A cantora norte-americana Dianne Reeves
Muita gente pensa que os grandes festivais de música ao ar
livre surgiram na segunda metade da década de 1960, época em que a geração
hippie sonhava com uma sociedade libertária e naturalista, em um mundo mais
pacífico. Impulsionados pelo carisma de ídolos do rock e da música negra
daquele período, como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Otis Redding, festivais nos
Estados Unidos, como o Monterey Pop (em 1967) e Woodstock (1969), difundiram essa
impressão errônea.
O pioneirismo nesse setor do showbiz pertence, de fato, ao
Newport Jazz Festival, hoje chamado de “avô dos festivais de música”. Esse
evento comemorou 70 anos em julho último, em Rhode Island, com uma edição
recheada de craques do gênero. Seu fundador, o pianista e produtor George Wein
(1925-2021) também foi responsável pela criação de outros eventos similares, como o New
Orleans Jazz & Heritage, megafestival que segue firme em sua trajetória de
54 anos, na Louisiana. Na edição deste ano, sua atração principal foi simplesmente
a banda inglesa The Rolling Stones.
Quem quiser conferir as credenciais do veterano Newport
Jazz vai se surpreender ao assistir ao clássico documentário “Jazz on a
Summer’s Day” (de Bert Stern e Aram Avakian, disponível no YouTube). Cenas filmadas
durante a edição de 1958 desse festival captam com requinte a descontração e as
reações dos fãs na plateia, em meio a brilhantes performances de Thelonious
Monk, Anita O’Day, Louis Armstrong e Gerry Mulligan, entre outros.
Passadas sete décadas, hoje os festivais de jazz são
realizados nos mais diversos cantos do mundo. Para atender seu público, que pode
reunir diversas faixas etárias, os organizadores sabem que já não é suficiente oferecer
apenas boa música. Muitos frequentadores valorizam a possibilidade de tomar um
drinque e se alimentar bem, em meio à maratona musical, ou mesmo dispor de locais
agradáveis para relaxar ou se refrescar entre um show e outro.
Um festival diferente de seus pares
A preocupação com o conforto da plateia também está na
lista de itens essenciais do São Paulo Jazz Weekend, festival que realiza sua
primeira edição nos dias 28 e 29/09 (sábado e domingo), na área externa do
Memorial da América Latina. Mas o que mais chama atenção é o seu menu musical,
que combina diversos estilos de jazz, bossa nova, choro e muita música
instrumental brasileira. Em outras palavras, um festival diferente de quase
todos por aí: sem rap, rock, metal, funk carioca ou música sertaneja, em seus dois
palcos.
“Nosso objetivo maior é fomentar o mercado”, afirma a produtora Giselle Ventura, que assina a direção do evento com o músico Thiago Espírito Santo. “A gente cria uma oportunidade para um público que virá ao Memorial por causa dos shows de Dianne Reeves, do Shai Maestro Trio ou de Seu Jorge & Daniel Jobim. Ali esse público vai encontrar um leque de sons e músicos jovens que ainda não conhece”, diz ela.
O nome do “bruxo” Hermeto Pascoal chegou a ser anunciado para
o primeiro dia do festival, mas seu show foi cancelado porque ele terá que
passar por uma intervenção cirúrgica. “Isso pegou a gente de surpresa. Não é
fácil substituir um músico como o Hermeto, porque muita gente vai ao festival na
expectativa de assistir ao show dele”, admite Thiago. A solução foi convidar
Yamandu Costa, que estará de passagem pelo Brasil. O conceituado violonista
gaúcho, que hoje vive em Portugal, terá a seu lado dois antigos parceiros: o
baterista Edu Ribeiro e o próprio Thiago, no baixo.
O diretor do Jazz Weekend conta que o projeto do novo
festival já existe há oito anos, mas ainda não tinha saído do papel por falta
de patrocínio. “Em 2020 quase deu certo, mas aí veio a pandemia”, relembra
Thiago. “São poucos os festivais que se arriscam a mexer com música
instrumental”, comenta, observando que após o longevo Free Jazz Festival (realizado
de 1985 a 2001), quase todos os eventos do gênero no Brasil se tornaram
“abrangentes”. Em outras palavras, exageram nas doses de música pop e derivados.
Conforto para a plateia
Além da programação musical de alta qualidade, Thiago
destaca também a estrutura do Jazz Weekend, criada para que a plateia se sinta
confortável ao encarar a maratona de shows. “Eu não posso fazer um festival com
10 horas de duração e oferecer banheiros químicos. Então teremos uma estrutura
com 98 cabines de banheiros de louça, com pia e espelho. Já na área de
alimentação, mesas de piquenique vão permitir que as pessoas possam se sentar para
comer”.
Diferentemente de outros festivais com mais de um palco, o evento
não vai programar shows simultâneos – livrando assim os frequentadores de serem
obrigados a escolher entre um show ou outro. As apresentações no Palco Laércio
de Freitas (homenagem ao pianista e compositor paulista, que morreu em julho) vão
durar de 40 a 60 minutos.
Programação
Sábado (28/9)
Roda de Choro (às 11h10), Irmãos e Brothers (às 12h25), Carol Panesi (às 13h40), Henrique Mota (às 14h55), Amaro Freitas (às 16h10), Scott Kinsey Group (às 17h40), Yamandu Costa Trio (às 19h10) e Dianne Reeves (às 20h30).
Domingo (29/9)
Morgana Moreno e Marcelo Rosário (às 11h15), Dani e Débora Gurgel Big Band (às 12h30), Octeta (às 14h), Brazú Quintê (às 15h05), Salomão Soares e Guegué Medeiros (às 16h15), Shai Maestro Trio (às 19h), Seu Jorge e Daniel Jobim (às 20h30).
Ingressos e horários
Abertura dos portões: dia 28, às 11h; dia 29, às 11h
Onde: Memorial da América Latina - Acesso para o público pelo Portão 2, na Rua Tagipuru.
Ingressos: R$ 85,00
Onde comprar: https://spjw.byinti.com/#/event/UtXz3Q4u0vYLlfI3Cvrw
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