Mostrando postagens com marcador La Casa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador La Casa. Mostrar todas as postagens

Jazz al Parque: festival de Bogotá merece figurar nos destinos de fãs desse gênero

|


Quando se vê uma plateia jovem, inclusive muitos adolescentes, disputando os lugares mais próximos de um palco para ouvir de perto o refinado jazz do quarteto do saxofonista Wayne Shorter (na foto abaixo), logo se percebe que a cidade de Bogotá já está colhendo frutos de seu trabalho, nas últimas décadas, no sentido de ampliar a cultura musical de seus habitantes.

Essa foi apenas uma das surpresas que tive ao acompanhar o festival Jazz al Parque, durante o final de semana, na capital colombiana. Organizada pelo Instituto Distrital de las Artes, a 20ª edição do evento não economizou em atrações internacionais e locais. O festival ofereceu 16 concertos gratuitos, no palco instalado no belo parque El Country. Tanto no sábado como no domingo, quem chegou a partir do meio-dia pôde apreciar oito horas de música de muito boa qualidade. No mesmo espaço também havia uma mostra de livros de editoras independentes e uma pequena feira gastronômica.  


As surpresas começaram já com as primeiras apresentações de grupos locais. O “latin jazz” do quarteto do pianista Rodolfo Martinez, o lirismo do guitarrista William Pérez e os improvisos do trio do pianista Orcaryvan Garzón – todos bastante profissionais – mostraram que a organização do festival acertou ao realizar um concurso para a seleção dos artistas nacionais. Um recurso, aliás, que tem sido utilizado com sucesso por festivais brasileiros, como o mineiro Savassi Festival e o fluminense Rio das Ostras Jazz & Blues.

Outros grupos locais, que também tocaram no sábado, mostraram que têm qualidade para se apresentarem em qualquer festival de jazz pelo mundo. O septeto do saxofonista Ricardo Narvaez destaca um naipe de quatro sopros, formado por experientes solistas. Assim como estes chegaram a arrancar gritos da plateia estimulada por seus arranjos e improvisos, algo semelhante se ouviu durante o contagiante concerto da Big Band Bogotá, regida pelo maestro Ricardo Jaramillo. Não é comum se ver uma plateia jovem vibrar com as dinâmicas sonoras de um arranjo para big band.  

Como já era esperado, o quarteto do percussionista e vocalista cubano Pedrito Martinez (à direita, na foto ao lado) tinha na plateia um fã-clube ansioso por ouvir e dançar com suas rumbas e outros ritmos afro-cubanos. O baile começou nos extremos da plateia, onde vários casais exibiam seus passos e meneios. A dança também se estendeu ao palco, assim que o percussionista convidou algumas garotas da plateia a mostrarem seus requebros para todos. Não bastasse o apelo rítmico de seu repertório, Martinez e seus parceiros tocam com uma alegria contagiante.

Outra atração estrangeira que agradou bastante à plateia, no sábado, veio da Inglaterra. “Meu nome é Courtney Pine e eu amo jazz”, fez questão de dizer o saxofonista britânico, como se apresentasse um cartão de visitas. Porém, mesmo tendo sido o músico que mais tocou clássicos do jazz em todo o festival -- como “Summertime” (de Gershwin), “Take Five” (Paul Desmond) e “Moanin’” (Bobby Timmons) -– Pine já não os interpreta, propriamente, como jazz. Em suas releituras, esses clássicos são embalados por dançantes ritmos caribenhos, que contagiaram grande parte da plateia. Já para quem, como eu, acompanhou o jazz intenso dos primeiros anos da carreira de Pine (na foto abaixo), ainda na década de 1980, foi um tanto decepcionante constatar que hoje seu show é uma espécie de “fast food” musical. Aliás, o fato de Pine já não tocar mais o sax tenor (trocado pelo EWI, uma espécie de sintetizador em forma de sax soprano) é lamentável.


Por outro lado, se houve algum artista do elenco do Jazz al Parque que parece ter frustrado as expectativas de boa parte do público, essa foi a baixista e cantora norte-americana Esperanza Spalding (na foto abaixo). A euforia da plateia foi grande ao recebe-la, mas a cada nova canção do show os aplausos foram esfriando. Apoiado em figurinos afetados e vários clichês teatrais, "Emily's D+More Evolution", o novo projeto de Esperanza soa artificial. É como se ela quisesse brincar de popstar, cantando canções de essência pop, acompanhada por uma banda tipicamente roqueira. Um evidente engano artístico que, espera-se, ela saiba reconhecer.

O anticlímax provocado pelo show de Esperanza não se repetiu, felizmente, no domingo. Quem encerrou a programação da última noite foi o sensacional quarteto de Wayne Shorter, com o pianista Danilo Perez, o baixista John Patitucci (na foto abaixo) e a baterista Terri Lynn Carrington (que substituiu Brian Blade). Vestidos com roupas pesadas, como se tivessem saído do Polo Norte, os quatro jazzistas logo contribuíram para elevar bastante a temperatura, no palco e na plateia. Sem tocar temas do passado, Shorter e seus parceiros fizeram uma exibição de improvisação livre e coletiva, que arrancou gritos excitados do público, em vários momentos. Difícil pensar em outra atração melhor para fechar um festival de jazz. 


O programa de domingo contou com outras atrações bastante aplaudidas. É provável que poucos na plateia conhecessem Henry Butler (na foto abaixo), versátil pianista e cantor de New Orleans, EUA, assim como o trompetista e arranjador Steven Bernstein, seu parceiro no delicioso álbum “Viper’s Drag”, lançado no ano passado. Com humor, muito swing e a experiência da banda nova-iorquina The Hot 9, Butler e Bernstein transportaram a plateia para os velhos tempos do jazz dos anos 1920 e 1930. E ela não só se divertiu, como dançou muito.

Bom humor também não falta à banda polonesa Pink Freud, cujo fã-clube local estava presente e demonstrou conhecer bem seu repertório. Com 17 anos de estrada, esse irreverente quarteto de Gdansk tem uma formação inusitada (trompete, sax barítono, baixo elétrico e bateria) e utiliza muita improvisação em suas composições. Mas chamar de jazz o rock instrumental do Pink Freud, como fazem alguns, é forçar a barra. 


Entre as atrações locais do domingo, o grupo La Casa (herdeiro do Coletivo Colômbia), liderado pelo saxofonista e maestro Antonio Arnedo, mostrou com talento particular como se pode criar uma música instrumental, bem próxima do jazz, a partir da tradição musical colombiana. Por sinal, ao final do concerto, Arnedo recebeu uma justa e formal homenagem por suas contribuições à música de seu país.

Outro grupo local que estabelece um saboroso diálogo entre a linguagem do jazz e a música colombiana, o J.I.C. Jazz Ensamble é um noneto com cinco instrumentos de sopro e seção rítmica. Nos originais arranjos do grupo, com boas doses de improvisação, também há espaço para incursões pelo funk norte-americano. O elenco de atrações locais incluiu ainda a cantora Catalina Gonzalez e os grupos Real Charanga e Camilo Vasquez y sus 3 Butacas.


Também me surpreendi ao ver, durante a troca de equipamentos entre um concerto e outro, algo que é difícil imaginar acontecendo no Brasil: um poeta, vencedor de um concurso literário, declamou seus poemas, ouvido com atenção pela plateia. O mesmo respeito foi dedicado a um escritor argentino, que leu durante quase dez minutos um conto de sua autoria. Uma experiência semelhante realizada em um festival de música, no Brasil, teria grandes chances de terminar em vaias.

Ao ver uma iniciativa como essa, que revela o sucesso dos esforços dos colombianos no sentido de incrementar a educação e a cultura em seu país, lembrei de um slogan utilizado por órgãos locais de turismo, que ouvi algumas vezes nos últimos dias –- algo como “Bogotá vai surpreender você”. Sou daqueles que costumam receber campanhas publicitárias com certa desconfiança, mas neste caso tenho que reconhecer: tanto a cidade de Bogotá como seu Jazz al Parque –- um festival de formato original e programação de alta qualidade -– me surpreenderam diversas vezes. E da maneira mais positiva. 


(A cobertura desse festival foi realizada a convite do Instituto Distrital de Turismo de Bogotá)

Jazz al Parque: festival de Bogotá festeja 20º ano com Wayne Shorter e Esperanza Spalding

|

Um dos grandes festivais de jazz da América Latina, o Jazz al Parque, de Bogotá (Colômbia), divulgou ontem o elenco internacional reunido para comemorar sua 20ª edição. O veterano saxofonista e compositor norte-americano Wayne Shorter, a cantora e contrabaixista norte-americana Esperanza Spalding e o saxofonista britânico Courtney Pine estão entre os principais destaques do evento.

Organizado pelo Instituto Distrital das Artes de Bogotá, o festival começa oficialmente neste sábado (12/9), com apresentações de músicos e orquestras locais, como a Big Band Juvenil (no Portal de Transmilenio Américas) e a Big Band Bogotá (no Teatro Julio Mario Santo Domingo e no Teatro Jorge Eliécer Gaítan).


Já no dia 17, no Auditório León de Greiff da Universidade Nacional, apresentam-se o baixista e compositor brasileiro Itiberê Zwarg (integrante há décadas do grupo de Hermeto Pascoal) e o compositor e pianista argentino Guillermo Klein. Ambos vão comandar também seminários sobre composição e arranjo, em meio a uma programação voltada ao ensino musical, que inclui ainda o pianista argentino Carlos Aguirre, o trompetista norte-americano Greg Gisbert e o percussionista colombiano Samuel Torres.

O programa principal do Jazz al Parque ocorre nos dias 19 e 20/9, ao ar livre e com entrada franca, no Parque El Country, na região norte de Bogotá. Além dos concertos de jazz, que vão das 12h às 21h, o festival também promove, no mesmo local, uma mostra de livrarias independentes e uma feira gastronômica. 



Ao lado dos já citados Wayne Shorter (na foto à esquerda, com o baixista John Patitucci), Esperanza Spalding (na foto acima) e Courtney Pine, o elenco internacional do festival destaca também Henry Butler (pianista e cantor de New Orleans que vai se apresentar com o trompetista Steven Bernstein e o grupo The Hot 9), o grupo do cantor e percussionista cubano Pedrito Martinez e a banda polonesa Pink Freud.

Entre as atrações locais que vão se apresentar no Parque El Country estão a banda de salsa Real Charanga, o coletivo La Casa (com o saxofonista Antonio Arnedo, que também faz parte, com o pianista brasileiro Benjamim Taubkin, do grupo Fronteiras Imaginárias, cujo álbum acaba de ser lançado no Brasil), Big Band Bogotá, William Pérez Quinteto, Rodolfo Martínez Project, Ricardo Narváez Septeto, Oscaryván Trio, Catalina González, Jic Jazz Ensemble e Camilo Vásquez y Sus Tres Butacas.

Aliás, para os fãs da música improvisada em Bogotá, setembro é, definitivamente, o mês do jazz. Mal acaba o Jazz al Parque, já começa o 27º Festival Internacional de Jazz do Teatro Libre. De 21 a 29/9 esse evento promove concertos de outras feras internacionais do gênero, como Poncho Sánchez, Danilo Pérez, Jason Marsalis, Till Brönner e o trio The Bad Plus, além dos colombianos Tico Arnedo (em duo com o espanhol Javier Colina) e Edy Martínez.

Mais informações nos sites desses festivais:
www.jazzalparque.gov.co
www.teatrolibre.com






 

©2009 Música de Alma Negra | Template Blue by TNB