Pau Brasil: quinteto paulista aprimora sua utopia musical no álbum "Daqui"

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                                      Teco, Nelson, Ricardo, Paulo e Rodolfo, do Pau Brasil / Foto: Gal Oppido

Ainda há quem consiga imaginar um país inspirador, com sua população vivendo em harmonia, na maior liberdade. Contrastes, só mesmo nos domínios da música, tão rica em sotaques regionais. “Esse Brasil ainda não existe, mas a gente quer que ele exista”, diz Rodolfo Stroeter, baixista do grupo instrumental Pau Brasil, um dos mais longevos na história da música brasileira.

Em “Daqui” (lançamento do selo Pau Brasil), seu 11º álbum, o quinteto paulista continua a perseguir sua utopia, aprimorando a receita que já utilizou em trabalhos anteriores. No repertório, combina composições próprias com releituras de clássicos da música brasileira – dos populares Ary Barroso (“No Rancho Fundo”) e Tom Jobim (“Saudade do Brasil”) ao supostamente erudito Villa-Lobos (“Bachianas Brasileiras nº 1”).

Depois de assumir diversas formações, o Pau Brasil já conta há uma década com os mesmos músicos: o pianista Nelson Ayres e Stroeter, que fundaram o grupo em 1979; o violonista Paulo Bellinati, que entrou dois anos depois; o saxofonista Teco Cardoso, convocado em 1986; e, finalmente, o baterista Ricardo Mosca, que chegou em 2005.

Décadas de parceria e convivência fazem diferença. Isso é evidente na versão de “Agora Eu Sei”, deliciosa marcha-rancho de Moacir Santos, na qual o quinteto imprime sua personalidade – desde a maneira descontraída de Bellinati e Stroeter dedilharem suas cordas, ao introduzirem a melodia, até a liberdade organizada dos improvisos.

O virtuosismo dos integrantes do Pau Brasil não impede que a música do grupo soe leve e, quase sempre, bem humorada, mesmo quando improvisam sobre encrencadas harmonias ou misturam influências. Como em “Caixote” (de Ayres), um descontraído xote cujo sotaque nordestino ganha uma coloração levemente jazzística. Contagiante também é a alegre brasilidade de “Lá Vem a Tribo”, composição de Stroeter e Bellinati, que encerra o álbum. 


Quem sabe a mencionada utopia possa ganhar mão dupla: se tomasse a música do Pau Brasil como modelo, o Brasil poderia voltar a ser um país invejável.

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", publicado em 26/3/2016)

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