Areia e Grupo de Música Aberta: improvisação e som instrumental com sotaque nordestino

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                           Ivan do Espírito Santo (esq. para dir.), Walter Areia, Cássio Cunha e Julio Cesar  

Nos  Estados Unidos ou na Europa, a música instrumental do contrabaixista e compositor Walter Areia seria, certamente, rotulada como jazz. Mas o ex-integrante da banda recifense Mundo Livre S/A, expoente do movimento Mangue Bit, prefere chama-la de “música aberta”.

Formado em 2009, o quarteto liderado por Areia já nasceu com a consciência de que a improvisação não é um recurso de composição musical instantânea utilizado somente pelos jazzistas.

“O conceito de ‘música aberta’ dá nome a uma forma mais ancestral de improvisação, onde motes musicais reaparecem após cada solo – mesmo formato das pelejas entre cantadores da poesia popular nordestina”, justifica o baixista.

Como ele, os músicos do grupo trazem experiências com outros projetos e segmentos da cena musical de Pernambuco. O saxofonista e flautista Ivan do Espírito Santo também é arranjador e maestro da Orquestra Contemporânea de Olinda. O acordeonista Julio Cesar integra a SpokFrevo Orquestra. Cássio Cunha também é baterista da banda de Alceu Valença.  
 

“Ao Vivo”, segundo álbum do Areia e Grupo de Música Aberta, reúne seis faixas (todas compostas pelo líder) extraídas do DVD que o quarteto lançou em 2014. O áudio original foi remixado e remasterizado para download em formato digital de alta resolução.  


A presença do acordeom é essencial no conceito musical do grupo, não só como instrumento harmônico, mas também no sentido de trazer uma sonoridade levemente nordestina, diferente daquela que nos acostumamos a ouvir em quartetos de jazz com piano.  


O som encorpado do baixo acústico de Areia introduz a faixa inicial, “Maracatu de Baque Etereo”. A melodia revela um tom de melancolia, presente em outros temas do álbum, que o solo de Espírito Santo, improvisador criativo, dissolve.  

Em “Teus Pés”, é um contagiante ritmo de caboclinho que deflagra os improvisos de soprano e acordeom. “Do Início ao Fim de Tudo” chega como um vendaval, mas logo resgata a atmosfera melancólica. No solo, o acordeonista cita até um fragmento melódico da triste toada “Assum Preto” (Luiz Gonzaga).  

  Seja chamada de jazz ou de música aberta, o fato é que Areia e seus parceiros fazem música instrumental de qualidade, com um original sotaque nordestino. Com um pouco de sorte, esse projeto pode até leva-los a países que valorizam mais a música sem palavras.

(Resenha publicada na "Folha de S. Paulo", em 1º/06/2016)

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