“Tem muita gente por aí tocando um blues artificial, eletrônico, que não passa de rock-blues. Graças a deus, sou um dos últimos músicos ainda vivos que tocam blues de verdade”, provoca King. Em sua banda, o veterano bluesman trará “Wacko” Wade Wright (bateria), Anton “Skeet” Anderson (baixo) e Bobby Ditullo (gaita), que o acompanham desde os anos 1990.
King (na foto acima) é um sobrevivente, não apenas por se dedicar ao blues tradicional até hoje. Conta que se não tivesse parado de beber em doses industriais, por volta de 1989, o alcoolismo já o teria matado, provavelmente. Também conseguiu sobreviver a um casamento conflituoso: chegou a ser esfaqueado e baleado pela esposa.
Fread Eugene Martin (seu nome verdadeiro) nasceu em McComb, no Mississipi, a poucos metros da casa de Bo Diddley, o guitarrista e pioneiro do rock’n’roll. Ser filho do bluesman Jessie James Martin não facilitou a vida do garoto, quando decidiu seguir a mesma carreira. Sem dinheiro, fez sua primeira guitarra com uma caixa de charutos e cordas de crina de cavalo.
“Meu pai me ensinou os três acordes básicos, mas disse que eu tinha que aprender sozinho mesmo”, relembra. Aos 17 anos, mudou-se para Nova Orleans. Até começar a ganhar algum dinheiro com a música encarou vários bicos: carregou bananas no porto, reparou telhados de casas, consertou televisões e motores.
Embora seu estilo lembre mais o de seu primo Lightnin’ Hopkins (uma de suas maiores influências musicais, ao lado de John Lee Hooker e Muddy Waters), já nos anos 1960 assumiu o pseudônimo que se refere ao bluesman texano Freddie King (1934-1976). Os dois chegaram a tocar juntos algumas vezes.
“As pessoas diziam que o meu som era parecido com o dele. Não me incomodei quando começaram a me chamar de Little Freddie King (Pequeno Freddie King)”, diz o veterano guitarrista.
Hoje ele conta, com orgulho, que já se apresentou 45 vezes no Jazz & Heritage Festival de Nova Orleans, um dos maiores eventos do gênero no mundo. E neste ano também foi homenageado pelo French Quarter Festival, outro grande evento musical da cidade, que usou a imagem de King para ilustrar seu pôster oficial.
“Adoro tocar em festivais. Fico feliz ao ver tanta gente reunida para ouvir blues. Os jovens gostam de blues porque sabem que essa é uma música que sai direto do coração”, conclui o veterano bluesman.
DESTAQUES DO FESTIVAL
Outras quatro atrações se destacam na 13ª edição do Bourbon Street Fest. Ainda inédita em palcos brasileiros, a cultuada banda Galactic tem 21 anos de estrada e costuma atrair multidões aos festivais que frequenta. Seu funk mistura influências de jazz, soul, rock e hip hop. Vocalista atual da banda, Erica Falls (na foto abaixo) já é conhecida há anos entre os frequentadores do Bourbon Street Music Club, em São Paulo.
Revelação da cena musical de Nova Orleans, o trompetista e cantor Leon “Kid Chocolate” Brown tem mostrado seu talento tocando jazz moderno e tradicional. Aqui vai homenagear o mestre Louis Armstrong, um dos grandes pioneiros do jazz.
Especialista em zydeco (gênero musical da Louisiana, centrado no acordeom, que lembra o nosso forró), o cantor e sanfoneiro Dwayne Dopsie faz suas plateias dançarem com uma música energética, recheada de R&B, reggae, funk e pop.
Já a banda Lost Bayou Ramblers cultiva a tradicional música cajun da Louisiana, que é cantada em francês e tocada com instrumentos acústicos, como a rabeca, o acordeom e o contrabaixo. Com o tempo assimilou também influências do rockabilly e do rock.
Além dos shows gratuitos no parque do Ibirapuera (dias 23 e 30/8), durante a semana o Bourbon Street Fest também oferece apresentações de todos esses artistas no Bourbon Street Music Club, de 25 a 29/8.
Mais informações no site do evento: www.bourbonstreetfest.com.br
(Texto publicado parcialmente na "Folha de S. Paulo", em 22/8/2015)
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