Sesc Jazz: encontro musical de Dom Salvador com Amaro Freitas foi criativo e inspirador

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                           Amaro Freitas abraça Dom Salvador, em show do festival Sesc Jazz  
 

Não é difícil explicar por que o show do cultuado pianista e compositor paulista Dom Salvador, com participação muito especial do pernambucano Amaro Freitas, também um brilhante pianista e compositor, logo despontou como a atração mais procurada da sexta edição do festival Sesc Jazz, em São Paulo. Os mais de 2 mil ingressos colocados à venda para as três noites desse show se esgotaram em pouco mais de 24 horas.     

Grande expoente da primeira geração do samba-jazz, hoje aos 87 anos de idade, Salvador só se apresenta de vez em quando no Brasil. Vive desde 1973 em Nova York, onde toca piano  regularmente no sofisticado River Café, lidera seu sexteto em festivais e tem desfrutado de prestígio crescente no meio jazzístico.

Aos 34 anos, Freitas é considerado a maior revelação do jazz brasileiro na última década. Em pouco tempo conseguiu ingressar no circuito dos clubes e festivais de jazz da Europa e dos Estados Unidos. Suas turnês pelo mundo têm crescido ano a ano. Quem não gostaria de presenciar um inédito show em parceria de músicos de tão alto quilate?  

Salvador abriu a noite de ontem (15/10), no teatro do Sesc Pompeia, tocando algumas de suas composições mais conhecidas, como “Tematrio”, “Gafieira” e “Meu Fraco É Café Forte”, que já se tornaram clássicos do samba-jazz. A seu lado estavam a saxofonista e flautista Laura Dryer, o baterista Graciliano Zambonin e o contrabaixista Gili Lopes, talentosos parceiros que costumam integrar seus projetos musicais. Depois de alguns números, o quarteto virou sexteto, com as participações de dois craques da cena musical carioca: o percussionista Armando Marçal e o guitarrista Zé Carlos, que tocava com Salvador na lendária banda Abolição, no início dos anos 1970.

Mais falante, Amaro Freitas homenageou Salvador ao declarar que nem teria existido como artista se a música do compositor e pianista paulista não o tivesse antecedido. Estendeu esse tributo a outros grandes intérpretes e compositores negros, que também são referências suas no campo da música popular e instrumental brasileira, citando os nomes de Naná Vasconcelos, Johnny Alf, Alaíde Costa, Elza Soares, Tania Maria, Laercio de Freitas e Milton Nascimento. A emoção de Salvador era evidente, ainda mais quando Freitas se levantou do piano para abraça-lo.

Os improvisos se tornaram mais intensos e abertos à experimentação, na parte do show que destacou composições de Freitas, como a percussiva “Viva Naná” e a vibrante “Encantados”, marcada por sons de diversas flautas. Não faltou também uma reverência à tradição do choro, com os pianistas interpretando em duo o delicado “Choro Lento”, composição de Salvador. 

Criativo e inspirador, o inédito encontro de Dom Salvador e Amaro Freitas encantou os ouvidos e sensibilidades daqueles que tiveram o privilégio de estar na plateia do Sesc Pompeia. Tomara que esse exemplo incentive outros grandes músicos brasileiros a experimentarem novos encontros e parcerias. O diálogo entre as gerações pode ser muito enriquecedor, especialmente quando envolve empatia e admiração mútua. 


                                Amaro Freitas (acima) e Dom Salvador (abaixo, de costas)

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