Benjamim Taubkin: tocando piano e atuando no mercado musical com a mente e o coração
Marcadores: benjamim Taubkin, casa do núcleo, choro, instrumental, jazz, moderna tradição, núcleo contemporâneo, orquestra popular de câmara | author: Carlos CaladoÉ muito raro encontrar um artista como ele, tão atuante e envolvido com diversos aspectos da atividade musical, no Brasil e no mundo. Pianista, compositor, arranjador, produtor, curador e agitador cultural, o paulista Benjamim Taubkin já esteve em cinco continentes, só neste ano, apresentando-se com músicos de vários países ou participando de encontros e seminários para discutir aspectos do mercado e da produção musical.
Em sua eclética discografia, Taubkin reúne projetos musicais bem diversos. Já lançou gravações instrumentais com formações variadas, dois álbuns com a original Orquestra Popular de Câmara ou ainda parcerias com grupos dedicados a gêneros musicais particulares: choro, com o regional Moderna Tradição; jazz, com o Trio +1; música folclórica, com o Núcleo de Música do Abaçaí; música latino-americana, com o coletivo América Contemporânea, que reúne músicos de vários países deste continente.
“Eu quis, simplesmente, viver da minha música. E o fato de ter iniciado esse movimento acabou me levando a percorrer o planeta e a tocar com músicos de muitos lugares do mundo”, diz o pianista, que lançou há pouco o livro “Viver da Música - Diálogos com Artistas Brasileiros” (ed. Bei, 328 págs). Nele, entrevista músicos de diversos gêneros – do multi-instrumentista Egberto Gismonti ao maestro Jamil Maluf, incluindo também músicos desconhecidos do grande público, como o mineiro Brás da Viola ou o pernambucano Guitinho.
“O desejo de fazer esse livro foi o de estimular, tanto os músicos mais jovens, como os estudantes de música”, explica Taubkin, observando que, nas conversas com parceiros de seus vários projetos, notava que todos viviam de sua arte. “É difícil você encontrar um bom músico, que não esteja vivendo de sua música. Antes era comum se dizer que você precisava ser engenheiro ou médico, para ter alguma garantia na vida, mas hoje eu vejo médicos ganharem mil reais por mês, trabalhando para seguradoras. Há muitos músicos ganhando bem mais que isso. Você pode viver de sua música sem ser uma celebridade”.
Outro projeto mais recente ao qual Taubkin tem dedicado grande parte de seu tempo, quando não está fora do país, é a Casa do Núcleo – um pequeno centro cultural e casa de espetáculos inaugurada em março, em São Paulo. O nome se refere ao Núcleo Contemporâneo, o selo de música instrumental que ele fundou e dirige desde 1997.
“Depois de tantos anos viajando, senti que precisava de um espaço para apresentar trabalhos musicais realizados na cidade, ou que estão de passagem por ela, onde a música possa ser absorvida de um jeito bacana. Também queria um lugar para seminários, oficinas e encontros”, descreve o idealizador desse projeto.
A Casa do Núcleo conta com uma sala multiuso para 70 lugares. O bar funciona separadamente e o consumo de bebidas é interrompido durante as apresentações. O local também inclui uma loja que oferece discos e livros sobre música. Outra atração permanente é o Acervo da Casa, que reúne milhares de discos e publicações internacionais, que Taubkin reuniu durante suas viagens, nas últimas décadas.
“Eu olhava para todo aquele material, guardado em minha casa, e sabia que não há tempo físico para ouvir tudo aquilo de novo. Então decidi compartilhar. Tem muita música da África, da Ásia, da Europa, da América Latina e do Brasil, que estamos acabando de catalogar. Vamos fazer visitas guiadas ao acervo. A ideia é ouvir esses discos junto com os frequentadores da Casa, tomando um copo de vinho”, conta o músico.
Ciente de que realizar esse projeto com recursos financeiros próprios e de alguns amigos envolve riscos, Taubkin explica que tomou essa decisão por não ver nos patrocínios culturais um caminho a ser seguido. “Sei que é um grande desafio. A Casa não tem patrocínio, não tem edital, vivemos de recursos próprios. Defendo muito a autonomia: a música deve estabelecer contatos com outras áreas da sociedade, mas sem dependência. Acho que, neste momento, essa questão dos patrocínios e editais está criando uma enorme dependência para os músicos”, critica.
Taubkin admite não ser fácil conjugar as funções de diretor e produtor da Casa do Núcleo com a dedicação ao piano e suas outras atividades musicais, mas não encara isso como um problema. “Acho que esse equilíbrio é dinâmico. Às vezes, por volta de 1h da manhã, após o final da programação da Casa, sento ao piano e fico tocando até às 3h. Eu tenho essa disciplina”.
E de onde vem essa vontade de se envolver com tantos aspectos da produção musical? “Para mim, isso é orgânico. Não é algo que foi pensado ou elaborado”, diz ele, relembrando que, antes mesmo de se tornar músico, já organizava shows de artistas que admirava. Tinha apenas 17 anos, em 1973, quando produziu com um amigo de colégio – o músico Lino Simão – um show do sanfoneiro Dominguinhos com o grupo Som Imaginário, no Teatro do Colégio Rio Branco, em São Paulo.
“Não tínhamos a menor noção do aspecto financeiro. Mesmo com o teatro cheio, tivemos prejuízo, mas essa experiência acendeu um desejo de seguir por aí”, conta. Um ano depois organizou uma mostra de música instrumental, no bosque do Morumbi. O sucesso desse evento o levou à coordenação de projetos musicais na Secretaria Municipal de Cultura – sua precoce iniciação na área das curadorias.
Foi também aos 18 anos, que Taubkin decidiu enfim procurar um professor de música. “Eu tinha um piano em casa, que tocava de ouvido, mas ainda nem fazia ideia de como tocar um lá menor. Ninguém quis dar aula para mim – achavam que eu já estava velho. Como senti um grande impulso para tocar, resolvi seguir sozinho. Eu tinha uma admiração pelo universo dos músicos da noite, que achava romântico, e quis viver essa fantasia”, conta o autodidata, que durante a década de 80 aprendeu o que precisava, tocando em boates e bares da noite paulistana, como a Baiuca, o Paddock, o Anexo e o Blend.
Hoje, autor de uma obra musical tão diversificada e original, marcada pelo lirismo de suas composições e pela aguda sensibilidade que seu piano evoca, o artista e curador inclui na dedicatória de seu livro um slogan que adotou como filosofia de vida: “sentir com a mente e pensar com o coração”.
(texto publicado no caderno Eu & Fim de Semana, do jornal "Valor", em 9/9/2011)
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