Dave Brubeck: Compilação revê ritmos incomuns do jazzista que vendeu milhões de discos

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Talvez por ter realizado a proeza de se tornar popular com seu jazz influenciado pela música clássica, o pianista Dave Brubeck enfrentou narizes torcidos de muitos críticos, na década de 1960. Alguns o acusaram de tocar “quadrado”, sem suingue. Outros jamais aceitaram o fato de a influente revista “Time” o ter retratado em sua capa – destaque que nem Duke Ellington (1899-1974), o maior compositor do gênero, havia recebido ainda.

Foi tamanho o sucesso de Brubeck, que era comum encontrar seu best-seller “Time Out” (1959) até em discotecas de fãs da música pop – façanha superada apenas por Miles Davis com seu cultuado álbum “Kind of Blue”. Mas, se Davis conquistou os ouvintes com melodias simples e uma atmosfera de relaxamento, Brubeck, que foi aluno do erudito francês Darius Milhaud (1894-1974), chamava atenção por sua inovadora concepção rítmica.

Ainda ativo hoje, aos 90 anos, Brubeck assina com Russell Gloyd a seleção das 21 faixas do CD duplo “Legacy of a Legend” (lançado no Brasil pela Sony). Extraídas de 17 álbuns gravados por ele entre 1954 e 1970, essas gravações fornecem uma consistente introdução à sua obra. Em quase todas elas aparece o baterista Joe Morello (morto no último dia 12), peça essencial no quarteto desse pianista por mais de uma década.

De “Time Out” – álbum conceitual que, ironicamente, a gravadora Columbia resistiu em lançar na época, por considerá-lo pouco comercial – Brubeck escolheu dois de seus maiores sucessos, que abandonaram o convencional ritmo em 4/4. “Blue Rondo a La Turk” (ouça no vídeo abaixo) segue a forma clássica do rondó e o incomum compasso em 9/8. Composta em 5/4, “Take Five” é a obra-prima de Paul Desmond, elegante sax alto que integrou por 16 anos o Dave Brubeck Quartet.

Além de outras inventivas composições do pianista, como “Unsquare Dance” (ouça no vídeo abaixo), um contagiante blues em 7/4 marcado por palmas, a seleção inclui também versões de conhecidos standards: “Somewhere” (de Bernstein e Sondheim) e “You Go to My Head” (Gillespie e Coots), aveludadas pelo sax de Desmond; ou ainda “Out of Nowhere” (Green e Heyman) e “St. Louis Blues” (Handy), que destacam o sax barítono de Gerry Mulligan. Uma compilação que reserva boas surpresas até para aqueles que já conheciam parte da obra de Brubeck.

(resenha publicada parcialmente no “Guia Folha – Livros, Discos, Filmes”, em 25/2/2011)



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