Wynton Marsalis: um ensaio aberto da Jazz at Lincoln Center Orchestra em São Paulo

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                                    Wynton Marsalis (ao centro, no fundo) e a Jazz at Lincoln Center Orchestra   

A longa fila em frente ao prédio do Sesc Consolação, em São Paulo, indicava a importância do evento. Com um ensaio aberto ao público da Jazz at Lincoln Center Orchestra (JLCO), liderada pelo conceituado trompetista e educador musical Wynton Marsalis, começou na tarde de ontem (19/6) a extensa programação do projeto que trouxe essa orquestra nova-iorquina de jazz à capital paulista para compartilhar seus conhecimentos. 

Oito unidades do Sesc (três delas na área periférica da cidade) vão sediar durante 12 dias uma série de concertos, ensaios abertos, workshops, palestras e uma jam session. A maratona de eventos termina no dia 30/6 com um concerto gratuito da orquestra no Sesc Parque Dom Pedro II, incluindo participações de Hamilton de Holanda (bandolim), Nailor Proveta (clarinete e saxofones), Daniel D’Alcântara (trompete) e Ari Colares (percussão).  

Apreciadores desse gênero musical, estudantes de música e até alguns instrumentistas profissionais disputaram os ingressos gratuitos para o ensaio de ontem. Quem conseguiu entrar no teatro ouviu uma prévia do repertório que a orquestra nova-iorquina vai tocar por aqui, viu como Marsalis conduz um ensaio e até o ouviu destrinchar e burilar no trompete algumas frases de “Jump Did-Le-Ba”, encrencada composição de Dizzy Gillespie (1917-1993), mestre do bebop. 

Boa parte da plateia vibrou ao ouvir o líder da JLCO anunciar a primeira música do ensaio: “África”, de John Coltrane (1926-1967), que ganhou um arranjo delicado, com solos do percussionista Ari Colares e da saxofonista Camille Thurman. Também uma talentosa vocalista, Camille, que está há poucos meses na orquestra, dividiu com o trombonista Chris Crenshaw os divertidos vocais em “scat” (maneira de cantar sem palavras, utilizando a voz como instrumento), na citada composição de Gillespie.  

Antes de a orquestra tocar “Coisa n.º 2”, de Moacir Santos (1926-2006), Marsalis (na foto ao lado) pediu a Nailor Proveta que falasse à plateia sobre a obra musical do grande compositor e maestro pernambucano. Vale lembrar que Moacir morou nos Estados Unidos por cerca de quatro décadas e só foi homenageado e aplaudido por plateias brasileiras, como merecia, já em seus últimos anos de vida. 

Bastante aplaudido também foi o solo de trompete de Daniel D’Alcântara, em “Epistrophy”, um dos temas mais conhecidos do originalíssimo compositor e pianista Thelonious Monk (1917-1982).  O arranjo assinado pelo trombonista Chris Crenshaw é bem mais suingado do que as versões gravadas por esse pioneiro do jazz moderno. 
  
Já ao anunciar “Brasilliance”, seção da “Latin American Suite”, de Duke Ellington (1899-1974), Marsalis foi logo avisando à plateia que essa composição não se baseia, essencialmente, na música brasileira. O que não impediu Proveta de inflamar a plateia com seu solo, ao citar “Lamento Sertanejo” (de Dominguinhos), em um frenético ritmo de baião puxado pela percussão de Colares. 

A programação de Wynton Marsalis e JLCO prossegue hoje (20/6), com o concerto gratuito “Vozes Visionárias: Mestres do Jazz”, às 17h, no Sesc Campo Limpo. Mais informações sobre outras apresentações e atividades desse projeto no site do SESC SP.


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