50 anos de "Kind of Blue": baterista Jimmy Cobb comanda comemoração no 2º Bridgestone Music

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O músico norte-americano Jimmy Cobb, 79, tem um currículo invejável. Tocou com grandes figuras do jazz, como Dizzy Gillespie, Gil Evans e Billie Holiday, mas costuma ser mencionado como o baterista do cultuado “Kind of Blue”, álbum do trompetista Miles Davis (1926-1991) que detém o título de disco de jazz mais vendido de todos os tempos.

“Se Miles pudesse saber que ‘Kind of Blue’ se tornaria tão famoso, teria exigido ao menos uma ou duas Ferraris como adiantamento, para gravá-lo”, diz o veterano baterista, em entrevista à Folha.

Último remanescente do sexteto que gravou “Kind of Blue”, além de outros discos de Miles Davis e do saxofonista John Coltrane (1926-1967), Cobb virá a São Paulo para um concerto comemorativo dos 50 anos dessa obra-prima do jazz, na segunda edição do festival Bridgestone Music, de 14 a 16 de maio, no Citibank Hall.


Intitulado “Kind of Blue @ 50”, esse concerto já está agendado em alguns dos maiores festivais norte-americanos do gênero, como o New Orleans Jazz & Heritage (dia 3/5) e o Playboy Jazz (13/6). Clubes e festivais de jazz da Europa e do Japão também farão parte dessa turnê.

Músicos de prestígio
Cobb, que já esteve no Brasil com a cantora Sarah Vaughan, nos anos 70, terá a seu lado desta vez a So What Band. Esse sexteto destaca outros músicos de prestígio na cena do jazz: o trompetista Wallace Roney (discípulo reconhecido pelo próprio Miles Davis), Vincent Herring (sax alto), Javon Jackson (sax tenor), Larry Willis (piano) e Buster Williams (baixo).


“Tentei fazer o mesmo que Miles quando ele formava seus grupos. Reuni nesta banda alguns dos melhores músicos de jazz no momento”, diz Cobb, observando que, para escolher os parceiros, também levou em conta a afinidade que eles têm com os estilos de Cannonball Adderley, John Coltrane, Bill Evans e Paul Chambers, músicos que integravam o brilhante sexteto de Davis.


Isso não significa, observa o baterista, que ele e seus colegas de banda planejam reproduzir nota por nota as gravações das hoje clássicas composições “So What”, “Freddie Freeloader”, “Blue in Green”, “All Blues” e “Flamenco Sketches”, que integram o álbum “Kind of Blue”.


“Além de homenagear Miles, nossa intenção é trazer o espírito daquela gravação para os dias de hoje”, diz Cobb, revelando que alguns temas de outros álbuns de Davis devem entrar no repertório do concerto, mas só serão escolhidos pelo sexteto pouco antes de entrar no palco.


Confirmando o já folclórico estilo lacônico de Davis no comando de seus músicos, Cobb conta que jamais chegou a conversar propriamente com ele sobre as duas sessões de gravação de “Kind of Blue”. Mas acredita que o trompetista não tivesse alguma expectativa fora do comum em relação a elas.


Sucesso sem explicação
“Não tenho uma explicação para o imenso sucesso desse disco. Não houve qualquer planejamento, isso simplesmente aconteceu. Ao entrar no estúdio, nossa intenção era apenas fazer mais uma boa sessão de gravação com Miles”, diz Cobb, que o acompanhou regularmente entre 1958 e 1962, em gravações e shows.


Fã de Miles Davis, Toy Lima, produtor do Bridgestone Music, conta que já comprou “Kind of Blue” em diversos formatos, do original LP de vinil até uma edição especial em CD banhado a ouro, lançada nos anos 90. E diz que decidiu trazer Jimmy Cobb e seu concerto-tributo para o festival estimulado pela aura mítica que cerca esse disco até hoje.


“Esse álbum é reconhecido, cinco décadas após a sua gravação, como o ápice do jazz moderno. E não é só quem gosta de jazz que fica contaminado pela introdução etérea de ‘So What’, por exemplo. Como escreveu Ashley Kahn, em seu livro sobre ‘Kind of Blue’, essa música tem o poder de silenciar tudo”, diz o produtor paulista.


(entrevista publicada na “Folha de S. Paulo”, em 7/01/2009)

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