Sesc Jazz: festival retorna com atrações da África, dos EUA e da América Latina

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                  Dom Salvador e Amaro Freitas estarão no 6º Sesc Jazz/ Fotos: Carlos Calado   

Um dos festivais de música mais originais de nosso país, o Sesc Jazz anunciou as atrações de sua sexta edição. Agora produzido de dois em dois anos, o sucessor do Jazz na Fábrica (festival realizado na unidade do Sesc Pompeia até 2017) vai levar sua programação de shows de 27 artistas e grupos internacionais e brasileiros a nove unidades do Sesc na capital e no estado de São Paulo, de 14 de outubro a 2 de novembro. 

Entre os destaques de seu eclético cardápio musical, o Sesc Jazz promove um inédito encontro de dois grandes pianistas e compositores: o mestre paulista Dom Salvador, pioneiro do samba-jazz radicado em Nova York desde 1973, e o pernambucano Amaro Freitas, uma das maiores revelações do jazz brasileiro nas últimas décadas. O fato de esse encontro de gerações ocupar três noites na grade de programação (de 15 a 17/10) já sugere que esse show deve ser um dos mais disputados do evento.

Entre outras atrações brasileiras, o festival também oferece um histórico reencontro musical. Radicada há mais de 40 anos na França, a cantora Evinha (ex-vocalista do Trio Esperança) terá a seu lado o cantor e pianista Marcos Valle, expoente da segunda geração da bossa nova. Juntos vão revisitar canções que ele compôs especialmente para ela, na transição dos anos 1960 para os 1970.   

Outro show inédito vai homenagear Leny Andrade, grande estrela do samba-jazz, que perdemos dois anos atrás. Um merecido tributo a seu imenso talento vocal vai reunir três cantoras que transitam com facilidade pelo universo do jazz: a carioca Eliana Pittman, a mineira Rosa Maria Collin e a hondurenha Indiana Nomma. No palco, também estarão dois pianistas que costumavam tocar com a homenageada: João Carlos Coutinho, que assina a direção musical desse show, e Gilson Peranzzetta, em participação especial.      

                                     


Quem abre essa edição do festival (dias 14 e 15/10, no Sesc Pompeia) é o carismático cantor, compositor e guitarrista senegalês Baaba Maal (na foto acima). Conhecido na cena internacional da música desde o final da década de 1980, ele se tornou uma espécie de embaixador cultural de seu país e da própria África. Com o passar dos anos sua música tornou-se mais e mais eclética, revelando até influências do funk, do reggae e do blues. Entre suas gravações mais conhecidas, a canção “Wakanda” fez parte da trilha sonora do filme “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre” (de 2022).  

Dos Estados Unidos virão dois conceituados jazzistas, que iniciaram suas carreiras sob a estética experimental da AACM (Associação para o Avanço dos Músicos Criativos), fundada em 1965, em Chicago, Illinois. Dois anos antes, saída do estado do Arkansas, a pianista, vocalista e compositora Amina Claudine Myers (na foto abaixo) se radicou nessa metrópole. Ali desenvolveu parcerias com expoentes do jazz de vanguarda, como Lester Bowie e Henry Threadgill, mas com o passar do tempo suas referências tornaram-se mais amplas, incluindo influências de vertentes tradicionais da música negra, como o blues e o gospel.  



Nascido em Chicago, o percussionista e compositor Kahil El’Zabar lidera há cinco décadas o Ethnic Heritage Ensemble (Conjunto Herança Étnica). Em suas composições e releituras musicais, El’Zabar adapta aos ouvidos de hoje elementos da tradição musical africana. Artista sem preconceitos, ele já dividiu gravações com jazzistas de vanguarda, como os saxofonistas Archie Shepp e Pharoah Sanders, assim como já tocou com artistas da música negra norte-americana, como Stevie Wonder e Nina Simone.

Como já se viu durante as edições anteriores do Sesc Jazz, nesse panorama da música improvisada contemporânea traçado pela equipe de curadores do festival, o conceito de Sul Global confere protagonismo aos músicos que se valem da linguagem jazzística na América Latina, assim como valoriza a tradição da música africana e sua cena mais moderna.

Além do embaixador cultural Baaba Maal (do Senegal), o continente africano está representado nessa edição por Alogte Oho, uma das vozes mais representativas da cena gospel de Ghana, que vem acompanhado pelo grupo His Sounds of Joy. Já a cantora e compositora Gabi Motuba, da África do Sul, dialoga com o jazz e a vanguarda, em sua obra musical, revelando também preocupações sociais e políticas em sua canções.

                               



Entre os destaques da América Latina está a cantora, pianista e atriz Aymée Nuviola (na foto acima), herdeira de estrelas da canção cubana como Celia Cruz e Omara Portuondo, que viu sua carreira internacional decolar na década passada. Conhecido aqui por suas parcerias com Hermeto Pascoal e Airto Moreira, o multi-instrumentista e compositor uruguaio Hugo Fattoruso será acompanhado por seu grupo Barrio Sur. Da Colômbia vem o De Mar y Rio, grupo que resgata a música tradicional de marimba (instrumento de percussão semelhante ao xilofone), com vocais femininos.

O palco externo do Sesc Pompeia, que já funcionava em edições anteriores do festival, oferece uma programação ao ar livre especialmente caprichada neste ano, com entrada franca aos domingos. Essa compacta mostra de projetos inéditos começa no dia 19/10, com a banda paulistana Aláfia revivendo clássicos do funk do norte-americano George Clinton e sua psicodélica banda Parliament.

                                               

O projeto “Coisas Supremas: conexão entre ‘Coisas’ e ‘A Love Supreme’”, do trombonista e arranjador Allan Abbadia, vai revisitar pérolas musicais dos mestres Moacir Santos e John Coltrane, em 26/10. Finalmente, em 2/11, o lendário Trio Mocotó (na foto acima) revisita o suingue do clássico álbum “Força Bruta”, que gravaram ao lado de Jorge Ben, em 1970. A cantora Ellen Oléria fará uma participação especial.

Os curadores do 6.º Sesc Jazz também prepararam, especialmente para estudantes e profissionais de música, uma série de oficinas, cursos, masterclasses e workshops. Confira a relação dessas atividades formativas, assim como a programação completa dos shows e o esquema de venda dos ingressos, no site do festival: 

sescsp.org.br/sescjazz





 

Dom Salvador: pioneiro do samba-jazz e do samba-soul relembra sua banda Abolição

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                                     Dom Salvador (no piano, ao centro) e os músicos do Abolição   

O pianista e compositor Dom Salvador agradeceu os aplausos da plateia paulistana, ao final do show de ontem (7/09), com uma elegante reverência. Não foi por cansaço, muito menos por esnobismo, que ele e os músicos do quarteto Abolição deixaram o palco – na área externa da 36.ª Bienal de Artes de São Paulo, no Parque Ibirapuera – sem atender aos pedidos de bis.

Já fora de cena, agitando as mãos, Salvador explicou a alguns fãs o motivo da indesejada interrupção do show: dores provocadas por câimbras, que o impediram de tocar por mais alguns minutos. Um probleminha físico que esse resiliente pioneiro do samba-jazz (prestes a completar 87 anos na próxima sexta, 12/09) enfrenta de vez em quando, mas não o impede de seguir tocando regularmente.

Os felizardos ali presentes assistiram a um show histórico, que reuniu o líder e dois remanescentes da cultuada banda Abolição, desativada em 1972, após uma breve carreira de dois anos. Seu único disco, “Som, Sangue e Raça” (lançado em 1971), seguiu influenciando as gerações posteriores, com suas misturas de samba, jazz, soul, R&B, funk e outras vertentes da música negra brasileira.

Do quarteto liderado por Salvador fazem parte o baixista Rubão Sabino e o guitarrista Zé Carlos, seus antigos parceiros da banda Abolição, além do saxofonista Tino Jr. No repertório do show não faltaram clássicos da banda, como “Moeda, Reza e Cor”, “Samba do Malandrinho” e “Tema pro Gaguinho”, além de “Uma Vida” e “Hei! Você”, que os fãs cantaram junto com Sabino.   

Na plateia, além de vários músicos, estava o camaronês Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, curador desta edição da Bienal (inaugurada anteontem, com entrada franca), que tomou como inspiração o poema “Da Calma e do Silêncio”, da escritora mineira Conceição Evaristo.

Sentada ao lado do curador estava a senegalesa Veronika Châtelain, diretora do programa Jazz Legacies Fellowship, da Jazz Foundation of America, que vai apoiar 50 veteranos músicos de jazz, fornecendo apoio financeiro para seus projetos de gravação e turnês, entre outras atividades, durante os próximos quatro anos.

Salvador foi incluído entre os 20 primeiros contemplados por esse projeto, ao lado de conceituados jazzistas norte-americanos, como o saxofonista George Coleman, a vocalista Carmen Lundy, a pianista Amina Claudine-Myers e o baterista Herlin Riley, entre outros. Um importante reconhecimento aos legados desses artistas.

Para quem perdeu essa rara apresentação de Dom Salvador, que vive em Nova York desde 1973, ele deixa uma mensagem de consolo: vai retornar a São Paulo em outubro, para mais alguns shows, com uma formação instrumental diferente. O local e as datas dessas apresentações serão divulgados em breve.


Bourbon Street Fest: evento comemora seus 20 anos de conexão New Orleans-São Paulo

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                                                O baixista e cantor Tony Hall, no 20.º Bourbon Street Fest

Neste momento em que as relações diplomáticas e econômicas entre o Brasil e os Estados Unidos estão bastante estremecidas, a realização do 20.º Bourbon Street Fest (em São Paulo, na semana passada) provocou uma breve reflexão. Não fosse a admiração que as plateias brasileiras cultivam há mais de um século por diversos gêneros da música norte-americana (relação que se tornou de mão dupla desde a explosão mundial da bossa nova nos anos 1960), hoje seria mais difícil imaginar que um evento como esse pudesse festejar seu 20.º aniversário.

Tive a sorte de acompanhar toda a trajetória desse festival criado por Edgard Radesca e Herbert Lucas, diretores do Bourbon Street Music Club. Inaugurada em dezembro de 1993 com um histórico show do “rei do blues” B.B. King, essa casa noturna paulistana nasceu sob a inspiração da rica cena musical e gastronômica de New Orleans – a cidade mais famosa do estado norte-americano de Louisiana. E assim, dedicando sua programação ao jazz, ao blues, ao R&B e outras vertentes da black music, além da música brasileira, naturalmente, tornou-se um dos melhores clubes do gênero na América Latina.

Depois de trazerem a São Paulo dezenas de conceituados artistas da cena musical de New Orleans, como Bryan Lee, Marva Wright, Charmaine Neville e Jon Cleary, para temporadas de shows no clube,os diretores do Bourbon Street decidiram elevar essa ponte musical a outro patamar. Para comemorar os 10 anos da casa, em 2003, criaram o Bourbon Street Festival, evento que segue o perfil eclético do New Orleans Jazz & Heritage Festival, um dos maiores eventos musicais do mundo, realizado naquela cidade desde 1970.

Em meio às eventuais dificuldades para contar com patrocínios regulares, durante essas duas décadas, Edgard Radesca e Herbert Lucas seguiram à risca a missão de trazer ao Brasil mostras da diversidade que caracteriza o cenário musical de New Orleans. Não foi diferente nesta edição: o elenco do festival paulistano exibiu destaques como o tecladista e compositor Ivan Neville, herdeiro de uma das famílias musicais mais importantes de New Orleans, a banda The Rumble, a cantora JJ Thames e o baixista Tony Hall, já conhecido pela plateia de São Paulo. Vale lembrar, sempre com alguns shows gratuitos, na programação.

Por tudo que já fizeram para manter essa preciosa ponte musical entre São Paulo e New Orleans (duas cidades cosmopolitas que valorizam a cultura e, de modo geral, são conhecidas por receberem bem os imigrantes que as escolhem para morar), os diretores do Bourbon Street Fest já mereceriam ser condecorados, tanto no Brasil como nos Estados Unidos.



"Brasileiros do Mundo": nova série da Cultura FM destaca músicos bem-sucedidos no exterior

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             A cantora, pianista e compositora Tânia Maria 
       

Tânia Maria, Dom Salvador, Duduka da Fonseca, Luciana Souza e Romero Lubambo, instrumentistas e intérpretes de alto quilate, têm algo em comum nas suas trajetórias: são brasileiros que, décadas atrás, decidiram viver na Europa ou nos Estados Unidos, onde desenvolveram carreiras bem-sucedidas, tocando e/ou cantando música brasileira e jazz. Ironicamente, hoje esses artistas são mais conhecidos no exterior do que no Brasil.

Essa é a tônica de “Brasileiros do Mundo”, série de cinco programas, que idealizei e vou apresentar na Cultura FM (103,3) de São Paulo. O programa de estreia, que será exibido no dia 29/06 (domingo), às 14h, é dedicado a Tânia Maria. Essa carismática pianista, cantora e compositora decidiu se radicar na França, no início da década de 1970. Graças a seu talento musical, em pouco tempo ela se tornou uma grande estrela da cena internacional do jazz.

Nascida no Maranhão, Tânia tinha apenas dois anos quando sua família se mudou para Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro. Já cantava e tocava piano em casas noturnas, no final dos anos 1960, quando foi vítima de um abuso típico do repressivo regime militar daquela época. Numa noite, ao sair da boate carioca em que se apresentava, foi abordada por uma viatura policial e conduzida a uma delegacia, como se fosse uma prostituta. O policial chegou a rasgar sua carteira de musicista profissional.

“Foi um trauma muito grande, eu tinha 22 anos. Depois daquilo eu não podia ficar mais aqui”, relembrou Tânia, em entrevista à “Folha de S. Paulo”, em 2005, ao se apresentar no Sesc Pompeia, na capital paulista – suas primeiras apresentações em palcos brasileiros, após três décadas de autoexílio na Europa. O programa de estreia da série “Brasileiros do Mundo” destaca algumas das composições mais aplaudidas dessa sensacional artista, como “Euzinha”, “Come with Me” e “Valeu”.

O pianista e compositor carioca Antonio Adolfo (protagonista do programa de 6/07), também passou anos na Europa e nos Estados Unidos, na década de 1970. “Não fui expulso nem banido, mas saí porque estava com nojo daquela situação”, ele afirmou, em 2019, em entrevista ao site Scream & Yell. Autor de sucessos, como “BR-3” e “Juliana” (ambos em parceria com Tibério Gaspar), Adolfo foi perseguido pela ditadura militar, como outros artistas naquela época.

Ao retornar ao país, ele redirecionou sua carreira, ao se aproximar da música instrumental. Desde a década passada tem alternado períodos no Brasil e nos Estados Unidos, onde tem lançado praticamente um álbum por ano, misturando música brasileira e jazz. Alguns desses discos já receberam indicações para os prêmios Grammy e Grammy Latino.   

O caso da cantora paulista Luciana Souza, que pertence a uma geração posterior à de Antonio Adolfo e Tânia Maria, já é um pouco diferente. Ela foi estudar música nos Estados Unidos, na década de 1990, e desde então só tem retornado ao Brasil de vez em quando, para fazer shows. Filha dos compositores Walter Santos e Tereza Souza, Luciana construiu uma sólida carreira internacional na área do jazz vocal.

Os 15 álbuns que Luciana já lançou como intérprete e compositora, combinando diversos gêneros da música brasileira com influências do jazz contemporâneo e da música de câmara, têm sido elogiados por sua sofisticação. O programa protagonizado por ela vai ao ar em 13/07.

O pianista e compositor paulista Dom Salvador e o baterista carioca Duduka da Fonseca se aproximaram ainda nos anos 1970, quando já viviam na área de Nova York. Ali os dois abraçaram uma missão musical: tornaram-se embaixadores informais do samba-jazz. Não foi à toa que, em 2015, ao festejar os 50 anos de seu Rio 65 Trio, em um concerto no Carnegie Hall, Salvador convidou Duduka para substituir o lendário baterista Edison Machado (1934-1990), da formação original do trio.

Duduka retribuiu o convite do mestre paulista com uma bela homenagem: em 2018, lançou um álbum com repertório integralmente dedicado à obra musical de Dom Salvador, que hoje já reúne mais de 300 composições autorais. O programa que focaliza esses craques da música instrumental brasileira será exibido em 20/07.

Dois grandes violonistas protagonizam o último programa dessa série, que irá ao ar em 27/07. O carioca Romero Lubambo já se destacava na cena instrumental brasileira, em 1985, quando se mudou para Nova York. Hoje é admirado por sua versatilidade, ao se apresentar e gravar com artistas de diversos gêneros musicais, como as cantoras Dianne Reeves e Angélique Kidjo, o saxofonista Paquito D’Rivera ou o violinista Yo-Yo Ma.    

Por outro lado, o paulista Chico Pinheiro já era um instrumentista consagrado, em 2016, quando trocou São Paulo por Nova York. Suas colaborações com astros do jazz, como Ron Carter, Brad Mehldau e Esperanza Spalding, assim como João Donato, Dori Caymmi e outros craques da música brasileira, falam por si. A afinidade musical de Lubambo com Pinheiro é evidente em “Two Brothers”, álbum gravado por eles em 2021. Gravações desse disco em parceria abrem o repertório do programa que vai ao ar em 3/08, na Cultura FM de São Paulo, encerrando a série “Brasileiros do Mundo”.     

BRASILEIROS DO MUNDO - Série de cinco programas, que vai ao ar a partir de 29/06, nos domingos, às 14h, pela Cultura FM (103,3) de São Paulo. Roteiros e apresentação: Carlos Calado. Direção: Inez Medaglia. Se preferir, ouça esses programas ao vivo pelo site da Cultura FM no portal UOL, por meio deste link: https://cultura.uol.com.br/aovivo/4_ao-vivo-radio-cultura-fm.html

                        

Música instrumental brasileira: série 'Sons de um País Continental' estreia na Cultura FM

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                                       A instrumentista Carol Panesi, que abre a série na Cultura FM  

Reconhecido como um país onde se cultiva uma das mais originais e ricas tradições musicais do mundo, o Brasil já viveu fases mais inspiradas e criativas nessa área. Hoje não faltam exceções promissoras, mas é evidente que a produção musical mais recente, especialmente no caso das canções, soa inferior em termos melódicos e poéticos às de gerações anteriores.

A sensação é diferente quando nos depararmos com o universo da música instrumental. Seguindo o exemplo de grandes mestres desse gênero, como Pixinguinha, Moacir Santos, Hermeto Pascoal ou Egberto Gismonti, novas gerações de instrumentistas têm despontado pelo país, apoiando-se no improviso e na criatividade para buscar seus próprios caminhos sonoros musicais.

Os oito programas da série “Sons de um País Continental”, que estreia dia 4 de maio, às 19h, na Cultura FM (103,3) de São Paulo, vão traçar um panorama recente da música instrumental em nosso país. Para demonstrar que esse gênero musical está em constante evolução, o elenco do programa de abertura destaca talentosos instrumentistas e compositores de diversos estados do Brasil, em média, na faixa dos 20 ou 30 anos.   

Esse é o caso da brilhante violinista, pianista e compositora carioca Carol Panesi, que abre a série com sua composição “Forró do Marajó”, tendo a seu lado o mestre Hermeto Pascoal, uma de suas grandes influências. Mais jovem ainda é o explosivo baixista cearense Michael Pipoquinha, que recria um emotivo baião do grande sanfoneiro Dominguinhos, em parceria com o guitarrista brasiliense Pedro Martins, outro destaque dessa nova geração.

O elenco do primeiro programa destaca ainda outras elogiadas revelações do som instrumental brasileiro: a pianista paulistana Louise Wooley, o pianista e cantor carioca Jonathan Ferr, a baixista paulistana Ana Karina Sebastião, o trombonista capixaba Joabe Reis, o trio paulistano Caixa Cubo e os pianistas paulistas Henrique Mota e Gustavo Bugni. Detalhe importante: todos esses músicos também são compositores.

Os programas seguintes vão proporcionar aos ouvintes uma viagem pelas principais capitais e regiões do país, exibindo instrumentistas de diversas gerações. À cada semana será possível constatar que, assim como a língua portuguesa é falada com um sotaque particular nas diferentes regiões brasileiras, nossa música instrumental também assume sotaques locais pelo país adentro.

Este é o roteiro da viagem musical que vamos realizar em seis programas: Rio de Janeiro (11/5); Minas Gerais (18/5); São Paulo (25/5); Região Nordeste (1.º/6); Região Sul (8/6); Região Norte e Centro-Oeste (15/6). Do choro e do samba-jazz do Rio de Janeiro ao carimbó e ao beiradão do Amazonas, passando pela milonga rio-grandense, pela música caipira criada em Brasília e pelo baião nordestino, essa viagem sonora revela aspectos da diversidade musical brasileira.

A série “Sons de Um País Continental” termina em 22/6 com uma homenagem a alguns dos mestres de várias gerações da música instrumental brasileira, como Tom Jobim, Pixinguinha, Paulo Moura, Baden Powell, Moacir Santos, Egberto Gismonti, César Camargo Mariano, Nelson Ayres & Roberto Sion, Benjamim Taubkin & Ivan Vilela, Arismar do Espírito Santo, Guinga e os grupos Quarteto Novo e
Duofel.  

SONS DE UM PAÍS CONTINENTAL - Série de oito programas, que vai ao ar a partir de 4 de maio, aos domingos, às 19h, na Cultura FM (103,3) de São Paulo. Direção de Inez Medaglia. Roteiros e apresentação de Carlos Calado. Ouça os programas dessa série, que já foram ao ar, utilizando este link:

https://cultura.uol.com.br/radio/programas/sons-de-um-pais-continental/

Filó Machado: novo álbum instrumental com melodias contagiantes e muita alegria

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                                  O violonista e compositor paulista Filó Machado - Foto de Dani Gurgel/Divulgação
 

Filó Machado vive um momento especialmente feliz e produtivo, neste final de 2024. No mesmo 20 de dezembro, dia em que seu novo álbum “Cisne Negro” vai estrear nas plataformas de streaming com canções de sua autoria em parceria com o saudoso letrista Aldir Blanc, o compositor e violonista paulista lança também “A Música Negra de Filó Machado” – álbum com 11 temas instrumentais compostos por ele desde meados da década de 1970.

O rótulo “música negra” soa bem adequado ao repertório desse disco, que reúne sambas, baiões, muito swing e improvisos jazzísticos, destacando alguns dos melhores músicos da cena instrumental de São Paulo. Depois de me deliciar ouvindo esse álbum, penso que ele também poderia se chamar “A Música Feliz de Filó Machado”, tamanhas são as doses de alegria e de prazer, que esse mestre da arte musical e sua banda de craques transmitem nessas gravações.

“Para mim, é sempre uma alegria muito grande tocar com esses músicos, porque somos amigos e a gente se diverte muito quando estamos juntos. Faço música pensando numa coisa legal, numa coisa pura. Por isso, nunca fiz sucesso”, brinca Filó, ironizando as dificuldades que enfrentou durante as duas primeiras décadas de sua carreira profissional, quando tocava em bares e boates da noite paulistana.

Reconhecido na Europa

A virada na trajetória musical desse paulista de Ribeirão Preto começou no final dos anos 1980, quando decidiu tentar a sorte na Europa. Durante sete anos ele se apresentou em diversos países daquele continente, incluindo alguns festivais e palcos de prestígio. Na França, especialmente, conquistou muitas plateias e as atenções de dois músicos conceituados: o pianista e compositor de trilhas cinematográficas Michel Legrand e o guitarrista de jazz Sylvain Luc, que se tornaram seus parceiros.

“Michel me valorizava muito como músico. Éramos como irmãos.”, relembra Filó, que dedicou a ele a composição “To My Friend Legrand”, após receber a notícia de sua morte, em 2019. Curiosamente, essa bela e melancólica balada é a única faixa que não adere à alegria predominante no repertório desse disco – aliás, sete das onze faixas são dedicadas a amigos e parceiros musicais de Filó.

Para abrir o álbum, ele escolheu “Jojô”, um tema dançante em ritmo cubano que os músicos das antigas chamariam de chá-chá-chá, apimentado com um naipe de instrumentos de sopro. Essa faixa é dedicada à Dra. Joelma Florencio, sua dentista. “A Jojô se arriscou durante a pandemia, para fazer implantes dentários e cuidar da minha saúde. Fiquei tão grato que decidi fazer essa música para ela”, conta o compositor.

Contagiante também é o baião “Wal”, dedicado a Walquíria, uma fã que ia com frequência ao bar paulistano Boca da Noite, nos anos 1980, para ouvir Filó. Já a jazzística “L’Habitant du Ciel” – com destaque para as exuberantes participações do saxofonista JP Barbosa e do baixista Thiago Espírito Santo – é uma homenagem a Zito Vieira (pai da produtora paulista Lucia Rodrigues), que morreu no período em que Filó vivia na França. O título da composição se refere ao fato de seu amigo ter sido sepultado em um cemitério vertical da cidade de Santos, no litoral paulista.

Sambas para os amigos

Filó também dedicou composições a três músicos que admirava. No samba “Vadeco”, ele relembra o guitarrista de São José do Rio Preto, que o ajudou com muitas dicas musicais, na época em que ainda tocava em bailes, no interior paulista. “Tema pro Macumbinha” é um samba bem suingado, que Filó dedicou ao violonista paulistano, seu compadre, que morreu tragicamente junto com sua família, em 1977, num acidente de vazamento de gás.

Tema Pro Tio” é um descontraído tributo ao pianista e compositor Laércio de Freitas, muito querido na cena musical de São Paulo, que se foi em meados de 2024. De essência jazzística, essa é a faixa mais livre do disco. Para realizar a gravação, Filó convidou Arismar do Espírito Santo para um duo de violões. “Já cheguei com o tema pronto no estúdio e disse pro Arismar: ‘Vâm’bora’, mas ele perguntou: ‘Como é que a gente vai fazer?’. Respondi: ‘Você fez uma pergunta dessas pra mim? Tá envelhecendo, né?’, diverte-se Filó, rindo da provocação que fez ao parceiro. Como ele, Arismar é conhecido por ser um grande improvisador.

Até mesmo ao homenagear Ligia Zveibil, sua esposa, que morreu um ano atrás em decorrência de um câncer, Filó conseguiu driblar a melancolia. “Ela sofreu demais. Fiquei completamente desnorteado”, relembra, emocionado. Ao compor o suingado tema “Zveibil Song”, o compositor preferiu perpetuar a alegria e leveza que caracterizavam sua relação com Lígia. Filó gravou essa música sozinho, improvisando vocais sem palavras e estalando os dedos, além de tocar teclados.  

Mesmo quando não são dedicados a alguém em particular, os temas instrumentais de Filó remetem a lembranças particulares ou mesmo a histórias que ele conta com prazer. Como a do sinuoso “Baião do Porão”, composto na década de 1980, quando o músico morava em uma casa no bairro de Vila Mariana, em São Paulo. “A gente sempre estava ensaiando no porão daquela casa”, comenta Filó, lembrando também que chegou a gravar esse tema com músicos da França e, mais tarde, na Itália, quando vivia na Europa.

Na cabine de um avião

Mais inusitado é o seu relato da criação de “Plano de Voo”, samba com uma melodia que lembra trilhas sonoras de filmes épicos. Em 1979, Filó voltava de um show em Campo Grande (MS), quando a aeromoça do voo o levou até a cabine de comando. O piloto era um fã que costumava ouvi-lo no Boca da Noite e o convidou a apreciar a vista panorâmica. Filó desceu do avião, levando uma irresistível composição, que nasceu durante o voo. 

Finalmente, “Tarde de Novembro” é uma rara incursão de Filó pelo universo da música clássica. Essa sonata pouco convencional, composta por ele em 1975, inclui entre seus seis movimentos um samba, uma mazurca e uma bachiana. No primeiro movimento, destaca-se a voz de Isabela Mestriner Machado, filha de Filó, que é cantora lírica.

Ao comentar essa faixa, Filó relembra que estudou a música clássica de Bach, assim como obras de autores mais contemporâneos, como Stravinski, Bártok e Berg, estimulado por Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005), influente compositor e educador alemão, que viveu suas últimas três décadas no Brasil. Filó chegou a cursar um estágio de um mês, com 12 horas diárias, ministrado por ele. “Como eu tocava na noite, só podia dormir duas ou três horas por dia para chegar a tempo nas aulas, que começavam às 8h da manhã”.  

No final de 1996, quando Filó retornou ao país depois sete anos tocando na Europa, este repórter ainda teve que explicar aos editores do caderno de cultura da “Folha de S. Paulo” porque ele merecia ser tema de uma reportagem. “O meu desejo é que dê certo aqui. Nunca pensei em ficar vivendo no exterior”, me disse Filó, ao entrevista-lo. “Durante a fase mais difícil, cheguei até a pensar que havia algum problema com a minha música”, admitiu, já mais consciente do alto conceito que desfruta nos meios musicais.

Banda de craques

Por essas e outras, quase três décadas mais tarde, hoje é um prazer especial sentir a alegria de Filó Machado ao lançar seu 15.º álbum ao lado de craques da música instrumental produzida em São Paulo, como Daniel D’Alcântara e Sidmar Vieira (trompetes), Jorginho Neto (trombone), JP Barbosa (sax tenor), Salomão Soares (teclados), Thiago Espírito Santo (baixo elétrico) e Fábio Leandro (piano acústico). Sem falar no talento musical da família de Filó, que cresce a cada ano, muito bem representada por seu neto Felipe (voz e violão), seu filho Sérgio (bateria) e seu irmão Gera (percussão).

“As coisas mudaram muito, porque antigamente você sempre estava na dependência de alguma coisa”, compara hoje o compositor e cantor, referindo-se às dificuldades que ele e muitos artistas enfrentavam para lidar com as gravadoras e os meios de comunicação, antes do advento da internet e das redes sociais. “Hoje estou muito mais feliz fazendo minha música”, afirma.

Outra mudança trazida pelas redes sociais, segundo Filó, é o acesso direto e mais fácil aos fãs. “Agora eu crio minhas músicas e já não me sinto sozinho como antes. Eu posto alguma coisa minha nas redes e, de repente, já tem 30 mil, 50 mil, 100 mil visualizações. Daí eu me sinto na responsabilidade de continuar fazendo música com mais de cinco acordes”, diverte-se. “Hoje eu sinto que tenho espaço para fazer meu trabalho. Quem gosta da minha música vai curtir no Brasil, na Nova Zelândia, na Inglaterra, na Coreia, na China, em todo lugar”, comemora o hoje realizado compositor e instrumentista.

                                                                 (Texto escrito a convite da produção do artista)

"A Música Negra de Filó Machado" - 15.º álbum do violonista, compositor e cantor paulista chega às plataformas de streaming neste dia 20/12.




Rodolfo Stroeter: baixista do grupo Pau Brasil lança "Madurô", um autorretrato musical

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                         O baixista e compositor paulistano Rodolfo Stroeter - Foto de Gal Oppido/Divulgação  

Um dos fundadores do conceituado grupo instrumental Pau Brasil, com o qual se apresenta e tem feito gravações desde os anos 1980, o contrabaixista, compositor e produtor paulistano Rodolfo Stroeter vai surpreender seus fãs. “Madurô”, seu segundo disco solo (lançamento do selo Pau Brasil), destaca um repertório autoral com dez canções e três temas instrumentais.

“Este disco é uma espécie de autorretrato musical, que inclui minha família e meus amigos”, sintetiza Stroeter. Nessas gravações, ele reencontra parceiros como os cantores Sérgio Santos, Joyce Moreno, Marlui Miranda e Céline Rudolph, o baterista Tutty Moreno, o pianista Helio Alves e seu filho Noa Stroeter, contrabaixista do Caixa Cubo Trio. E ainda, naturalmente, o quinteto Pau Brasil.  

Vale lembrar que, em seu primeiro disco solo (“Mundo”, lançado em 1986 pelo selo Continental), Stroeter já demonstrara ser um compositor que dialoga com diversas influências: da MPB ao instrumental brasileiro; do jazz à música clássica. Joyce e Marlui também participaram do elenco desse álbum, assim como o pianista e arranjador Nelson Ayres, do Pau Brasil.  

Contrapontos com parceiros

Agora, ao conceber “Madurô”, Stroeter decidiu dedicar mais espaço às suas canções inéditas – algumas compostas ainda nos anos 1980. Acostumado a trabalhar em grupo, mesmo quando produz o disco de algum intérprete, ele gosta de estabelecer contrapontos com os parceiros. “Quando comecei a fazer este disco, percebi que agora o contraponto seria comigo. Não consigo fazer isso sozinho”, admite Stroeter, que mais uma vez convocou parceiros e amigos, para formar um elenco de alto quilate.

Interpretada por Sérgio Santos, a singela canção “Boa Noite, Sereno” desfia sensações e descobertas de um primeiro namoro. O belo timbre do cantor mineiro também empresta brilho especial à lírica canção que dá título ao álbum. Curiosamente, conta Stroeter, a letra de “Madurô” ficou inacabada até ele reencontrá-la em um velho caderno. Logo depois achou a solução que buscava para conclui-la graças a uma sugestão de Noa.

Três cantoras, com as quais Stroeter desenvolve parcerias há décadas, também contribuíram para outras belezas do álbum. Já gravada por Monica Salmaso, a canção “Estrela de Oxum” ressurge na voz de Joyce, em delicado arranjo que destaca o piano de Nelson Ayres, a bateria de Tutty Moreno e o baixo do próprio autor. Em “Cantiga da Estrela”, a cantora franco-germânica Céline Rudolph demonstra sua bagagem jazzística, utilizando a voz como instrumento, em um criativo duo improvisado com o baixo elétrico de Stroeter.  

Exaltação aos indígenas

Outra surpresa do disco é “Rap Americano”, poema de Stroeter que exalta os povos indígenas das Américas, escrito para a “Ópera dos 500 / Popular e Brasileira”. Encenada por Naum Alves de Souza, em 1992, essa ópera pretendia desmistificar o suposto heroísmo de Cristóvão Colombo. Como não entrou na versão final do espetáculo, o poema estreia agora na voz do autor, acompanhado pelo Caixa Cubo Trio. Os vocais de Marlui Miranda, em idioma indígena, criam um contraponto inquietante com os versos.

O samba “Feiticeira” também demorou pelo menos uma década e meia para sair da gaveta. Fã de João Gilberto, Stroeter tem uma paixão especial pelo lendário LP de capa branca do pai da bossa, lançado em 1973. Quando soube que João frequentava a casa do baterista Tutty Moreno, em Nova York, teve a ideia de compor um samba com cara de bossa nova e enviá-lo para o mestre. “Até fiz a música, mas não mandei”, conta, sorrindo. Agora, para inclui-la em “Madurô”, convidou o cantor Zé Renato e Tutty para gravá-la de maneira bem despojada, como fez João Gilberto, em seu cultuado álbum.  

Stroeter agradece por duas sugestões de intérpretes que recebeu do violonista Swami Jr., também presente no disco. “Ele entendeu onde eu queria chegar com duas composições minhas de cunho mais popular”, reconhece. No contagiante samba “Na Boca do Povo” (parceria com o letrista Paulo César Pinheiro), Fabiana Cozza soa bem à vontade, como se estivesse cantando numa roda de amigos. Já “Viva Jackson do Pandeiro” é um alegre tema instrumental de Hermeto Pascoal, para o qual Stroeter escreveu uma letra, que imagina um encontro do carismático músico paraibano com o “bruxo” de Alagoas. Convidado a interpretá-lo, Chico Cesar personifica Jackson, carregando na pronúncia dos “erres”, para reviver um divertido sotaque do passado.

Parceria de quatro décadas

Por outro lado, Stroeter nem precisou pensar em quem gravaria “Aboio”, um dolente tema instrumental, e o gingado samba “Levada da Breca” – parcerias com Noa, que o Pau Brasil tem incluído em suas apresentações. “Eu toco com esse grupo de amigos há mais de 40 anos. Não existe a possibilidade de eu fazer um disco meu sem o Pau Brasil”, afirma o contrabaixista.

Escolhida para fechar o álbum, “A Voz da Oração” nasceu como uma letra de Stroeter que foi musicada por Noa. Com forma e conteúdo de uma prece, ela inspirou a emocionante interpretação de Sergio Santos, que expressa o significado especial dessa canção para o baixista do Pau Brasil e sua família. “Ela foi dedicada ao Noa e meus outros filhos. Não tenho religião que não seja a música, mas acabou saindo uma canção que abarca o sentido de amor aos de muito perto”, ele explica.

Cinco anos atrás, Stroeter enfrentou um grave problema cardíaco, que o levou a refletir mais sobre o sentido da vida, nos últimos anos. Hoje, ele percebe que a decisão de gravar um disco de canções como “Madurô” também tem relação com a experiência extrema que vivenciou. “O fato de eu ter, literalmente, apagado e, minutos depois, ter voltado à vida, me trouxe um sentido de liberdade essencial para fazer um disco como esse. Se não tivesse passado pelo que passei, eu jamais teria a coragem de me expor como faço nesse disco”, conclui. Em outras palavras, Rodolfo Stroeter amadureceu, madurô.

                                                                                          Texto escrito a convite do selo Pau Brasil 


Show de lançamento do álbum "Madurô"
- Dia 6/12/24 (sexta), às 21h, na Sala Crisantempo (Rua Fidalga, 521, Vila Madalena, zona oeste de São Paulo). Entrada franca. Com Rodolfo Stroeter (baixo acústico e elétrico), Hélio Alves (piano) e Tutty Moreno (bateria). Participações especiais de Sérgio Santos (voz), Analu Sampaio (voz) e Paulo Bellinati (violão). 

 

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