"Brasileiros do Mundo": nova série da Cultura FM destaca músicos bem-sucedidos no exterior

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             A cantora, pianista e compositora Tânia Maria 
       

Tânia Maria, Dom Salvador, Duduka da Fonseca, Luciana Souza e Romero Lubambo, instrumentistas e intérpretes de alto quilate, têm algo em comum nas suas trajetórias: são brasileiros que, décadas atrás, decidiram viver na Europa ou nos Estados Unidos, onde desenvolveram carreiras bem-sucedidas, tocando e/ou cantando música brasileira e jazz. Ironicamente, hoje esses artistas são mais conhecidos no exterior do que no Brasil.

Essa é a tônica de “Brasileiros do Mundo”, série de cinco programas, que idealizei e vou apresentar na Cultura FM (103,3) de São Paulo. O programa de estreia, que será exibido no dia 29/06 (domingo), às 14h, é dedicado a Tânia Maria. Essa carismática pianista, cantora e compositora decidiu se radicar na França, no início da década de 1970. Graças a seu talento musical, em pouco tempo ela se tornou uma grande estrela da cena internacional do jazz.

Nascida no Maranhão, Tânia tinha apenas dois anos quando sua família se mudou para Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro. Já cantava e tocava piano em casas noturnas, no final dos anos 1960, quando foi vítima de um abuso típico do repressivo regime militar daquela época. Numa noite, ao sair da boate carioca em que se apresentava, foi abordada por uma viatura policial e conduzida a uma delegacia, como se fosse uma prostituta. O policial chegou a rasgar sua carteira de musicista profissional.

“Foi um trauma muito grande, eu tinha 22 anos. Depois daquilo eu não podia ficar mais aqui”, relembrou Tânia, em entrevista à “Folha de S. Paulo”, em 2005, ao se apresentar no Sesc Pompeia, na capital paulista – suas primeiras apresentações em palcos brasileiros, após três décadas de autoexílio na Europa. O programa de estreia da série “Brasileiros do Mundo” destaca algumas das composições mais aplaudidas dessa sensacional artista, como “Euzinha”, “Come with Me” e “Valeu”.

O pianista e compositor carioca Antonio Adolfo (protagonista do programa de 6/07), também passou anos na Europa e nos Estados Unidos, na década de 1970. “Não fui expulso nem banido, mas saí porque estava com nojo daquela situação”, ele afirmou, em 2019, em entrevista ao site Scream & Yell. Autor de sucessos, como “BR-3” e “Juliana” (ambos em parceria com Tibério Gaspar), Adolfo foi perseguido pela ditadura militar, como outros artistas naquela época.

Ao retornar ao país, ele redirecionou sua carreira, ao se aproximar da música instrumental. Desde a década passada tem alternado períodos no Brasil e nos Estados Unidos, onde tem lançado praticamente um álbum por ano, misturando música brasileira e jazz. Alguns desses discos já receberam indicações para os prêmios Grammy e Grammy Latino.   

O caso da cantora paulista Luciana Souza, que pertence a uma geração posterior à de Antonio Adolfo e Tânia Maria, já é um pouco diferente. Ela foi estudar música nos Estados Unidos, na década de 1990, e desde então só tem retornado ao Brasil de vez em quando, para fazer shows. Filha dos compositores Walter Santos e Tereza Souza, Luciana construiu uma sólida carreira internacional na área do jazz vocal.

Os 15 álbuns que Luciana já lançou como intérprete e compositora, combinando diversos gêneros da música brasileira com influências do jazz contemporâneo e da música de câmara, têm sido elogiados por sua sofisticação. O programa protagonizado por ela vai ao ar em 13/07.

O pianista e compositor paulista Dom Salvador e o baterista carioca Duduka da Fonseca se aproximaram ainda nos anos 1970, quando já viviam na área de Nova York. Ali os dois abraçaram uma missão musical: tornaram-se embaixadores informais do samba-jazz. Não foi à toa que, em 2015, ao festejar os 50 anos de seu Rio 65 Trio, em um concerto no Carnegie Hall, Salvador convidou Duduka para substituir o lendário baterista Edison Machado (1934-1990), da formação original do trio.

Duduka retribuiu o convite do mestre paulista com uma bela homenagem: em 2018, lançou um álbum com repertório integralmente dedicado à obra musical de Dom Salvador, que hoje já reúne mais de 300 composições autorais. O programa que focaliza esses craques da música instrumental brasileira será exibido em 20/07.

Dois grandes violonistas protagonizam o último programa dessa série, que irá ao ar em 27/07. O carioca Romero Lubambo já se destacava na cena instrumental brasileira, em 1985, quando se mudou para Nova York. Hoje é admirado por sua versatilidade, ao se apresentar e gravar com artistas de diversos gêneros musicais, como as cantoras Dianne Reeves e Angélique Kidjo, o saxofonista Paquito D’Rivera ou o violinista Yo-Yo Ma.    

Por outro lado, o paulista Chico Pinheiro já era um instrumentista consagrado, em 2016, quando trocou São Paulo por Nova York. Suas colaborações com astros do jazz, como Ron Carter, Brad Mehldau e Esperanza Spalding, assim como João Donato, Dori Caymmi e outros craques da música brasileira, falam por si. A afinidade musical de Lubambo com Pinheiro é evidente em “Two Brothers”, álbum gravado por eles em 2021. Gravações desse disco em parceria abrem o repertório do programa que vai ao ar em 3/08, na Cultura FM de São Paulo, encerrando a série “Brasileiros do Mundo”.     

BRASILEIROS DO MUNDO - Série de cinco programas, que vai ao ar a partir de 29/06, nos domingos, às 14h, pela Cultura FM (103,3) de São Paulo. Roteiros e apresentação: Carlos Calado. Direção: Inez Medaglia. Se preferir, ouça esses programas ao vivo pelo site da Cultura FM no portal UOL, por meio deste link: https://cultura.uol.com.br/aovivo/4_ao-vivo-radio-cultura-fm.html

                        

Música instrumental brasileira: série 'Sons de um País Continental' estreia na Cultura FM

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                                       A instrumentista Carol Panesi, que abre a série na Cultura FM  

Reconhecido como um país onde se cultiva uma das mais originais e ricas tradições musicais do mundo, o Brasil já viveu fases mais inspiradas e criativas nessa área. Hoje não faltam exceções promissoras, mas é evidente que a produção musical mais recente, especialmente no caso das canções, soa inferior em termos melódicos e poéticos às de gerações anteriores.

A sensação é diferente quando nos depararmos com o universo da música instrumental. Seguindo o exemplo de grandes mestres desse gênero, como Pixinguinha, Moacir Santos, Hermeto Pascoal ou Egberto Gismonti, novas gerações de instrumentistas têm despontado pelo país, apoiando-se no improviso e na criatividade para buscar seus próprios caminhos sonoros musicais.

Os oito programas da série “Sons de um País Continental”, que estreia dia 4 de maio, às 19h, na Cultura FM (103,3) de São Paulo, vão traçar um panorama recente da música instrumental em nosso país. Para demonstrar que esse gênero musical está em constante evolução, o elenco do programa de abertura destaca talentosos instrumentistas e compositores de diversos estados do Brasil, em média, na faixa dos 20 ou 30 anos.   

Esse é o caso da brilhante violinista, pianista e compositora carioca Carol Panesi, que abre a série com sua composição “Forró do Marajó”, tendo a seu lado o mestre Hermeto Pascoal, uma de suas grandes influências. Mais jovem ainda é o explosivo baixista cearense Michael Pipoquinha, que recria um emotivo baião do grande sanfoneiro Dominguinhos, em parceria com o guitarrista brasiliense Pedro Martins, outro destaque dessa nova geração.

O elenco do primeiro programa destaca ainda outras elogiadas revelações do som instrumental brasileiro: a pianista paulistana Louise Wooley, o pianista e cantor carioca Jonathan Ferr, a baixista paulistana Ana Karina Sebastião, o trombonista capixaba Joabe Reis, o trio paulistano Caixa Cubo e os pianistas paulistas Henrique Mota e Gustavo Bugni. Detalhe importante: todos esses músicos também são compositores.

Os programas seguintes vão proporcionar aos ouvintes uma viagem pelas principais capitais e regiões do país, exibindo instrumentistas de diversas gerações. À cada semana será possível constatar que, assim como a língua portuguesa é falada com um sotaque particular nas diferentes regiões brasileiras, nossa música instrumental também assume sotaques locais pelo país adentro.

Este é o roteiro da viagem musical que vamos realizar em seis programas: Rio de Janeiro (11/5); Minas Gerais (18/5); São Paulo (25/5); Região Nordeste (1.º/6); Região Sul (8/6); Região Norte e Centro-Oeste (15/6). Do choro e do samba-jazz do Rio de Janeiro ao carimbó e ao beiradão do Amazonas, passando pela milonga rio-grandense, pela música caipira criada em Brasília e pelo baião nordestino, essa viagem sonora revela aspectos da diversidade musical brasileira.

A série “Sons de Um País Continental” termina em 22/6 com uma homenagem a alguns dos mestres de várias gerações da música instrumental brasileira, como Tom Jobim, Pixinguinha, Paulo Moura, Baden Powell, Moacir Santos, Egberto Gismonti, César Camargo Mariano, Nelson Ayres & Roberto Sion, Benjamim Taubkin & Ivan Vilela, Arismar do Espírito Santo, Guinga e os grupos Quarteto Novo e
Duofel.  

SONS DE UM PAÍS CONTINENTAL - Série de oito programas, que vai ao ar a partir de 4 de maio, aos domingos, às 19h, na Cultura FM (103,3) de São Paulo. Direção de Inez Medaglia. Roteiros e apresentação de Carlos Calado. Ouça os programas dessa série, que já foram ao ar, utilizando este link:

https://cultura.uol.com.br/radio/programas/sons-de-um-pais-continental/

 

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