Jazzmeia Horn: cantora e compositora é herdeira de grandes vozes do jazz

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                                               A vocalista Jazzmeia Horn - Foto de Jacob Blickenstaff/Divulgação  

Os apreciadores do jazz ainda não tinham visto e ouvido, nesta década, uma vocalista jovem tão surpreendente e bem-dotada como ela. Depois de vencer a competição do conceituado Instituto Thelonious Monk, em 2015, a cantora Jazzmeia Horn vem excitando plateias com seus improvisos vocais. Na próxima semana, fará suas primeiras apresentações no Brasil: dia 10 (quinta), no Teatro Bradesco, em São Paulo; e dia 11 (sexta), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

“Penso que estou dando continuidade a um legado, a uma tradição familiar”, diz a vocalista e compositora de 28 anos, que cresceu em uma igreja batista de Dallas, no Texas, cujo pastor era seu avô. Jazzmeia acredita que a avó, organista, lhe transmitiu o dom musical ao sugerir seu inusitado nome de batismo. Embora adorasse jazz e blues, a avó não pôde se dedicar à música não religiosa por ser a primeira dama da igreja.

Foi só na adolescência que Jazzmeia descobriu e se envolveu com o jazz. “Eu pensava que o jazz era música de gente velha, porque os jovens que eu conhecia só ouviam hip hop e r&b. Isso aconteceu porque as rádios americanas, com exceção de poucas emissoras especializadas, deixaram de tocar jazz. Se não tivessem discos de jazz nas casas de suas famílias, os jovens de minha geração não podiam ouvir jazz”.

Jazzmeia tinha 14 anos, quando recebeu de um professor um CD com gravações de diversos cantores e músicos de jazz. Fascinada pelos sofisticados vocais de Sarah Vaughan (1924-1990), passou meses ouvindo os discos dessa grande intérprete, para reproduzir seu “scat singing” (maneira improvisada de cantar, usando sílabas sem sentido). Com o tempo percebeu que ouvir solos de instrumentistas também poderia inspirá-la no desenvolvimento de seu próprio estilo vocal.

“Gosto de saxofonistas, mas tenho uma coisa especial com os trompetistas”, brinca a cantora, ao explicar que sua afinidade musical com o trompete tem a ver com o timbre e a sonoridade desse instrumento, além da extensão melódica. “Para mim é bem mais fácil cantar as mesmas notas de um trompete do que, por exemplo, cantar as notas de um saxofone. Além disso, adoro a liberdade e a fluidez que o trompete oferece para se improvisar”, afirma.

Depois da obsessão inicial por Sarah Vaughan, Jazzmeia ampliou suas paixões e referências vocais. Em seus dois álbuns, “Social Call” (2017) e o recém-lançado “Love and Liberation”, não é difícil perceber influências de outras grandes cantoras do gênero no passado, como Betty Carter, Ella Fitzgerald e Abbey Lincoln. Outra marcante influência vem de Rachelle Ferrell, cantora de jazz e R&B com um estilo vocal bastante original, que Jazzmeia não esconde ser a sua favorita.

“Quando a ouvi cantar pela primeira vez, fiquei chocada. Não só pela habilidade dela ao fazer tudo que consegue fazer com a voz, mas também pelo uso do corpo. Adoro sua presença no palco, a intimidade que ela estabelece com a plateia e a maneira como se comunica com seus músicos. Tudo isso em um pacote completo. Uma pena que Rachelle não tenha recebido todo o reconhecimento que merece. Ela me inspirou tremendamente”, afirma.

O repertório de Jazzmeia não se limita ao material mais clássico do jazz. Além de eventuais composições próprias, ela combina releituras bem pessoais de standards, como “East of the Sun (West of the Moon)” ou “I Remember You”, com pérolas de grandes jazzistas, como “Tight” (Betty Carter), “Moanin’” (Bobby Timmons) e “Afro Blue” (Mongo Santamaria). Ou ainda versões de sucessos da soul music e do r&b, como “People Make The World Go Round” (do grupo vocal Stylistics) ou “I’m Going Down” (da cantora Mary J. Blige).

“Quando seleciono uma canção, o que mais me atrai de imediato é o ‘feeling’ (sentimento). Nada a ver com os versos, nada a ver com a melodia, mas principalmente com o que eu sinto ao ouvi-la”, diz a cantora, justificando suas escolhas. “Se a canção me dá vontade de dançar, se ela é positiva ou transmite felicidade, é bem provável que eu a escolha na hora, mas isso varia. Às vezes alguma coisa especial na letra de uma canção também pode me estimular a cantá-la”.

Dizendo-se “muito feliz” por ter sua primeira oportunidade de conhecer o Brasil, ela surpreende ao revelar que pratica capoeira, além de ter feito parte de um grupo de maracatu durante três anos, no descolado bairro do Brooklyn, em Nova York. “Essa viagem é muito importante para mim, porque vou poder conhecer melhor a capoeira e o maracatu no lugar onde nasceram”, festeja a cantora, que já reservou alguns dias para conhecer a Bahia.

Jazzmeia Horn
Dia 10/10 (quinta), às 21h, no Teatro Bradesco, em São Paulo. Ingressos de R$ 50 a R$ 260
Dia 11/10 (sexta), às 20h, no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro. Ingressos de R$ 80 a R$180

(Texto publicado no caderno cultural do jornal "Valor", em 4/10/2019)



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