Ilhabela in Jazz: festival destaca tributo a Victor Assis Brasil com Nelson Ayres e quinteto

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                                                                    O pianista Nelson Ayres, no Ilhabela in Jazz 2016 

Os fãs do jazz e da música instrumental brasileira que conhecem Victor Assis Brasil, mesmo que só o tenham ouvido em discos, sabem que é difícil evitar superlativos ao se referir a esse grande saxofonista e compositor carioca, morto prematuramente em 1981, aos 35 anos.

“O Victor foi, provavelmente, o maior jazzista brasileiro. Aliás, ele não tinha a menor vergonha de dizer que era um músico de jazz. Era isso que ele queria na vida”, comenta o pianista e regente paulistano Nelson Ayres, que vai comandar um concerto em homenagem ao seu saudoso parceiro, dia 5/10, no festival Ilhabela in Jazz, no litoral paulista.

Diz a lenda que Leonard Feather, influente crítico britânico de jazz, ficou surpreso com o talento de Victor (na foto abaixo) ao ouvi-lo no Festival Internacional de Jazz de São Paulo, em 1978. Um ano antes, Art Blakey, mestre da bateria e líder dos Jazz Messengers, já o convidara a fazer parte de seu grupo, mas o brasileiro declinou a proposta.

Irmão gêmeo do pianista João Carlos Assis Brasil, que desenvolveu carreira na área da música erudita, Victor era mais eclético. Despontou em meados dos anos 1960, tocando jazz e bossa nova, no Rio de Janeiro, mas também tinha um grande interesse pela música clássica.

Victor e Nelson se conheceram em Boston (EUA), em setembro de 1969, quando começaram a frequentar a conceituada Berklee School of Music. “Moramos no mesmo porão. Uns seis meses depois chegaram o Zeca Assumpção e o Claudio Roditi”, recorda o pianista, referindo-se ao baixista e ao trompetista com os quais logo formaram o quinteto Os Cinco, que se apresentou por cerca de dois anos.

Embora tivessem quase a mesma idade, Victor já possuía uma vivência musical maior que a de Nelson. Além de já ter gravado os álbuns “Desenhos” (1966) e “Trajeto” (1968), também ganhara o título de melhor solista do Festival de Jazz de Berlim. “Ele não chegou a me dar aulas, mas aprendi muito com ele. O Victor jamais escondia as coisas que aprendia. Logo as passava para a frente”, conta o pianista, ressaltando a generosidade do colega. 


Fã declarado do saxofonista John Coltrane (1926-1967), Victor dizia em entrevistas que o mais importante na música era a sinceridade, que era essencial tocar com “feeling” (sentimento). “Ele era um cara muito recolhido, ensimesmado, que usava a música para colocar suas emoções para fora. Sua música era visceral, não tinha nada de controlada”, comenta Nelson.

Uma das composições mais conhecidas de Victor é a emotiva “Balada para Nádia”. Nelson e o saxofonista Roberto Sion a tocavam com frequência em shows durante a década de 1980, para homenagear o amigo (vítima de uma doença rara, a periarterite nodosa, espécie de inflamação arterial).

Essa balada estará no programa do concerto no festival de Ilhabela, ao lado de outras composições de Victor, como “Requiem for Trane” (homenagem a Coltrane), os baiões “Arroio” e “Pro Zeca” (dedicado a Zeca Assumpção) e as valsas jazzísticas “Waltzing” e “Waving”. Já as composições “Le Semeur” e “One for Scriabin” revelam as afinidades do saxofonista com a música clássica.

Para tocar esse repertório, Nelson comanda um quinteto com a mesma instrumentação do Os Cinco, com Assumpção (contrabaixo), Cássio Ferreira (sax alto e soprano), Daniel D’Alcântara (trompete e fluegelhorn) e Ricardo Mosca (bateria). O  conceito desse tributo nasceu no ano passado, quando o pianista e esses mesmos músicos se apresentaram no projeto Sesc Partituras, no Sesc Ipiranga, em São Paulo (veja o vídeo abaixo).

A sexta edição do festival Ilhabela in Jazz, que neste ano dividiu sua programação em dois finais de semana, exibe hoje (28/9) o septeto do baterista Cleber Almeida, o duo do trompetista italiano Paulo Fresu com o pianista espanhol Chano Dominguez e a orquestra Vintena Brasileira. Amanhã (sábado, 29/9), tocam o quarteto do acordeonista Renato Borghetti, o quarteto do trompetista norte-americano Ambrose Akinmusire e a banda Bixiga 70.

No próximo final de semana, a programação destaca o grupo do baterista Airto Moreira, o quinteto do guitarrista Fábio Gouvea e o Tributo a Victor Assis Brasil (sexta, 5/10). Na noite de encerramento (sábado, 6/10) tocam o trio do bandolinista Fábio Peron, o quinteto do gaitista Gabriel Grossi e a Hermeto Pascoal Big Band. Todos esses concertos serão gratuitos.

Mais informações em www.ilhabelainjazz.com.br






1 Comentário:

Unknown disse...

Olá Carlos
Super bacana suas considerações sobre o Victor Assis Brasil no festival que o Nelson Ayres fará o Tributo.
Se puder me mande seu e-mail, pois também realizo festivais de Jazz e gostaria que você soubesse.

Abraço
Paulo Assis Brasil

 

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