Ecuador Jazz 2015: festival estimula diálogo entre o jazz e a música instrumental latina

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Um inspirado encontro de duas tradições musicais – o rasgado lirismo da Itália e a exuberante rítmica de Cuba – encerrou, na noite de sábado, a programação de concertos do Ecuador Jazz Festival. O trompetista Paolo Fresú e o pianista Omar Sosa (na foto ao lado) criaram momentos de encantamento musical, que envolveram a plateia do Teatro Sucre, em Quito.   

Essa parceria com o trompetista italiano parece ter feito muito bem ao histriônico Sosa (já conhecido no Brasil), cujo virtuosismo costuma ofuscar seu lado musical mais sensível. Mesmo quando utilizou recursos eletrônicos, em seus extensos improvisos, a dupla manteve a atmosfera onírica e intimista que marcou todo o concerto. 


Outro destaque na programação do Equador Jazz foi o trio do pianista Michel Camilo, da República Dominicana. Muito bem acompanhado por Lincoln Goines (contrabaixo) e Mark Walker (bateria), Camilo provou que continua a ser um dos melhores pianistas do jazz contemporâneo – tanto em composições próprias (as baladas “My Secret Place” e “A Place in Time”), assim como em inventivas releituras de clássicos do jazz, como “Perdido” (de Juan Tizol) e “St. Thomas” (Sonny Rollins).

É difícil entender por que um músico tão carismático e completo como Camilo só se apresentou uma vez no Brasil, ainda na década de 1990. Essa explicação só os curadores e produtores de festivais e clubes de jazz brasileiros podem nos dar.

Atração do festival que também mereceria mais oportunidades de se apresentar no Brasil, o cantor e compositor amazonense Vinicius Cantuária vive em Nova York (EUA) há mais de 20 anos. Prestes a lançar um álbum dedicado à obra musical de Tom Jobim, Cantuária se apresentou com um antigo parceiro: o guitarrista e violonista norte-americano Marc Ribot (na foto abaixo). 


Na plateia, apreciadores da bossa nova se deliciaram com as versões do brasileiro para as clássicas canções “Corcovado”, “Ela É Carioca” ou “Garota de Ipanema”, entre outras. Já aqueles que conhecem a obra pessoal de Cantuária sentiram falta de seus sambas e canções – só a dançante “Cubanos Postizos” entrou no repertório de sexta-feira.

Outras atrações do evento, como o trio do pianista espanhol Marcos Merlino, o quinteto colombiano Viento en Popa e a Banda Sinfônica Metropolitana de Quito, contribuíram para ampliar o leque de influências musicais no diversificado elenco do festival.

Curiosamente, a mais original dessas atrações –- o jovem sexteto colombiano Curupira, espécie de “jam band” que toca música folclórica latino-americana com instrumentos típicos -– só pôde ser apreciada pelos frequentadores do El Pobre Diablo, descolado bar de Quito, em sessões de improvisação que aconteciam após os concertos principais.

Muito bem organizado, com uma programação que busca o diálogo entre a tradição musical norte-americana e a música instrumental de diversos países da América Latina, o Equador Jazz Festival oferece também um privilégio a seus espectadores: o charmoso ambiente das estreitas ruas do bairro histórico da cidade de Quito, declarada patrimônio cultural da humanidade pela Unesco, em 1978.

(Cobertura publicada hoje, na "Folha Online". Viajei a convite da produção do Teatro Sucre e do Ecuador Jazz Festival)

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