Jards Macalé: Documentário em DVD relembra as provocações musicais desse artista único

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                                                                                                                         Foto: Cafi

As primeiras cenas de “Jards Macalé - Um Morcego na Porta Principal” (lançamento em DVD do Canal Brasil) já escancaram a irreverência de seu protagonista – autor de clássicos da canção brasileira dos anos 1970, como “Vapor Barato” (com Waly Salomão), “Let’s Play That” (com Torquato Neto) e “Movimento dos Barcos” (com Capinan), que realçam a ótima trilha sonora deste documentário.

De cara, Macalé desafia o diretor Marco Abujamra, ameaçando processá-lo se discordar da versão filmada de sua história. Em seguida, numa entrevista ao humorista Jaguar, que admite não conhecê-lo bem, provoca: “Nem eu”. Macalé diverte-se também ao contar que cortou relações por três anos com Dori Caymmi, quando este alterou um acorde de uma de suas canções.

Por essas e outras, talvez Abujamra e o jornalista João Pimentel não tenham insistido em traçar um retrato mais minucioso e profundo. Utilizam filmes domésticos em Super 8, registros de shows e depoimentos de Macalé e de diversos artistas e intelectuais que conviveram com ele, para construir uma narrativa que, mesmo respeitando a cronologia, nem sempre esclarece muito.

O espectador que desconhece, por exemplo, o episódio de “Gothan City” (canção de Macalé em parceria com Capinan, da qual saiu o verso que dá título ao filme), não recebe informação suficiente para avaliar os riscos que seu autor enfrentou. No melhor estilo tropicalista, ele cantou essa paródia ao regime militar, em um festival transmitido pela TV, em 1969, durante a fase de maior repressão no país.

Claro que detalhes como esse não tiram o prazer de se acompanhar outros “causos” de Macalé. Como o hilariante episódio de sua prisão em Vitória, em 1978, por ter debochado de um candidato à Presidência, num show com o malandro sambista Moreira da Silva. Ou sua insólita campanha, na década passada, para incluir o termo “amor” no lema “ordem e progresso” da bandeira nacional. Provocações que tornam Macalé um artista único, ainda mais na era do politicamente correto.

(resenha publicada originalmente no "Guia Folha", em 25/02/2011)

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A seguir um video precioso, com Jards Macalé, acompanhado por Wagner Tiso (piano), Luizão Maia (baixo) e Pascoal Meirelles (bateria), na década de 1970, além do ator Paulo José, lendo um texto do poeta Torquato Neto:

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