Mauricio Pereira: músico oferece poesia e graça no álbum "Outono no Sudeste"

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                                                                                   Mauricio Pereira e seus filhos Manu e Chico 

Ontem, durante o show de Mauricio Pereira, no Sesc Pompeia (em São Paulo), fiquei pensando que esse versátil cantor, compositor, letrista e saxofonista também seria capaz de protagonizar um show de comédia stand-up. Como os melhores artistas dessa modalidade de humor, Mauricio tem uma facilidade natural para extrair graça e poesia de situações corriqueiras, das pequenas coisas do cotidiano.   

Essa habilidade também transparece em várias canções de “Outono no Sudeste”, seu novo álbum -- produzido por Gustavo Ruiz e disponível em CD e nas plataformas digitais. A bela e melancólica canção que empresta título ao disco (parceria com Daniel Szafran) destaca nos versos um daqueles achados característicos da poética agridoce desse “cantautor” paulistano: “O ar tá particularmente imundo hoje / E isso deixa o pôr do sol ainda mais bonito”. 

Melancolia e lirismo também se misturam em “A Mais (Rubião Blues)”, canção feita em parceria com Dr. Morris, que mimetiza os altos e baixos de uma paixão. Conforme a canção avança, os versos deixam de encaixar na melodia e o canto se aproxima da fala –- outra sacada de compositor sensível.

Como outras canções de Mauricio, “Mulheres de Bengalas” (parceria com Lu Horta) e “Piquenique no Horto” (com Daniell Galli e Felipe Trielli), desta nova safra, também trazem referências diretas a São Paulo: rua Augusta, Consolação, o Horto Florestal. Jornalista que também é, o compositor se aproxima nessas canções da abordagem narrativa de um cronista.

Com um arranjo delicioso, cheio de suingue, “Quatro Dois Quatro” (parceria com Tonho Penhasco) traz outra letra brilhante, que mergulha no universo do futebol para filosofar: “Lá atrás / o goleiro faz / o sinal da cruz / e isso é o princípio de tudo / achar a graça é a nossa missão”, diz o refrão, repetido no show de ontem como um mantra.

Para quem, como eu, conheceu Mauricio Pereira ainda nos anos 1980, quando formou com André Abujamra a irresistível dupla Os Mulheres Negras, ver esses dois parceiros lançarem, num mesmo ano, discos tão inspirados como “Outono no Sudeste” e o ambicioso “Omindá” (de Abujamra) tem um sabor muito especial.
  



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