3º BMW Jazz Festival: Pat Metheny traz banda de feras, mas ainda insiste nos robôs

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                         Pat Metheny, Chris Potter e Antônio Sanchez, no show do BMW Jazz Festival

Os fãs de Pat Metheny, que se assustaram ou até se decepcionaram ao ouvi-lo tocar com uma orquestra de instrumentos robotizados, no insólito álbum “The Orchestrion Project”, já podem ficar mais tranquilos. Na abertura do 3º BMW Jazz Festival, ontem, em São Paulo, o guitarrista norte-americano demonstrou que não enlouqueceu: voltou a tocar com músicos de verdade.

São eles Chris Potter (saxofones e clarone), Antonio Sanchez (bateria) e Ben Williams (baixo acústico). Aliás, excelentes instrumentistas e conceituadas feras do jazz, que Metheny apresentou à plateia do HSBC Brasil, enfaticamente, como “três dos melhores músicos do planeta”. Seria um disfarçado “mea culpa”?

Metheny abriu o show sozinho, na penumbra, extraindo da guitarra sintetizada timbres de cítara e harpa. Assim introduziu sua composição “Come and See”, cujo arranjo destaca a rara e grave sonoridade do clarone de Chris Potter, que, pouco depois, também fez seu sax soprano soar quase como um oboé.

Para tocar a bela “New Year”, Metheny trocou a guitarra pelo violão. Ao ouvi-la, quem se lembrou do lirismo e das sofisticadas harmonias do violonista e compositor mineiro Toninho Horta, um dos expoentes do Clube da Esquina, sabe que não se trata de mera coincidência – foi influência direta mesmo.

Relativamente generoso, entre um e outro de seus longos improvisos, o líder da Unity Band abriu espaço para solos de Potter, um assertivo e sanguíneo improvisador, ou de Sanchez, músico capaz de desenvolver criativos solos de bateria, recheados de nuances rítmicas e dinâmicas.

Porém, depois de cerca de 1h15 de música, veio a surpresa: o palco se iluminou, revelando alguns dos instrumentos robotizados que Metheny utilizou em suas gravações com a orquestra mecânica. Felizmente, a “ego trip” do norte-americano durou menos nesse show: apenas alguns minutos, incluindo a participação ativa de seus parceiros de carne e osso.

Não faltou também uma previsível homenagem à música brasileira, por meio de “Insensatez” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), em uma releitura bem livre e jazzística, sem, no entanto, a leveza que caracteriza a bossa nova.

Um bom show, que deixa uma dúvida: será que Metheny vai insistir e também levar seus gélidos robôs aos shows deste sábado, no clube Bourbon Street, ou domingo, no parque do Ibirapuera? Ou ele vai enfim perceber que lugar de robô é em filme de ficção científica?



(crítica publicada na versão eletrônica da "Folha de S. Paulo", em 7/06/2013)



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