O pianista e compositor Dom Salvador agradeceu os aplausos
da plateia paulistana, ao final do show de ontem (7/09), com uma elegante reverência.
Não foi por cansaço, muito menos por esnobismo, que ele e os músicos do
quarteto Abolição deixaram o palco – na área externa da 36.ª Bienal de Artes de
São Paulo, no Parque Ibirapuera – sem atender aos pedidos de bis.
Já fora de cena, agitando as mãos, Salvador explicou a alguns fãs o motivo da
indesejada interrupção do show: dores provocadas por câimbras, que o impediram de
tocar por mais alguns minutos. Um probleminha físico que esse resiliente pioneiro
do samba-jazz (prestes a completar 87 anos na próxima sexta, 12/09) enfrenta de
vez em quando, mas não o impede de seguir tocando regularmente.
Os felizardos que ali estavam assistiram a um show
histórico, que reuniu o líder e dois remanescentes da cultuada banda Abolição,
desativada em 1972, após uma breve carreira de dois anos. Seu único disco, “Som,
Sangue e Raça” (lançado em 1971), seguiu influenciando as gerações posteriores,
com suas misturas de samba, jazz, soul, R&B, funk e outras vertentes da
música negra brasileira.
Do quarteto liderado por Salvador fazem parte o baixista
Rubão Sabino e o guitarrista Zé Carlos, seus antigos parceiros da banda Abolição,
além do saxofonista Tino Jr. No repertório do show não faltaram clássicos da
banda, como “Moeda, Reza e Cor”, “Samba do Malandrinho” e “Tema pro Gaguinho”,
além de “Uma Vida” e “Hei! Você”, que os fãs cantaram junto com Sabino.
Na plateia, além de vários músicos, estava o camaronês Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, curador desta edição
da Bienal (inaugurada anteontem, com entrada franca), que tomou como inspiração
o poema “Da Calma e do Silêncio”, da escritora mineira Conceição Evaristo.
Sentada ao lado do curador estava
a senegalesa Veronika Châtelain, diretora do programa Jazz Legacies Fellowship,
da Jazz Foundation of America, que vai apoiar 50 veteranos músicos de jazz, fornecendo
apoio financeiro para seus projetos de gravação e turnês, entre outras
atividades, durante os próximos quatro anos.
Salvador foi incluído entre os 20 primeiros contemplados por esse projeto, ao
lado de conceituados jazzistas norte-americanos, como o saxofonista George
Coleman, a vocalista Carmen Lundy, a pianista Amina Claudine-Myers e o baterista
Herlin Riley, entre outros. Um importante reconhecimento aos legados desses artistas.
Para quem perdeu essa rara apresentação
de Dom Salvador, que vive em Nova York desde 1973, ele deixa uma mensagem de consolo:
vai retornar a São Paulo em outubro, para mais alguns shows, com uma formação
instrumental diferente. O local e as datas dessas apresentações serão
divulgados em breve.
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