Dona Ivone Lara: um tributo à pioneira compositora por astros do samba e da MPB

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Sambista e compositora pioneira, em um universo dominado pelos homens, Dona Ivone Lara foi a primeira mulher a frequentar a tradicional ala de compositores da escola Império Serrano, cinquenta anos atrás. Numa época em que a presença feminina nas escolas de samba era ainda restrita às panelas da cozinha ou aos coros, Dona Ivone foi parceira de Silas de Oliveira e Bacalhau, na autoria do belo samba-enredo “Os Cinco Bailes da História do Rio”, no carnaval de 1965.

Hoje, aos 94 anos, considerada por muitos a principal figura feminina na história do samba, a carioca do bairro de Botafogo é também a primeira mulher homenageada pelo projeto “Sambabook” (lançamento do selo Musickeria), que veicula sua obra em dois CDs, DVD, blu-ray, um especial de TV e um livro biográfico assinado pelo jornalista Lucas Nóbile, entre outras mídias.

Os dois CDs somam um total de 26 faixas. Trazem os sucessos e sambas menos conhecidos de Dona Ivone, nas vozes de astros da MPB e do samba, como Maria Bethânia (“Sonho Meu”), Martinho da Vila (“Andei pra Curimá”) e Caetano Veloso (“Alguém me Avisou”). Não faltam também intérpretes da nova geração do gênero, como a baiana Mariene de Castro (“Sorriso de Criança”) e a mineira Aline Calixto (“Não Chora, Neném”).

O tom reverente das interpretações e arranjos é compreensível, num tributo como esse. A opção por utilizar a mesma banda e o mesmo coro para acompanhar todos os cantores garante a uniformidade das gravações. Mesmo assim, algumas interpretações se destacam, como o emotivo duo da cantora portuguesa Carminho com o bandolinista Hamilton de Holanda (em “Nasci pra Sonhar e Cantar”) ou a festiva performance do Jongo da Serrinha (“Axé de Ianga”).

Com as mesmas faixas dos CDs, o DVD inclui um extenso “making of” das gravações, que reúne depoimentos dos intérpretes e da própria Dona Ivone. “Jamais pensei que, antes de morrer, tivesse essa alegria”, diz a homenageada, abrindo um sorriso. 


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 26/9/2015)






Samba-jazz: projeto reúne veteranos e novos adeptos do gênero em São Paulo

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Vertente instrumental da bossa nova, que ainda segue conquistando novos adeptos e fãs meio século após sua criação, o samba-jazz será ouvido e analisado durante as próximas semanas, em São Paulo. O projeto “Samba Jazz + 50” vai reunir músicos de diversas gerações, para shows e bate-papos, de 15/10 (quinta) a 1º/11, no Sesc Campo Limpo.

Conceituados instrumentistas do gênero, como o percussionista João Parahyba e os pianistas Amilton Godoy (ex-Zimbo Trio) e Laércio de Freitas, destacam-se na programação de shows, ao lado de músicos mais jovens que, nos últimos anos, têm se dedicado a atualizar a linguagem do samba-jazz, como o contrabaixista Marcos Paiva e o trombonista Jorginho Neto, além da big band Projeto Coisa Fina.  


Outro destaque na programação do evento é o show “Samba Jazz: a Origem” (no dia 1º/11, domingo), com o reencontro de cinco veteranos músicos que contribuíram para a gênese do samba-jazz, em boates e estúdios de gravação, na década de 1960. São eles os saxofonistas Hector Costita e Carlos Alberto Alcântara, o contrabaixista Gabriel Bahlis, o pianista Luiz Mello e o baterista Zinho. 

Idealizado pelo músico e jornalista Fernando Lichti Barros (autor dos livros “Casé: Como toca esse rapaz!” e “Do Calypso ao Cha-cha-chá: Músicos em São Paulo na Década de 60”), o projeto inclui também quatro didáticos bate-papos conduzidos por Barros e pelo baixista e arranjador Marcos Paiva, que vão utilizar gravações originais para transmitir à plateia um pouco da história e da linguagem musical do samba-jazz. Detalhe importante: todos os eventos do projeto são gratuitos. Confira a programação completa no site do SESC SP: http://www.sescsp.org.br/programacao/68355_SAMBAJAZZ+50#/content=programacao 








André Abujamra: compositor reflete sobre a condição humana sem cair no pessimismo

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Nos anos 1980, quando criou com Maurício Pereira a carismática dupla Os Mulheres Negras, André Abujamra já mostrava que a diversidade de influências musicais e o humor eram essenciais em suas composições. Esses elementos continuam marcantes em “O Homem Bruxa”, seu quarto álbum solo (edição independente), mas o que chama atenção especial agora é o tom humanista de suas letras.

Miséria, drogas, preconceitos, envelhecimento e morte são temas presentes em canções do álbum, como a faixa-título, levada em ritmo afro-cubano, o rap “Mendigo” ou a filosofante “Espelho do Tempo”, que traz uma aparição vocal do
diretor de teatro, ator e pai de André, Antonio Abujamra. 

O fascínio pela tecnologia, que já era evidente nos Mulheres Negras, também está presente na cinematográfica “Segredos da Levitação” e na eletrônica “3 Homens, 3 Celulares” (de Maurício Pereira). Ao completar 50 anos, André Abujamra reflete sobre a condição humana, sem cair no pessimismo, com o humor e a visão criativa que o identificam como artista. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 26/9/2015)




 

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