Mostra "Prata da Casa 10 Anos": novos talentos retornam ao Sesc Pompéia

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Começa hoje à noite, em São Paulo, a mostra “Prata da Casa 10 anos”. Dedicado a revelar novos talentos da música brasileira, o essencial projeto do Sesc Pompéia, do qual tive o prazer de ser curador entre 2000 e 2003, comemora sua primeira década de vida, exibindo uma seleção de 43 instrumentistas, cantores, compositores e bandas. A tarefa dos sete curadores, que participaram de uma enquete para definir esse elenco, foi dificílima. Dezenas e dezenas de outros artistas mereceriam estar no palco do Sesc Pompéia durante essa mostra. Posto a seguir texto que escrevi para o folder do evento que está sendo distribuído à platéia. Os shows da mostra “Prata da Casa 10 Anos” prosseguem até 30 de agosto.



A EXTINÇÃO DA CRÍTICA (E O PRAZER DE UM CURADOR)

Uma espécie em extinção. Esta é a primeira imagem que tem vindo à minha mente, nos últimos anos, sempre que sou chamado a discutir o papel do crítico na imprensa. Basta dar uma olhada rápida nos grandes jornais do país, para se perceber que essa antiga prática do jornalismo cultural está se perdendo. Quanto mais os jornais aderem ao fútil e desmiolado culto às celebridades que se vê por aí, menos espaço sobra para a crítica.

Não me refiro a essas avaliações de discos ou shows, expressas em esquemáticas estrelinhas precedidas por rápidas opiniões sem fundamentos musicais ou estéticos, que ainda freqüentam os jornais. A mera expressão do gosto pessoal de alguém não deveria ser chamada de crítica. A verdadeira crítica exige mais espaço e um esforço maior por parte de quem tenta praticá-la. É preciso contextualizar a obra em questão, conhecer e discutir suas referências e influências estéticas. Deve-se tentar entender quais são as intenções do artista, respeitar seu trabalho; não apenas julgá-lo, muito menos diminuí-lo se ele não se encaixar nos parâmetros de nosso gosto pessoal.

Foram critérios como esses que utilizei durante os dois anos e meio em que exerci, com grande prazer, a curadoria do Prata da Casa. Ouvindo e analisando as gravações de tantos compositores, intérpretes e instrumentistas, alguns bem jovens, outros já mais experientes, tive a certeza de que, diferentemente do que repetem os mal informados de plantão, este país não para de produzir talentos musicais.

Graças à curadoria no Prata da Casa pude conhecer artistas promissores dos mais distantes pontos do país, e sempre fiz questão de que essa diversidade, tanto geográfica como musical, estivesse representada em minha seleção. Vê-los em cena, realizando o sonho de se apresentar em um palco tão conceituado como o do Sesc Pompéia, foi uma experiência gratificante. Bem mais prazerosa do que alguns desses shows e discos de celebridades, que o ofício da crítica nos obriga, de vez em quando, a encarar. (CC)



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