Primeiro, o show do Meretrio, original grupo instrumental
paulista que vem criando há 14 anos um repertório bem pessoal e diversificado.
Depois, a apresentação da talentosa multi-instrumentista e compositora carioca
Carol Panesi, que lançou há pouco seu disco de estreia, “Primeiras Impressões”.
Dois shows bem diferentes, mas igualmente saborosos,
compuseram a segunda noite do Sampa Jazz Fest, na sexta-feira (21/9), em São
Paulo. Sentada confortavelmente nas poltronas de uma das salas de cinema do
Espaço Itaú, a plateia que se arriscou a ouvir atrações musicais ainda pouco
conhecidas foi premiada com boas surpresas.
Emiliano Sampaio -- o líder, guitarrista e trombonista do Meretrio,
que vive desde 2012 na Áustria, onde prepara seu doutorado em Composição para
Orquestra Sinfônica -- não escondia sua satisfação por poder exibir sua música, novamente,
na capital paulista. A seu lado estavam
os mesmos Gustavo Boni (baixo) e Luís André Gigante (bateria), cuja parceria de
quase uma década e meia faz muita diferença.
Como um bem-humorado cicerone, Emiliano (na foto ao lado) logo conquistou a
plateia ao apresentar algumas de suas composições. Provocou sorrisos ao revelar
que a lírica “O Casamento” nasceu após um sonho, no qual se viu casando a
contragosto. Já ao introduzir a experimental “The Answer”, contou que a criou depois
de ouvir uma composição do guitarrista britânico Fred Frith. “Eu adoraria ter
composto aquela música. Então decidi fazer uma resposta a ela”, explicou.
Em meio a influências bem diversas, que vão do rock e da
música pop ao blues e ao funk, o trio paulista não deixou de incluir dois arranjos
de clássicos da música brasileira, que fazem parte de seu repertório há muito
tempo: uma descontraída releitura do choro “Lamentos” (de Pixinguinha) e um
arranjo bem livre de “Tico-tico no Fubá” (Zequinha de Abreu), com mudanças de
andamento e improvisos de Emiliano e Gustavo.
Já o repertório autoral de Carol Panesi é todo ele calcado
na rica diversidade da música brasileira: do sacudido “Forró do Marajó” ao samba
“No Balanço da Léa” (dedicado à compositora e flautista paulistana Léa Freire),
passando pelo nervoso choro “Ansiosa”, entre outras composições. No trio que a acompanha, destaque para o baixo de Jackson Silva e a bateria de Guegué Medeiros, também presentes em seu disco.
Não foi à toa que, durante o show, Carol agradeceu ao
mestre Hermeto Pascoal, assim como ao baixista Itiberê Zwarg, seu mentor e
parceiro na Itiberê Orquestra Família por mais de uma década. Suas composições têm
personalidade, mas é fácil perceber nelas a influência da inventiva “música
universal” de Hermeto.
Já quase ao final da noite, a violinista, trompetista e
vocalista tentou explicar, sem ser explícita, o vínculo de sua composição “A
Cara Dela” com temas que têm mobilizado as mulheres, ultimamente. Mais incisiva,
uma garota resumiu o assunto, ao gritar da plateia: “ele não!” (a palavra de ordem que vem sendo repetida
por milhões de mulheres contra um inominável candidato à presidência do país,
que já as ofendeu várias vezes).
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