New Orleans Jazz Fest: cantora Germaine Bazzle vem para o Bourbon Fest Paraty

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A chuva forte que caiu no final da tarde do ultimo domingo, obrigando a plateia a enfrentar muita lama nas dependências do encharcado hipódromo de Nova Orleans, não diminuiu a animação. Com capas de plástico, guarda-chuvas, ou mesmo sem proteção alguma, dezenas de milhares de fãs das bandas Earth, Wind & Fire, Gipsy Kings e Dave Mathews Band enfrentaram a intempérie para se divertir e aplaudir seus ídolos durante a 44.a edição do New Orleans Jazz Fest.

Duas horas antes que a chuva despencasse, um colorido cortejo de fãs, familiares e amigos do veterano baterista “Uncle” Lionel Batiste desfilou pelas ruas do hipódromo para prestar homenagem ao líder da tradicional Tremé Brass Band, que morreu no ano passado, aos 81 anos.

Entre as músicas melancólicas e alegres que costumam acompanhar os típicos funerais de Nova Orleans surgiu uma mais recente: “Down in Tremé”, a dançante canção de abertura da série de TV “Tremé” (exibida no Brasil pelo canal pago HBO), que tem ampliado o interesse no mundo por essa cidade tão musical, narrando histórias de sua reconstrução após a tragédia deflagrada pelo furacão Katrina.

No sábado, entre os 12 palcos que oferecem atrações simultâneas, a tenda dedicada ao jazz moderno exibiu dois carismáticos veteranos: o pianista e band leader porto-riquenho Eddie Palmieri, 77, com sua afiada Salsa Orchestra, e Germaine Bazzle (na foto acima), uma das cantoras mais conceituadas de Nova Orleans.

Aos 81 anos, Germaine esbanjou simpatia, revisitando “standards” do jazz extraídos dos repertórios de Billie Holiday, Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, entre outras grandes vocalistas de jazz que a influenciaram.

“Esta é a minha favorita”, disse ela ao abrir seu show com a canção “When You’re Smiling”, numa versão bem suingada e elegante, arrancando sorrisos e demonstrações de surpresa frente à alta energia de seus improvisos vocais.

Os paulistas que quiserem ouvi-la ao vivo, pela primeira vez no Brasil, terão que ir a Paraty (RJ), de 24 a 26 de maio, onde será realizada a quinta edição do Bourbon Fest Paraty. No elenco já estão confirmados os nomes da banda britânica Incognito e da Big Sam’s Funky Nation, banda de New Orleans que também se apresentou ontem no festival.

O Brasil esteve representado no primeiro final de semana do evento em New Orleans. No palco Jazz & Heritage (dedicado à herança musical da África), o cantor e percussionista Magary Lord fez a plateia dançar com as coreografias extravagantes de seu afro-baiano “black semba”.

O New Orleans Jazz & Heritage Festival continua na próxima semana com shows de Frank Ocean, Stanley Clarke, Terence Blanchard, Jimmy Cliff, Aaron Neville, Patty Smith e Black Keys, entre centenas de atrações.


(texto publicado originalmente na "Folha de São Paulo", em 30/04/2013)


Cacá Machado: sambas com a cara de São Paulo, em "Eslavosamba"

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O compositor, violonista e pesquisador Cacá Machado é o núcleo central deste projeto tipicamente paulistano. Ele assina as 13 faixas do álbum “Eslavosamba”, em parcerias com músicos e letristas de origens eslavas e diferentes gerações, como o “polaco” Guilherme Wisnik ou os “russos” Arthur Nestrovski e Vadim Nikitin, entre outros.

Realçada pela voz da cantora Elza Soares e pela guitarra de Kiko Dinucci, a estranheza do samba “Sim” (parceria com Eduardo Climachauska) já anuncia que não se trata de uma tradicional roda de samba. Não à toa, entoada por Ná Ozzetti, a canção “Casual” (de Machado e Nestrovski) remete ao canto falado do grupo Rumo, até na letra.


A herança da vanguarda paulista dos anos 1980 também se manifesta na desconstrução de “Valsa Lunar” (Machado e Wisnik), que traz Arrigo Barnabé e Juçara Marçal (do trio Metá Metá), nos vocais. Sem falar no roqueiro samba “Não Veio” (parceria com Rômulo Fróes) ou no instrumental “Pagode Polaco”, que Machado transforma em divertidas vinhetas. Um projeto inovador e contemporâneo, inspirado pelo samba. A cara de São Paulo. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 27/4/2013)



 

Wilson das Neves: a elegante malandragem de um veterano do samba carioca

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A malandragem frequenta o imaginário dos sambistas desde os primórdios desse gênero musical, mas raramente associada a tanta elegância como na obra de Wilson das Neves. Mais conhecido como baterista, em parcerias com Chico Buarque, Elza Soares e outros figurões da música popular brasileira, esse veterano carioca também desenvolve uma carreira paralela como cantor e compositor, que só confirma sua versatilidade.

O samba “Se Me Chamar, ô Sorte!”, parceria com Cláudio Jorge que intitula e abre o quarto álbum de Das Neves (lançamento da gravadora Universal), soa como um bem humorado cartão de visita, incluindo o bordão - “ô sorte!”- frequente em seus shows.

Bem cercado por parceiros da estatura de Nelson Sargento, Paulo César Pinheiro e Délcio Carvalho, ele conta também com saborosos arranjos de Vittor Santos, Bia Paes Leme e Jorge Helder, entre outros. “Samba Para João”, com letra de Chico Buarque, é um belo retrato do elegante sambista, dedicado ao seu bisneto. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 27/4/2013)


Igor Prado Band: blues, R&B e funk tocados com maestria por músicos brasileiros

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                                                                                   O guitarrista e band leader Igor Prado
Assim como o jazz, o blues também se tornou uma linguagem universal, nas últimas décadas. Músicos e vocalistas desse gênero, nos mais diversos cantos do mundo, são capazes de se entender muito bem, em um palco ou estúdio de gravação, sem jamais terem tocado juntos antes.

Com álbuns anteriores elogiados por conceituadas publicações norte-americanas e europeias, o guitarrista paulistano Igor Prado e sua banda demonstram, no variado repertório do álbum “Blues & Soul Sessions”, que dominam esse gênero com maestria. O contagiante R&B “Prado Special”, o slow blues “You Hurt Me” (de Little Willie John) e o funk “It’s Your Thing” (clássico da banda The Isley Brothers) são apenas alguns destaques do álbum, que conta com os vocais dos experientes norte-americanos Tia Carroll e J.J. Jackson. Como bônus, um DVD captado durante as gravações com um repertório um pouco diferente do incluído no álbum. 


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 27/4/2013)


Soul Rebels: banda de metais de New Orleans, que abriu o Jazz Fest, virá ao Brasil

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Com shows já confirmados em São Paulo, a banda norte-americana Soul Rebels está entre as atrações do 44º New Orleans Jazz & Heritage Festival – um dos maiores eventos musicais no mundo, que começou ontem (26/4), na capital cultural da Louisiana, no sul dos EUA. Essa banda de metais, que tem se destacado na cena musical de Nova Orleans, virá ao Brasil para a 11ª edição do Bourbon Street Fest, de 17 a 25 de agosto. Produzido pelo clube Bourbon Street, o evento inclui shows gratuitos, no parque do Ibirapuera. 

A Soul Rebels nasceu na década de 1990, quando os bateristas Lumar LeBlanc e Derrick Moss, integrantes da tradicional Olympia Brass Band, decidiram formar uma banda de metais mais moderna, com abertura para o soul e o funk.

“As críticas dos colegas nos deixaram meio tensos, mas, com o tempo, ajudaram a nos fortalecer. Não queríamos desrespeitar a tradição, foi um processo de evolução natural. Queríamos fazer um som mais urbano”, comenta LeBlanc, por telefone, em entrevista à "Folha de S. Paulo".

Em 2005, quando os efeitos do furacão Katrina destruíram grande parte da cidade, a Soul Rebels quase acabou. Abrigados em diversas cidades do Texas, seus integrantes enfrentaram dificuldades para voltar aos palcos. Ironicamente, em poucos anos a banda ganhou mais visibilidade do que antes. 

Depois de participar da série de TV “Treme”, que retrata o processo de reconstrução da cidade, a banda já dividiu palcos com bandas e artistas de alto calibre, como Metallica, Maceo Parker, Kanye West e Snoop Dogg, entre outros. Hoje, mesmo acostumado a tocar para plateias bem jovens, graças às ligações da banda com o hip hop, o funk e o soul, LeBlanc não menospreza seu vínculo com a eclética cultura musical de sua cidade.

“Como músicos, devemos tudo a Nova Orleans, que nos deu uma formação cultural e espiritual. Até a instrumentação de nossa banda é típica daqui. Se não tivéssemos nascido e crescido em Nova Orleans, seríamos músicos bem diferentes”, observa o baterista.

LeBlanc diz também que ficou com uma ótima impressão do Brasil, em 2010, quando se apresentou com os Soul Rebels, no festival Tudo é Jazz, em Ouro Preto (MG).

“Foi muito legal. A comida era boa e as pessoas bem simpáticas. Tivemos tempo para ver as paisagens e apreciar a música local. Pudemos sentir que o Brasil tem uma herança cultural muito grande”.

O ecletismo do New Orleans Jazz Fest

Tão eclético como a cena musical da cidade que o sedia há 44 anos, o New Orleans Jazz & Heritage Festival (que os moradores da cidade conhecem apenas por Jazz Fest) reúne atrações para todos os gostos – ou quase. Seus 12 palcos, instalados no hipódromo local, oferecem não só vários estilos de jazz, como de blues, soul, funk, R&B, gospel, hip hop, zydeco, rock, reggae, salsa, country, até música brasileira.

Neste ano o Brasil estará representado por duas atrações musicais da Bahia: o cantor, percussionista e compositor Magary Lord (que se apresenta nos dias 27 e 28/4) e o bloco afro Malê de Balê (dias 3 e 4/5).

B.B. King, Frank Ocean, Earth, Wind & Fire, George Benson, Stanley Clarke, Dianne Reeves, Patti Smith, The Black Keys, Ben Harper & Charlie Musselwhite, Joshua Redman, Roy Ayers, Wayne Shorter, Eddie Palmieri e Charles Bradley destacam-se entre as centenas de shows deste ano.

(texto publicado originalmente na versão eletrônica da "Folha de S. Paulo", em 26/4/2013)



Jane Duboc e Jeff Gardner: cantora e pianista revelam belezas sonoras em 'Home Is a River'

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O encontro da cantora Jane Duboc com o pianista e compositor Jeff Gardner revela paralelos e afinidades: paraense, ela aprimorou a técnica vocal e ampliou sua intimidade com o jazz, vivendo um período nos EUA; nova-iorquino, radicado há mais de uma década no Rio de Janeiro, ele combina sua bagagem jazzística com a admiração pela música brasileira. 

Talvez isso explique o fato de esse duo soar tão harmônico e espontâneo no CD “Home Is a River” (lançamento do selo Terramar), como se Jane e Gardner fizessem música juntos há décadas. O repertório com letras em várias línguas, todo ele de autoria do pianista, combina canções carregadas de lirismo (“Lovelight”, “Agua de Luna”, “Secret Song”), uma valsa (“O Amor Não Tem Lei”), até um choro-canção (“Chorões”). Dois rios musicais que se encontraram em um mar de belezas. (resenha originalmente publicada no “Guia Folha – Livros, Discos, Filmes”, em 30/03/2013)
 
Jane Duboc e Jeff Gardner lançam o álbum “Home Is a River”, dias 26 e 27/4, no Tom Jazz, em São Paulo. Reservas pelo telefone (11) 3255-0084.

BMW Jazz 2013: festival vai trazer músicos conceituados, em novos palcos

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                                                                                             O quarteto de jazz James Farm
Jazzistas bem conhecidos entre os apreciadores desse gênero em nosso país, como Brad Mehldau, Joshua Redman, Esperanza Spalding, Joe Lovano, Egberto Gismonti ou Pat Metheny, destacam-se no elenco do próximo BMW Jazz Festival. A terceira edição desse evento também será realizada em São Paulo (de 6 a 9/6) e no Rio de Janeiro (8 a 10/6), mas os locais dos shows mudaram: o HSBC Brasil será a sede paulista; o palco carioca passará a ser o Vivo Rio.

 “A continuidade é fator fundamental para o seu fortalecimento. E a presença certa no calendário cultural do país tem a função não só de propagar o gênero como também de fazer florescer novos talentos brasileiros, que são estimulados pela visita desses astros do jazz mundial", disse a produtora Monique Gardenberg, em coletiva de imprensa realizada ontem, em São Paulo.

O fato de vários músicos do elenco desta edição já terem se apresentado em outros festivais brasileiros, ou até no próprio BMW Jazz, não significa, necessariamente, redundância. O veterano guitarrista Pat Metheny (na foto abaixo), que vai abrir o evento, em São Paulo, virá com seu novo grupo: a Unity Band, com o saxofonista Chris Potter (que tocou aqui, nos últimos anos, com o baixista Dave Holland e com seus grupos Underground e The Overtone Quartet), o baterista Antonio Sanchez e o baixista Ben Williams.

Um dos destaques da primeira edição do próprio BMW Jazz, dois anos atrás, o saxofonista Joshua Redman retorna ao país como integrante de um quarteto de feras: o James Farm (na foto acima), que inclui o talentoso pianista Aaron Parks, o baixista Matt Penman e o baterista Eric Harland.

Depois de se apresentar em vários palcos do país, a jovem contrabaixista, vocalista e compositora Esperanza Spalding já possui uma legião de fãs locais. Provavelmente a maior revelação do jazz na última década, ela volta acompanhada pela pequena orquestra que formou para gravar seu álbum mais recente, “Radio Music Society”, com destaque para o sax alto da charmosa Tia Fuller.

Bem maior é a Orquestra Corações Futuristas, formada por 21 jovens que vão se apresentar ao lado do compositor, arranjador e multiinstrumentista Egberto Gismonti, um dos músicos brasileiros mais cultuados na cena internacional do jazz.

A parceria do saxofonista Joe Lovano com o trompetista Dave Douglas remonta a 2008, quando eles dividiram a liderança do San Francisco Jazz Collective. Depois formaram o quinteto Sound Prints, com o qual tocam composições próprias e do veterano saxofonista Wayne Shorter. 

Já o pianista Brad Mehldau (na foto ao lado) virá com os mesmos parceiros do telepático trio que o acompanhou outras vezes, o baixista Larry Grenadier e o baterista Jeff Ballard, mas quem acompanha a trajetória desses inventivos jazzistas sabe que suas apresentações costumam ser recheadas de surpresas, inclusive no repertório, que vai de releituras de hits da música pop à música brasileira.

O elenco se completa com o baterista e compositor Johnathan Blake, revelação da cena jazzística nova-iorquina, onde já acompanhou veteranos como Kenny Barron, Oliver Lake e Tom Harrell. Blake vai tocar o repertório de seu primeiro álbum, o elogiado “The Eleventh Hour”, lançado em 2012, com seu quinteto, que destaca também o sax alto de Jaleel Shaw.

Mais informações no site do BMW Jazz Festival

Tributo a Tom Jobim: "Coleção Folha" homenageia o grande compositor da bossa e da MPB

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Bancas e livrarias de São Paulo já começaram a receber os primeiros volumes da "Coleção Folha Tributo a Tom Jobim", que chega ao resto do país até domingo. Os 20 CDs-livretos dessa série destacam discos de carreira, as parcerias de Jobim com Vinicius de Moraes, João Gilberto, Dorival Caymmi, Elis Regina e Edu Lobo, registros de seus shows históricos. E incluem duas compilações com suas canções gravadas por alguns dos maiores intérpretes brasileiros, como Gal Costa, Caetano Veloso, Nana Caymmi e Ney Matogrosso.

Além de ter escrito os livretos dos volumes "Tom Canta Vinicius", "Elis & Tom", "Getz/Gilberto" e "Antonio Carlos Jobim and Friends", para mim foi um grande prazer editar essa coleção, na qual pude contar com as colaborações de alguns dos mais conceituados críticos e repórteres especializados em música popular brasileira: Tárik de Souza, Antônio Carlos Miguel, Lauro Lisboa Garcia, Mauro Ferreira e Lucas Nobile.


Também foi um privilégio passar os últimos meses revendo a trajetória desse grande compositor e artista, além de reouvir suas gravações. Ao contrário de tantas figuras públicas que nos envergonham diariamente, neste país repleto de absurdos, Tom Jobim continua a ser um motivo de orgulho para muitos brasileiros.


Outras informações no site www.folha.com.br/tomjobim

 

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