Sesc Jazz: trombonista Allan Abbadia cria encontro de John Coltrane e Moacir Santos

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                              O trombonista Allan Abbadia e seus parceiros, no festival Sesc Jazz 

O trombonista e arranjador paulistano Allan Abbadia teve uma ideia inusitada, quando ainda era estudante de música: criou uma espécie de diálogo musical entre dois cultuados discos lançados no mesmo ano de 1965. Um dos álbuns de jazz mais admirados mundialmente, “A Love Supreme” é uma emocionante suíte jazzística em quatro partes, composta e interpretada pelo saxofonista norte-americano John Coltrane (1926-1967), que soa como um testemunho de sua jornada espiritual, assim como uma declaração de sua gratidão a Deus.


“Coisas”, do compositor e saxofonista pernambucano Moacir Santos (1926-2006), que viveu a segunda metade de sua vida nos Estados Unidos, é considerado um marco na história da música instrumental brasileira. Primeiro disco assinado por Moacir, esse álbum reúne composições de sua autoria, recheadas de referências afro-brasileiras e elementos da música erudita. Chamadas de “Coisa” por ele, as dez peças são identificadas por números de 1 a 10.

O antigo projeto de Abbadia resultou agora em um excitante show ao ar livre, “Coisas Supremas”, apresentado na tarde do último domingo (26/10), no Sesc Pompeia, em meio à programação do festival Sesc Jazz, em São Paulo. Ao lado de talentosos músicos de nossa cena instrumental, como o pianista Fábio Leandro, o trompetista Allyson Bruno e o saxofonista Silas Prado, Abbadia exibiu seus arranjos de algumas “Coisas” de Moacir e de seções da suíte de Coltrane, que ganhou uma sonoridade mais brasileira. No naipe de sopros da banda também estava a flautista carioca Andrea Ernest Dias, especialista na obra de Moacir Santos.

Foi só ao final do show que Abbadia apresentou a obra que deflagrou esse corajoso projeto: uma suíte criada quase duas décadas atrás, que mistura trechos das composições de Coltrane e Moacir, extraídos dos dois citados álbuns. Tomara que algum selo fonográfico (quem sabe o próprio Selo Sesc) tome a iniciativa de transformar esse projeto tão inspirador em um disco. Já que esses grandes mestres da música do século 20 não chegaram a se conhecer pessoalmente, esse disco seria uma maneira de realizar esse incrível encontro musical, que alegraria muitos fãs e admiradores.


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