Bocato: trombonista quer mais experimentalismo na cena instrumental

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Na cena musical paulistana, ao se falar em trombone, o nome desse músico inquieto e criativo é quase sempre o primeiro lembrado. Aos 48 anos, Bocato já acompanhou diversos astros da MPB (de Elis Regina a Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção), liderou a Banda Metalurgia e se estabeleceu como um dos melhores instrumentistas do país.

“Gosto de todos os tipos de música, mas valorizo muito a liberdade. O que está faltando na música de hoje é experimentar, arriscar mais”, diz o trombonista e compositor, que lança amanhã, em apresentação no Sesc Avenida Paulista, seu 17º álbum.

Para criar os arranjos e gravar o CD “Hidrogênio” (selo Baratos Afins), Bocato alugou um estúdio. Passou cinco meses tocando quase diariamente com sua banda, que inclui Gileno Furtado (guitarra), Ary Holand (teclado), Crys Galante (percussão),Vitor Cabral (bateria), Rubem Faria (baixo) e Marcio Negri, saxofonista que se destaca nos improvisos.

“Prefiro escrever música a mão, porque sou analfabeto em computação”, brinca o modesto líder, formado em regência e composição. Nesse projeto, Bocato quis resgatar um pouco do saudável amadorismo dos tempos da Banda Metalurgia. “O método que usamos foi basicamente o mesmo”, diz, creditando a participação ativa dos colegas nas gravações.

As cinco composições que integram o álbum são interligadas sob a forma de suíte. A extensa faixa-título remete às experimentações eletrificadas que o jazzista Miles Davis (1926-1991) fez na década de 1970. Mais acústica, “Marina” chega a soar romântica. “Yasmin” destaca um etéreo solo de flauta.

“Alguém tem que fazer o serviço sujo”, alfineta Bocato, dizendo que a música se tornou mais conservadora, nas últimas décadas. “Até a época da bossa nova, em termos de harmonia, a música brasileira acompanhou o nível de criação no jazz, mas, a partir dos anos 70, se concentrou demais no ritmo e nas canções”, critica.

“Hidrogênio” marca a volta de Bocato ao selo independente Baratos Afins, do produtor e lojista Luiz Calanca, pelo qual já gravou seis álbuns – o anterior foi “Ladrão de Trombone” (1990). O novo CD só será vendido na loja ou pelo site www.baratosafins.com.br.

“Como dizia Einstein, não existe experiência que dá errado. Esta que fizemos já mostrou que se pode fazer música sem a preocupação de seguir um estilo ou uma tendência”, conclui o trombonista.

(entrevista publicada na “Folha de S. Paulo, em 12/01/2009)

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