Chico Pinheiro: unindo a sofisticação da canção brasileira com a liberdade do jazz

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Não é à toa que a carreira de Chico Pinheiro tem crescido no exterior. “Flor de Fogo” (lançamento Atração), o quarto álbum desse talentoso violonista e compositor paulista, mostra que sua obra combina com elegância o melhor de dois mundos musicais: a sofisticação melódica e harmônica da moderna canção brasileira com a liberdade e a improvisação do jazz.

Os vocais da cantora norte-americana Dianne Reeves, na romântica “There’s a Storm Inside” ou na inventiva releitura de “Buritizais” (composição do disco de estréia de Pinheiro), reforçam o tom jazzístico desse projeto. Por outro lado, há também a voz suave e emotiva de Luciana Alves, que acentua o lirismo das canções “Recriando a Criação” e “A Sul do Teu Olhar”.

E não bastassem os criativos improvisos e arranjos de Pinheiro, ele revela ter evoluído como vocalista, ao interpretar a jazzística balada “Our Love Is Here to Stay” (de Gershwin) ou o gingado samba “Boca de Siri” (parceria com Paulo César Pinheiro), entre outras. Um disco que não pode faltar nas listas de melhores de 2010.


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 17/12/2010)


Eric Clapton: guitarrista e cantor dá uma lição de dignidade em seu novo álbum

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Ao contrário de muitos de seus fãs, Eric Clapton jamais levou a sério a fama de “deus” da guitarra que herdou ainda na década de 1960. E está longe de ser um desses patéticos roqueiros com mais de 30 anos, que insistem em posar de adolescentes. Em "Clapton" (lançamento Warner), seu 19º álbum, o guitarrista e cantor britânico, que já polarizou tantas vezes as atenções no universo do rock e do pop, mostra que está envelhecendo com dignidade. Esse é um de seus melhores discos.

Como em outros momentos essenciais de sua obra, Clapton voltou ao blues, sua maior fonte de inspiração. Na verdade, foi até mais fundo: no eclético repertório desse álbum, mistura relíquias do blues rural e urbano com alguns clássicos da canção norte-americana e pérolas obscuras do rhythm & blues. Ele abre o disco com “Travelin’ Alone”, vibrante blues do texano Melvin Jackson (1915-1976). Mas é a versão bem relax e acústica de “Rocking Chair”, a canção folk de Hoagy Carmichael popularizada por Louis Armstrong durante décadas, que melhor sintetiza a atmosfera geral de Clapton.


Entre as surpresas do álbum destacam-se duas canções do repertório do gaiato jazzista Fats Waller (1904-1943). Descontraído, Clapton ironiza a própria fama, em “When Somebody Thinks You’re Wonderful”, e interpreta “My Very Good Friend The Milkman” com igual dose de humor. Em ambas, as participações do trompetista Wynton Marsalis, do pianista Allen Toussaint e do trombonista “Shorty” Andrews, entre outros músicos da Louisiana, trazem o tempero sonoro típico de New Orleans.

Inusitadas também são as releituras das baladas “How Deep Is the Ocean” (de Irvin Berlin) e, especialmente, “Autumn Leaves” (Kosma e Mercer), que Clapton interpreta com uma serenidade rara de se ouvir em suas gravações. E o solo de guitarra não fica atrás, em elegância e discrição. Seu antigo parceiro J.J. Cale (autor dos hits “Cocaine” e “After Midnight”) também participa. Além de contribuir com vocais e a guitarra, ele assina dois charmosos blues: o sombrio “River Runs Deep” e o quase gospel “Everything Will Be Alright”, ambos em arranjos tingidos pelas cordas da London Session Orchestra.


Com pegada suficiente para tocar no rádio, o dançante blues-rock “Run Back to Your Side” é a única faixa composta por Clapton. Nem precisava. Só como intérprete, o bluesman britânico já garante um álbum delicioso. E dá, aos 65 anos, uma lição de integridade artística. 

(resenha publicada na revista "Bravo!", edição de novembro de 2010)



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Chuck Berry & Bo Diddley: show de 1985 promove saboroso encontro de dois pais do rock

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Chuck Berry e Bo Diddley, reconhecidos pais do rock, encabeçam o saboroso documentário “Rock‘n’Roll All Star Jam” (lançamento The Store for Music/ST2), filmado por ocasião de um concerto na Califórnia, em 1985. Não bastasse o prestígio desses veteranos astros do rhythm & blues, a banda de apoio formada por famosos roqueiros e blueseiros é capaz de excitar qualquer fã do gênero. Os guitarristas Ron Wood (Rolling Stones) e Carl Wilson (Beach Boys), o tecladista John Mayall e o gaitista John Hammond estão entre os “acompanhantes”.

Apesar do destaque que recebe na capa deste DVD, Berry é só um convidado. Sua participação se resume a três números: seu hit “My Ding-a-Ling”, o blues “Destination” e o clássico “Rock ‘n’ Roll Music”, de Diddley, o verdadeiro dono da festa.


Além de desfilar vários sucessos, como “I’m a Man”, “Who do You Love” e “Hey Bo Diddley”, o bem humorado bluesman do Mississipi oferece uma lição de sociologia musical, ao explicar que a suposta divisão entre o rock ‘n’ roll e o rhythm & blues tem origem racista: foi criada nos EUA, nos anos 50, quando brancos e negros ainda viviam separados. “Não há diferença entre eles”, afirma o pai do rock.

(resenha publicada no “Guia Folha – Livros, Discos, Filmes, em 26/11/2010)




Bebeto: "rei do suingue" volta a gravar depois de seis anos

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Um dos mais populares expoentes do samba-rock, autor dos hits “Segura a Nega” e “A Beleza É Você, Menina”, Bebeto nasceu em São Paulo, mas despontou cantando em bailes de subúrbios do Rio, no final da década de 1970. O título de seu novo álbum, "Prazer, Eu Sou Bebeto" (lançamento EMI), o primeiro em seis anos, é bem pragmático: ele quer ser apresentado ao público mais jovem que ainda não o conhece.

Talvez para sublimar de vez o estigma de imitador de Jorge Ben que o perseguiu durante anos, Bebeto homenageia o mestre carioca com o suingado samba-rock “Tudo Bem (Big Ben)”. Não à toa, derivações desse ritmo marcam outras das melhores faixas do álbum, como “Herdeiros da Raça”, “Me Leva Que Eu Vou” e “De Bem Com a Vida”.


O baile só desanda um pouco quando Bebeto decide exibir sua faceta mais lírica. Cantando a romântica “Linda” ou a piegas “Amor Infinito”, o “rei do suingue” (como era chamado no passado) fica aquém dos limites de seu poder musical. 

(texto publicado no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 26/11/2010)


Benjamim Taubkin e André Mehmari: criativas releituras de Chico Buarque e Beatles

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Dois brilhantes pianistas brasileiros inauguram a série Solo Lounge (lançamento MCD), que propõe releituras instrumentais de canções conhecidas. No álbum que dedica a Chico Buarque, Benjamim Taubkin ressalta o lirismo do compositor carioca, revelando novas nuances melódicas e rítmicas. Em suas versões, os sambas “Quem Te Viu Quem Te Vê” e “Samba e Amor” viram baladas jazzísticas, assim como “Valsinha” ganha um tratamento mais erudito.

Ao reler 14 sucessos dos Beatles, André Mehmari também aproxima algumas canções, como “Because” e “Here Comes the Sun”, do universo da música clássica, além de transformar “Penny Lane” em choro. Mais inusitada ainda é a “licença poética” de citar um trecho da caipira “A Tristeza do Jeca” (de Angelino de Oliveira) na releitura de “Norwegian Wood”. Tomara que os próximos volumes da série mantenham esse nível de criatividade. 


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 26/11/2010)



Mariene de Castro: uma carismática cantora baiana sem os clichês da axé music

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Exceto pela origem baiana, ela é bem diferente dessas cantoras de axé music que soam fabricadas em série. Com 15 anos de carreira e uma íntima ligação com o samba de roda e outros ritmos tradicionais da região do Recôncavo baiano, Mariene de Castro começa enfim a ser “descoberta” pelo resto do país. “Santo de Casa” (lançamento Universal), seu segundo álbum, é o primeiro com distribuição nacional.


Neste show gravado no Teatro Castro Alves, em Salvador, ela esbanja carisma, cantando pot-pourris de sambas de roda, cirandas, ijexás e umbigadas, incluindo várias composições de Roque Ferreira, mestre nesse universo musical. Faixas como “Samba de Terreiro” e “Prece do Pescador” remetem à religiosidade do candomblé, outra influência marcante pela qual Mariene já foi comparada à mineira Clara Nunes (1943-1983).

Contrariando o provérbio do santo de casa que não faz milagre, essa talentosa baiana conseguiu resgatar toda uma riqueza rítmica e poética que a hegemônica axé music e seus trios elétricos ignoram há décadas. 

(publicado no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 26/11/2010)




                                                

"Isso é Jazz?": projeto combina shows de música instrumental brasileira e debate

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Começa hoje, no Rio de Janeiro, um projeto que pode não só agradar aos fãs da música instrumental brasileira, mas também fazer balançar as convicções de ouvintes mais puristas. Com curadoria da jornalista Monica Ramalho, “Isso É Jazz” leva ao teatro de arena da Caixa Cultural cinco shows e um debate para discutir e iluminar as relações do choro, do samba e da bossa nova com o jazz.

O criativo grupo Aquarela Carioca (na foto acima) abre hoje a série, que prossegue, sempre às 19h, com os shows da big band UFRJazz Ensemble (dia 9), do guitarrista Victor Biglione (dia 10), do bandolinista Hamilton de Holanda (dia 11) e do sexteto Jazzafinado (dia 12). Também no domingo, às 17h30, o jornalista Roberto Muggiati e o compositor Bernardo Vilhena conversam com o público.

Mais informações no blog de Monica Ramalho.




 

John Legend & The Roots: canções de protesto dos anos 70 inspiram nova geração do soul

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O título imperativo (“acorde!”) e a presença da politizada banda The Roots já antecipam o tom engajado deste álbum de John Legend, astro da nova geração do soul e do R&B. Ao idealizar “Wake Up!” (lançamento Sony), ainda em 2008, estimulado pela campanha de Barack Obama para a presidência dos EUA, o cantor norte-americano pretendia fazer “música socialmente relevante”, como sugere em texto no encarte do CD.

Para isso, Legend foi buscar inspiração na soul music das décadas de 1960 e 1970, resgatando clássicas canções de protesto, como “Hard Times” (de Curtis Mayfield), “Compared to What” (Eugene McDaniels), “Wholy Holy” (Marvin Gaye) e “I Can’t Write Left Handed” (Bill Withers), entre outras. Ele e seus parceiros da The Roots utilizam batidas de funk e hip hop, vocais de rap ou mesmo guitarras pesadas para criar versões mais modernas dessas canções, sem descaracterizá-las.

Em meio à onda conservadora que tem crescido nos EUA, “Wake Up!” soa pertinente em sua intenção de fazer diferença, mas mereceria ser ouvido até em outra conjuntura política. Legend e The Roots fizeram música que vale por si só. 


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 26/11/2010)





                                            

Charlie Haden: novo álbum do Quartet West destaca vozes femininas do jazz

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Nas últimas décadas, raros grupos da cena do jazz têm demonstrado tanta elegância e consistência musical quanto o Quartet West – liderado há quase 25 anos pelo contrabaixista Charlie Haden, ainda com Ernie Watts (sax tenor) e Alan Broadbent (piano) da formação original. Com seu repertório de clássicos do bebop e belezas da canção norte-americana, esse grupo já lançou seis álbuns deliciosos e o sétimo não fica atrás.

“Sophisticated Ladies” (lançamento EmArcy/Universal) retoma o conceito do álbum “The Art of the Song” (1999), trazendo vozes de conhecidas cantoras, como Norah Jones, Melody Gardot e Diana Krall, em meio a arranjos de cordas. Entre esses números vocais, destaca-se a sublime versão de “My Love and I” (de Mercer e Raksin), com o vozeirão sereno de Cassandra Wilson. Em meio à atmosfera romântica que ocupa grande parte desse álbum, também não faltam temas instrumentais, como o sensual “Angel Face” ou os vibrantes bebops “Today I Am a Man” e “Wahoo”, perfeitos para que o Quartet West possa mostrar todo seu know-how jazzístico.


(texto publicado no “Guia Folha – Livro, Discos, Filmes”, em 26/11/2010)







                                                              

Paraty Latino: festival gratuito leva atrações internacionais à cidade histórica

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Da salsa ao tango, passando pelo merengue, pelo bolero e pelo cha-cha-chá, sem esquecer o nosso samba. Esse é o saboroso cardápio de ritmos do festival Paraty Latino, que leva várias atrações musicais ao litoral sul fluminense. Com três noites de shows gratuitos, o evento acontece no próximo final de semana (de 3 a 5/12), na praça da Matriz de Paraty.

A delegação cubana reúne talentosos músicos da nova geração, como o pianista Roberto Fonseca, o cantor Fernando Ferrer (sobrinho do “buena vista” Ibrahim Ferrer), a cantora Haydée Milanés (filha do veterano “cantautor” Pablo Milanés) e o pianista Yaniel Matos, que já vive em São Paulo há alguns anos. Da França vem o cantor e pianista de salsa Deldongo. A Argentina está representada pelo electro-tango da banda Otros Aires.

Já o elenco brasileiro conta com a charmosa cantora Marina de La Riva (também descendente de cubanos), a dupla João Donato e Paula Morelenbaum (que acaba de lançar o delicioso álbum “Água”) e as bandas Lyra Latina e Havana Brasil (na foto acima), conhecidas dos freqüentadores do clube paulistano Bourbon Street, que assina a produção do festival.

O Paraty Latino também vai oferecer oficinas gratuitas de dança, nas tardes de sábado e domingo. Mais informações no site do evento: www.paratylatino.com.br


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Fred Hersch: dez canções de Tom Jobim em releituras bem livres e pessoais

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Apesar de até já ter se apresentado no Brasil, o pianista Fred Hersch, hoje com 55 anos, ainda é, estranhamente, pouco conhecido por aqui, talvez pelo fato de seus mais de trinta discos não terem recebido edições nacionais. Esse ineditismo é enfim rompido com este belo álbum dedicado à obra de Tom Jobim (lançamento Biscoito Fino), cujas canções freqüentam o repertório desse músico norte-americano desde a década de 1970.

Como jazzista criativo e original que é, Hersch passa longe da obviedade. Optou por releituras bem livres para piano solo de dez canções de Jobim, imprimindo nelas sua própria personalidade sem trair a essência musical do autor. Recria clássicos da bossa nova, como “Desafinado” e “Meditação”, sugerindo imaginários contrapontos e encadeamentos harmônicos. Já as versões de “Por Toda a Minha Vida” e “Luiza” revelam um Jobim mais próximo ainda do impressionismo de Debussy (1862-1918). Fãs do lírico pianista Bill Evans (1929-1980), a quem Hersch também já dedicou um tributo, certamente vão gostar. 


(texto publicado no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 26/11/2010) 



Copa Fest: terceira edição tem Dom Salvador, Banda Mantiqueira e Léo Gandelman

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Acontece neste final de semana, no Rio de Janeiro, a terceira edição do Copa Fest, evento musical que tem como sede o sofisticado hotel Copacabana Palace. Na programação, voltada exclusivamente à música instrumental, destacam-se atrações nacionais e internacionais de alta qualidade.


Quem abre a noite desta sexta-feira (26/11, 21h) é a Banda Mantiqueira, big band paulista comandada pelo brilhante clarinetista e saxofonista Nailor Proveta. Em seguida, apresenta-se o quinteto do bandeonista Hector Del Curto, talentoso argentino radicado em Nova York.

No sábado (27/11), a programação começa com o trio do saxofonista carioca Léo Gandelman, referência na música instrumental e no jazz com sotaque brasileiro. Outra atração “internacional” encerra o 3º Copa Fest: o pianista paulista Dom Salvador (na foto acima), grande expoente do samba-jazz, que vive desde os anos 70 em Nova York.

Mais informações no site do Copa Fest: www.copafest.com.br


          

Miriam Makeba: DVD resgata show da maior estrela da África do Sul

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Maior estrela musical da África da Sul, a cantora e ativista Miriam Makeba (1932-2008) viveu durante três décadas no exílio, por se colocar contra a política de apartheid que vigorou naquele país até 1990. A proibição de seus discos e a cassação de sua nacionalidade não a impediram de continuar lutando contra o regime racista, simultaneamente à carreira artística.

Com um show registrado durante o Lugano Jazz Festival, na Suíça, em 1985, este DVD (lançado no Brasil pela Coqueiro Verde) mostra o carisma da Mama Afrika ainda em grande forma, acompanhada por uma banda competente, com vocalistas e dançarinas.

Difícil não se arrepiar ao ver a expressão de dor em seu rosto, quando interpreta a engajada canção “Soweto Blues” (de Hugh Masekela), lamentando as mortes nos conflitos entre estudantes e policiais sul-africanos, em 1976. Mas logo ela volta a sorrir, ao cantar e dançar a contagiante “Pata Pata”, seu hit mundialmente conhecido (veja no video abaixo como Miriam a cantava, ainda na década de 70). Pena que este DVD só tenha 37 minutos de duração.

(texto publicado no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 29/10/2010)






Oscar Castro-Neves: bossa novista encontra outras gerações da MPB em Tóquio

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Radicado há quatro décadas nos EUA, o violonista e compositor carioca Oscar Castro-Neves, 70, foi o anfitrião de um encontro de músicos brasileiros de diversas gerações, que ocupou durante uma semana o clube Blue Note de Tóquio, em 2009, cujo registro está no CD "Live at Blue Note Tokyo" (lançado no Brasil pela gravadora Atração).


A intimidade com a bossa nova, que Castro-Neves viu nascer no Rio de Janeiro e ajudou a divulgar pelo mundo, está bem representada pelas jobinianas “Ela É Carioca”, “Águas de Março” e “Fotografia”. Leila Pinheiro canta a clássica “Rio” (Menescal e Bôscoli), mas relembra também outras vertentes da música brasileira, com o baião “Ponteio” (Edu Lobo e Capinan) e o afro-samba “Canto de Ossanha” (Baden Powell e Vinicius de Moraes).

Já Airto Moreira e Marco Bosco, mestres da percussão que vivem no exterior, destacam a riqueza de nosso som instrumental, em “Misturada/Tombo” (Moreira) e “Tatiando” (Bosco). Música de alta qualidade, que hoje os japoneses valorizam mais até do que muitos brasileiros. 

(texto publicado no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes), em 29/10/2010)



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Maria Schneider: a compositora é atração da 1ª Mostra Instrumental da Emesp

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A compositora e arranjadora Maria Schneider (na foto acima) é atração da 1ª Mostra Instrumental da Emesp, a Tom Jobim Escola de Música do Estado de São Paulo. Estrela na área das orquestras de jazz desde a década de 90, essa conceituada band-leader norte-americana vai reger uma big band, dia 20/11 (sábado), no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.

Formada por alguns dos melhores músicos de nossa cena instrumental, essa pequena orquestra destaca o acordeonista Toninho Ferragutti, os saxofonistas Vinícius Dorin, Mané Silveira e Eduardo Neves, o trompetista Daniel Alcântara, o trombonista Vittor Santos, o pianista Paulo Braga, o baterista Edu Ribeiro, o percussionista Guello e o baixista Alberto Lucas, entre outros. 

A programação no Auditório Ibirapuera (www.auditorioibirapuera.com.br) inclui outras atrações do gênero. No dia 19 (sexta-feira), apresenta-se a Big Band da Orquestra Tom Jobim, com regência de Vittor Santos e direção musical do maestro Roberto Sion. No dia 21 (domingo), tocam o Juilliard Jazz Artist Diploma Ensemble, o Quarteto D’Minuto e Bambu Quarteto.

A 1ª Mostra Instrumental da Amesp oferece também uma série de quatro jam sessions, no Bourbon Street Music Club (www.bourbonstreet.com.br), de 17 (quarta-feira) a 20/11 (sábado), com a Sound Scape Big Band, a Banda Savana, músicos da Juilliard School e outros instrumentistas de São Paulo e Rio.

Para estudantes de música, o evento organizou um ciclo de palestras gratuitas sobre escrita para big bands (informações no site www.emesp.org.br), com os maestros e arranjadores Nelson Ayres, Spok, Mario Adnet, Carl Allen e a própria Maria Schneider.

A seguir, reproduzo uma entrevista que fiz com ela para a “Folha de S. Paulo”, em 2006, antes da apresentação de sua orquestra no Tim Festival.


                  MARIA SCHNEIDER E SUAS ESCULTURAS SONORAS

Desde meados dos anos 1990, quando o assunto é jazz orquestral, o nome de Maria Schneider é inevitável em qualquer roda ou conversa. Afinal, o prêmio Grammy que essa compositora e regente conquistou com o álbum “Concert in the Garden”, em 2005, é apenas uma das inúmeras distinções que ela tem em seu currículo musical.

Falando por telefone, de Nova York, onde vive, Maria admite que até pouco tempo atrás ainda resistia bastante a se definir como uma compositora. Diz que preferia o termo “escultora de sons”.

“Durante muito tempo a palavra compositora soava grande demais para mim, mas já não é tanto. Acho que minha música tem se tornado mais leve, mais delicada e, talvez, mais detalhada. É difícil explicar o porquê, mas hoje já me considero uma compositora”, diz a norte-americana, que se apresentou no país pela primeira vez, em 1998.

Foi naquele ano, inspirada por um vôo de asa delta, numa praia do Rio de Janeiro, que Maria compôs a peça “Hang Gliding”. “Voar de asa delta, num dia de muito vento, foi uma coisa extraordinária. Fui levada pelo pianista Claudio Dauelsberg. No dia seguinte, comecei a escrever algo e, de repente, senti que estava escrevendo sobre a sensação de voar de asa delta”, diz ela, referindo-se a essa composição como “uma canção de amor pelo Brasil”.

Discípula dos compositores Bob Brookmeyer e Gil Evans, do qual foi assistente, Maria comenta que suas experiências pessoais são fontes essenciais de inspiração. “Muitas das minhas peças abordam acontecimentos de minha infância. Neste momento estou compondo uma peça sobre pássaros. Então fico totalmente envolvida: fico olhando pássaros voarem, só penso em pássaros”, diverte-se.

Freqüentemente convidada a reger orquestras de jazz na Europa, Maria valoriza a atitude experimental de orquestras e músicos do velho continente, mas sente falta de algo que só costuma sentir em Nova York, onde vive.

“Na Europa há muito apoio para as artes, algo que acontece aqui em menor proporção, mas uma coisa da qual eu gosto muito é a energia dos músicos de Nova York. Eles não têm as melhores condições de trabalho, mas quando tocam se entregam ao máximo, porque aqui a competição é muito intensa”, compara.


Veja agora um trecho da apresentação de Maria Schneider no festival Tudo É Jazz (em Ouro Preto, em 2007), à frente de outra big band com músicos brasileiros.

Paula Morelenbaum e João Donato: uma voz doce para 12 canções sedutoras

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Quem acompanha a carreira de Paula Morelenbaum já deve ter notado a coerência de seu repertório. Depois de cantar por uma década com Tom Jobim, de interpretar canções de Vinicius de Moraes e sambas do período pré-bossa nova, ela chega a João Donato com a maior propriedade. Para produzir e gravar o álbum “Água” (lançamento Biscoito Fino), escolheu 12 canções desse original pioneiro da bossa, que também a acompanha ao piano e nos vocais.

Além da voz doce e das interpretações sensíveis de Paula, logo chama atenção a riqueza e a diversidade dos arranjos de Jaques Morelenbaum (“Flor de Maracujá”), Donatinho (“Café com Pão”), Marcos “Kusca” Cunha (“A Rã”), Leo Gandelman e Alex Moreira (“Lugar Comum”), Beto Villares (“Ahiê”) ou BossaCucaNova (“E Muito Mais”), que combinam instrumentação acústica e eletrônica.


A cantora ainda se deu ao luxo de resgatar a dançante “Entre Amigos”, obscura parceria de Donato com o percussionista cubano Mongo Santamaria, que agora recebeu versos em português e espanhol. Um disco tão sedutor quanto a voz de Paula ou as melodias de Donato. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 29/10/2010)

 

Buddy Guy & Junior Wells: os primeiros encontros de dois grandes mestres do blues

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Lançado originalmente em 1972, este cultuado álbum do guitarrista Buddy Guy com o gaitista Junior Wells, expoentes do blues elétrico de Chicago, resultou de algumas coincidências. Os dois conquistaram a platéia do Festival Folk de Newport, em 1967, num encontro casual. Só se tornaram parceiros em 1970, ao abrir uma turnê dos Rolling Stones pela Europa. Após ouvi-los, na França, o guitarrista inglês Eric Clapton, admirador de Guy, sugeriu à gravadora Atlantic que os contratasse e produziu o álbum.

Esta caprichada reedição de "Buddy Guy & Junior Wells Play the Blues" (lançamento Warner) inclui um CD extra com faixas inéditas. Os felizardos que chegaram a ver Guy e Wells tocando no Brasil, na década de 1980, vão logo reconhecer o funkeado blues “Messin’ With the Kids”, o relaxado “Bad Bad Whiskey” (com participação de Clapton) e o pungente “Stone Crazy”, que revela a influência do mestre B.B. King sobre Guy. Pena que Wells, morto em 1998, não tenha tido tempo para saborear o mesmo prestígio que seu ex-parceiro desfruta hoje.


(resenha publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 29/10/2010)




Gal Costa: caixa "Gal Total" reúne 15 primeiros discos da cantora e 28 gravações raras

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Já está nas lojas “Gal Total”, caixa que reúne os 15 primeiros álbuns da carreira de Gal Costa. Do bossa-novista “Domingo” (1967), que ela gravou em parceria com Caetano Veloso, ao popular “Baby Gal” (1983), disco que marcou o final de seu contrato com a gravadora Philips (hoje Universal), essa edição resgata, por meio da voz privilegiada dessa intérprete, um dos períodos mais criativos da música popular brasileira, com destaque para a fase tropicalista.

Além dos 15 álbuns, essa caixa também inclui um CD duplo com 28 gravações raras, extraídas de compactos, de discos de festivais ou de projetos especiais. Muitas dessas faixas estavam inéditas até hoje em CD, como “Dadá Maria” (que Gal gravou em duo com o compositor Renato Teixeira) e “Bom Dia” (de Gilberto Gil e Nana Caymmi), ambas produzidas para o LP “3º Festival da Música Popular Brasileira”, lançado em 1967.

A seguir, uma entrevista com a cantora, que fala de sua paixão pela bossa de João Gilberto e relembra o episódio da canção “Divino Maravilhoso” (veja o video abaixo), marco de uma nova atitude em sua carreira, estimulada pelas inovações da Tropicália. Finalmente, Gal anuncia para 2011 a gravação de seu novo álbum com repertório inédito assinado por Caetano Veloso.

Como foi a sensação de ver as duas primeiras décadas de sua obra musical sintetizadas em “Gal Total”?
Gal Costa - Fiquei muito feliz, porque muitos dos meus discos estavam fora de catálogo. É importante que uma obra tão rica como essa seja registrada, inclusive para os jovens de hoje que se interessam tanto por minha história como pela história do Tropicalismo.

No encarte da caixa, você comenta que resistiu muito à idéia de cantar iê-iê-iê (o rock dos anos 60), apesar da insistência de seu produtor, Guilherme Araújo. Por quê?
Gal - Como eu era totalmente apaixonada por João Gilberto, tinha uma tendência a não gostar de quase mais nada. Eu até gostava de Roberto Carlos, mas não me via cantando aquilo. Era uma questão de postura. Para mim, João Gilberto era um deus e a bossa nova era a maior música que existia no mundo.

O que a fez mudar de atitude?
Gal - Convivendo com Caetano Veloso e Gilberto Gil, fui absorvendo toda aquela discussão do Tropicalismo. Ouvia Jimi Hendrix e Janis Joplin com Gil e aquilo começou a entrar em mim. Quando fui cantar “Divino Maravilhoso” (no Festival de MPB da TV Record, em 1968), Gil perguntou como eu queria fazer. Então disse a ele que queria cantar de uma maneira bem diferente, com um arranjo extrovertido, para fora. Eu queria o oposto do que eu era. Até Caetano, que não participou do ensaio, tomou um susto quando me viu cantar (risos).

Seus fãs mais saudosistas ainda cobram que você mantenha aquela atitude transgressiva dos tempos da Tropicália?
Gal - Essa cobrança já foi feita por muito tempo, mas eu acho que hoje ninguém mais cairia no ridículo de cobrar que eu mantenha aquela postura revolucionária, que eu seja hoje o que eu era na época do Tropicalismo. Se essa cobrança ainda acontecer um dia, vou dar muita gargalhada.

Você sente saudade dos anos 60 ou 70?
Gal – Não sou uma pessoa saudosista. Posso ter saudade da época em que minha mãe era viva, mas não sinto que aquele tempo é melhor do que este. Estou num momento maravilhoso, continuo cantando muito pelo mundo todo. Minha voz está ótima, perfeita. Não perdi nada, só ganhei.

No encarte, você relembra que gravava os vocais de seus discos muitas vezes, no início da carreira. Esse perfeccionismo também tinha a ver com a admiração por João Gilberto?
Gal – Totalmente, tinha tudo a ver com João Gilberto. Não me lembro mais qual, mas sei que cheguei a gravar mais de 25 vezes uma mesma canção para o disco “Domingo”. No final, quando ouvimos, a primeira era a melhor. Com o tempo isso foi se dissipando, esse perfeccionismo exagerado acabou. Hoje, eu gravo a canção quatro ou cinco vezes e escolho a que mais gosto. Às vezes sai direto, logo na primeira vez.

Qual será seu próximo projeto? Vai mesmo gravar em 2011 o disco que Caetano Veloso prometeu produzir?
Gal - Sim, e o grande barato desse projeto é que Caetano está compondo todas as canções. Seis já estão prontas, até já tirei o tom. As músicas são lindas. Considero esse projeto uma homenagem, um presente muito especial de Caetano para mim. Ele é um irmão, temos uma grande identidade musical. Foi João Gilberto que nos uniu.

(Entrevista publicada parcialmente no “Guia da Folha – Livros, Discos e Filmes”, em 29/10/2010)


Quincy Jones: comemorando 75 anos com convidados ilustres no Montreux Jazz Festival

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Até o ano passado, os títulos de shows de jazz e blues disponíveis no formato blu-ray ainda podiam ser contados nos dedos de uma única mão. Esse catálogo vem aumentando com ótimos títulos graças à série “Live at Montreux” (distribuída no Brasil pela ST2), que exibe apresentações extraídas do arquivo do badalado festival de jazz suíço.

“The 75th Birthday Celebration” registra a noite comemorativa dos 75 anos do maestro e produtor Quincy Jones, realizada em 2008. Durante quase três horas, a trajetória desse influente músico norte-americano, no jazz, no pop e nas trilhas de cinema, é relembrada em show que conta com uma big band e convidados especiais, como Herbie Hancock, Al Jarreau, Toots Thielemans, James Moody, Lee Ritenour, Chaka Khan, Patti Austin, Curtis Stigers e Angélique Kidjo. A qualidade das imagens e do áudio é sensacional.

Confira abaixo um trecho desse show: "What's Going On", o hit de Marvin Gaye, com o trompetista James Morrison, a cantora Ledisi e o cantor Rahsaan Patterson, entre outros músicos.


(texto publicado parcialmente na revista "Homem Vogue", nº 30)


Soul Train: compilação do pioneiro programa de TV de música negra sai em caixa de DVDs

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Na década de 1970, os jovens e adolescentes norte-americanos que curtiam soul music, rhythm & blues ou funk não o perdiam por nada. Transmitido pela TV, nas manhãs de sábado, “Soul Train” foi o primeiro programa de grande alcance exclusivamente dedicado à música negra. Exibia apresentações e entrevistas de astros do gênero, como James Brown, Stevie Wonder , Al Green
(no video abaixo), Curtis Mayfield, Isaac Hayes, Chaka Khan, Jackson Five e Temptations.

Outra atração que os fãs adoravam era a Soul Train Gang, divertida trupe de bailarinos que a cada semana exibia novas danças, criando modismos, com seus cabelões afros e calças boca-de-sino (veja o clipe abaixo). Vídeos com trechos do programa, que ficou no ar durante três décadas, já circulam há tempos pela internet, mas agora é possível apreciar um número bem maior de preciosidades de seu arquivo, com o lançamento da caixa “The Best of Soul Train” (à venda no site www.timelife.com).

São oito DVDs, com mais de 13 horas de duração, que trazem o que o programa exibiu de melhor durante os anos 1970. Só o elenco reunido no primeiro volume – Aretha Franklin, Marvin Gaye, Gladys Knight, Earth, Wind & Fire, Isley Brothers e Barry White – já é capaz de deixar qualquer fã de música negra com muita água na boca.

(texto publicado na revista "Homem Vogue", nº 30 

Fernando Salem: um mergulho no universo do samba com humor afiado

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A trajetória do músico paulista Fernando Salem é tão incomum quanto sua obra. Nos anos 80 e 90, ele exercitou diversos gêneros musicais com as bandas Xoro Roxo, Clínica e Vexame – hoje compõe trilhas sonoras e escreve roteiros para cinema, TV e publicidade. Seu primeiro álbum solo, “Disco” (2000), chamou atenção pelo humor afiado e letras repletas de achados.

Só dez anos depois Salem lança outro álbum e não deixa por menos: em “Rugas na Pele do Samba” (selo Vidal), toca todos os instrumentos e assina a produção, os arranjos e 11 das 13 faixas. Nesse projeto, ele mergulha no universo do samba com o mesmo humor ácido, contando com participações de Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e Paulo Miklos.


Talvez sua irreverência, assim como os efeitos sonoros e citações sampleadas presentes em faixas como a roqueira “Sambadiferente” ou a rapeada “Mudei de Musa”, não agradem os fãs mais conservadores do samba. Os que deixarem os preconceitos musicais de lado podem se divertir ou mesmo se surpreender com as inteligentes sacadas de Salem.

(texto publicado no "Guia da Folha de Livros, Discos e Filmes", em 24/09/2010)  

Carlos Malta Quarteto: entre o jazz e a diversidade da música popular brasileira

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Depois de integrar por 12 anos o grupo de Hermeto Pascoal, seu mentor musical, o multi-instrumentista de sopros e compositor Carlos Malta vem desenvolvendo desde 1993 uma bem sucedida carreira de solista. Em “Tudo Azul” (lançamento independente), seu décimo álbum, ele adota o formato do quarteto, já clássico no universo do jazz, sem abrir mão de sonoridades e ritmos mais típicos da música popular brasileira, como a bossa nova, o baião e o partido alto.

Com o apoio seguro de Daniel Grajew (piano), Guy Sasso (baixo acústico) e Richard Montano (bateria), Malta improvisa sobre composições próprias e de seus parceiros, alargando as sonoridades do grupo ao se desdobrar nos saxofones soprano e barítono, no clarone e em várias flautas. O álbum conta também com participações eventuais das vocalistas Misty e Lorena Lobato (nas jazzísticas “Soul Sin/Sou Sim” e “Pat”) e de outros instrumentistas. Música improvisada de alta qualidade, que pode ser conferida no clipe abaixo. 

(texto publicado originalmente no "Guia da Folha de Livros, Discos e Filmes", em 24/9/2010)


Yamandu Costa e Dominguinhos: outras belezas musicais no novo encontro da dupla

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Não se engane pelo título mal escolhido. “Lado B” (lançamento Biscoito Fino), segundo álbum do violonista gaúcho Yamandu Costa com o sanfoneiro pernambucano Dominguinhos, não é composto por gravações secundárias, nem por sobras de estúdio do delicioso “Yamandu + Dominguinhos” (2007), álbum que inaugurou essa parceria. A intimidade resultante da convivência nos palcos reforçou ainda mais, nestas gravações de 2009, a espontaneidade que já caracterizava o primeiro encontro da dupla.

A tônica do repertório deste álbum está novamente em clássicos de várias épocas e gêneros da música brasileira, como o nostálgico choro “Naquele Tempo” (Pixinguinha), o vibrante baião “Pau de Arara” (Luiz Gonzaga) ou brejeiro samba “Da Cor do Pecado” (Bororó). Dominguinhos contribui com belezas de sua autoria, como a valsa “Noites Sergipanas” ou os choros “Fuga Pro Nordeste” e “Chorando em Passo Fundo”, este em homenagem à cidade natal de Yamandu, que compôs o divertido “Choro do Gago”. Tomara que essa dupla tenha vida longa.


(resenha publicada originalmente no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 24/9/2010)


"Confesso que Ouvi": livro de Érico Cordeiro traça perfis de dezenas de jazzistas

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O livro “Confesso que Ouvi” (Editora Azulejo), do maranhense Érico Renato Serra Cordeiro, enriquece a ainda reduzida bibliografia sobre o jazz em língua portuguesa. Com um texto conciso e elegante, o autor traça perfis de quase 70 jazzistas, de mestres do gênero, como Charles Mingus, Dizzy Gillespie e Lester Young, a instrumentistas menos conhecidos do grande público, como o saxofonista Lucky Thompson, o trompetista Joe Gordon ou a pianista alemã Jutta Hipp.

Grande parte dos jazzistas retratados na obra pertence às brilhantes gerações que, nas décadas de 1940 e 1950, cultivaram o bebop, o cool jazz e o hard bop – escolha que revela as preferências musicais do autor. Nesses textos, publicados previamente em seu blog Jazz + Bossa + Baratos Outros, Cordeiro combina, com o devido equilíbrio, informações biográficas e resenhas de gravações dos músicos focalizados. As frequentes referências cinematográficas e literárias indicam que a erudição do autor não se limita ao universo do jazz.


Para obter o livro de Érico Cordeiro acesse seu blog: www.ericocordeiro.blogspot.com




Projeto Coisa Fina: uma promissora homenagem ao maestro Moacir Santos

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Não é à toa que os nomes dos músicos Mario Adnet e Zé Nogueira encabeçam a lista de agradecimentos de “Homenagem ao Maestro Moacir Santos” (lançamento Movimento Elefantes/Tratore) o promissor álbum de estréia da banda paulista Projeto Coisa Fina. Em “Ouro Negro” (2001), um dos discos mais importantes da música brasileira na última década, Adnet e Nogueira revelaram às novas gerações a preciosa e ainda pouco conhecida obra de Moacir Santos (1926-2006).

Foi “Ouro Negro” que estimulou os músicos do Projeto Coisa Fina a garimpar e gravar outras jóias do maestro e originalíssimo compositor pernambucano, como a percussiva “Maracatucutê” (confira o video abaixo), a sofisticada “Stanats” (dedicada por ele ao saxofonista norte-americano Stan Getz) ou a jazzística “Coisa nº 2”.

A homenagem da banda paulista ganha um sentido especial com a inclusão de composições de seus integrantes, claramente inspiradas pelas sonoridades e pela original concepção rítmica de Moacir Santos. Onde quer que esteja agora, o grande maestro tem motivos de sobra para ficar orgulhoso desses frutos de sua música.


(resenha publicada originalmente no "Guia da Folha de Livros, Discos e Filmes", em 24/9/2010)




 

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