Diana Krall: pianista e cantora troca o jazz pelo pop no medíocre álbum "Wallflower"
Marcadores: bob dylan, Carpenters, David Foster, diana krall, Elton John, jazz, Jim Croce, Leon Russell, Mamas and the Papas, paul mccartney, pop | author: Carlos CaladoImagine que um dia Bob Dylan decida largar a guitarra para gravar um disco de clássicos da bossa nova. Ou que João Bosco troque seu violão por uma pick-up de DJ para se dedicar à música eletrônica. Guardadas as proporções, Diana Krall fez algo semelhante em “Wallflower” (lançamento da gravadora Verve/Universal), seu 12º álbum.
Não é fácil entender por que uma talentosa pianista de jazz, que também sabe cantar, toca só em três das 12 faixas oficiais desse álbum. Quem assume o piano --tocando, aliás, de maneira bem burocrática-- é o produtor David Foster, conhecido por trabalhos com figurões da música pop mais convencional, como Celine Dion, Barbra Streisand e Andrea Bocelli. Detalhe: atualmente, ele é o presidente da gravadora Verve.
Dirigido ao segmento de público conhecido nos EUA como “pop adulto”, “Wallflower” traz um repertório previsível. Foster e Diana escolheram canções pop que frequentaram as rádios e paradas de sucesso, nas décadas de 1960 e 1970, assinadas por medalhões do gênero, como Elton John, Don Henley, Randy Newman e Paul McCartney (autor de I'll Take You Home Tonight", a única canção inédita), entre outros.
A versão de “California Dreamin’”, o hit do quarteto vocal The Mamas and the Papas que abre o CD, já antecipa a atmosfera fria, meio deprimente, que marca quase todas as faixas. A versão de Diana, revestida por cordas melosas transforma essa canção solar em uma viagem ao Polo Norte. Pior ainda: o ritmo é marcado, acredite, por um bipe eletrônico.
Em “Superstar” (canção de Leon Russell, que fez sucesso com a dupla Carpenters), Diana força uma certa rouquidão na voz --o velho truque para soar sensual-- que soa artificial. As cordas açucaradas e os vocais de apoio, no arranjo de “Operator (That’s Not the Way It Feels)”, de Jim Croce, fariam mais sentido em um disco da estrelinha country Shania Twain. E as participações "especiais" dos cantores Michael Bublé e Bryan Adams não acrescentam nada de substancial.
Quem conhece os últimos álbuns de Diana sabe que ela já vem evitando o jazz há alguns anos. “Quiet Nights” (2009) era um disco de bossa nova que parecia feito na década de 1960. Em “Glad Rag Doll” (2012), ela resgatou canções dos anos 1920 e 1930 com uma pegada pop. Agora Diana se superou: “Wallflower” é seu disco mais pop, no sentido mais medíocre desse termo.
(resenha publicada na "Folha de S. Paulo", em 16/02/2015)
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3 comentários:
adoro diana krall. beijos, pedrita
Pois é, Pedrita, também gosto de boa parte dos discos da Diana Krall, mas, nos últimos anos, parece que ela está tentando ser outra artista... Beijo!
Confio na sua análise Carlos pois concordo com sua opinião sobre os discos anteriores. Ela tem uma tendência a fazer arranjos sonolentos e sem vida. Nessa linha de pianistas cantoras, prefiro a Eliana Elias.
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