Se o bem escolhido show de André Mehmari e Danilo Brito servir de modelo ou prévia de sua programação, o Centro Cultural da Música Instrumental (inaugurado ontem, em São Paulo) já pode se considerar um sucesso. Vários detalhes ainda precisam ser melhorados ou finalizados no projeto, que combina dois espaços para shows e um futuro restaurante, mas os convidados que lotaram a Sala do Autor devem ter saído com a sensação de ter presenciado uma estreia bastante promissora.
Por quase duas horas, o duo do pianista com o bandolinista – formado há poucos meses e ainda nem registrado em disco – deliciou a plateia com uma seleção de clássicos da música instrumental brasileira, como os choros “Três Estrelinhas” (de Anacleto Medeiros”) e “Floraux” (Ernesto Nazareth), o maxixe “Bordões ao Luar” (Tia Amélia) e a valsa “Terna Saudade” (outra de Anacleto Medeiros).
Músicos de personalidades e formações diferentes, o eclético André e o chorão convicto Danilo se completam muito bem nesse duo. Até nas releituras mais livres de alguns choros, como “Cochichando” e “Ingênuo” (ambos de Pixinguinha), Danilo dedilha seu bandolim, mantendo ao menos um dos pés no chão. Já André parece sempre disposto a voar mais e mais nas variações melódicas e nos inusitados improvisos.
Bem humorados, os dois também se divertem contando causos ao introduzir as músicas e os autores do repertório. E não bastasse a hilariante releitura do choro “Tenebroso” (Ernesto Nazareth), cheia de efeitos dramáticos, já quase ao final da apresentação a dupla surpreende a plateia com um inesperado duo de bandolins.
E não é que ainda viria mais uma surpresa? Quando alguns já se preparavam para levantar, André anunciou a bela e quase inédita valsa-choro “Impermanências” (veja vídeo abaixo), que compôs em homenagem ao pai de Danilo, morto meses atrás justamente no dia de um show da dupla. Que noite!
Mais um detalhe. Não pude ficar, infelizmente, para o show do Carlos Malta Quarteto, que iria inaugurar a repaginada Sala JazznosFundos, mas em conversa com Miguel Lopez, diretor da casa, soube dos planos para esse espaço, que funciona no subsolo do CCMI. A ideia é transformá-lo em ponto de encontro de músicos e fãs da música instrumental, promovendo “jam sessions” após os shows diários, que podem se estender pelas madrugadas já que essa sala conta com isolamento acústico.
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