo sucesso do irreverente sambista baiano Riachão na cabeça: “cada macaco no seu galho”.
Fachada da loja Reckless Records, em Chicago
Jazz, blues e soul em Chicago: enquanto as lojas de discos ainda existem
Marcadores: blues, CDs, chicago, Dusty Groove, jazz, Jazz Record Mart, lojas de discos, LPs, Reckless Records, rhythm and blues, soul, The Exchange | author: Carlos CaladoPosts Relacionados:
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2 comentários:
é uma sensação muito estranha hj em dia para conseguir ter as obras pra ouvir. comprar uma a uma na internet parece surreal e limitante. acho que esse mercado ainda não descobriu como levar até o ouvinte as novas obras compostas. beijos, pedrita
Pois é, Pedrita, sem querer ser saudosista, eu continuo a ser fã do álbum, um formato que, em minha opinião, ainda não foi superado como veiculo para se exibir canções ou composições instrumentais.
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