Jazz na Fábrica: Roscoe Mitchell e Anthony Braxton abrem série de CDs do Selo Sesc

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                                                                                  O saxofonista Roscoe Mitchell                        

Gravados ao vivo, em São Paulo, discos dos músicos norte-americanos Roscoe Mitchell e Anthony Braxton inauguram série do Selo Sesc dedicada a registros de concertos do Jazz na Fábrica –- o festival produzido pelo Sesc Pompeia, que já realizou cinco edições. Veteranos saxofonistas e compositores de Chicago, os dois também têm em comum o fato de serem associados à vertente do jazz de vanguarda, embora suas obras sejam bem diversas.

Um dos criadores do Art Ensemble of Chicago, o lendário coletivo de “free jazz” que adotou esse nome no final dos anos 1960, Mitchell se apresentou com ele por quatro décadas. Multi-instrumentista que domina toda a família dos saxofones, ainda na década de 1970 gravou e fez concertos-solos de sax – mesmo formato de suas apresentações no 3º Jazz na Fábrica, em 2013.


As quatro longas faixas do álbum “Sustain and Run” podem até assustar um ouvinte não-familiarizado com suas liberdades sonoras – não se trata de música para embalar reuniões festivas. Tocando um sax soprano ou um sopranino, Mitchell faz seu instrumento gemer, gritar, uivar, chiar, ranger. É preciso relaxar e se concentrar nos sons para poder fruir a expressividade desses solos.

Já a música de Anthony Braxton (na foto à esquerda) é mais conceitual, mais elaborada. Em vez de aderir ao “free jazz”, a exemplo de muitos de seus contemporâneos, ainda na década de 1960 ele se aproximou da música contemporânea de vanguarda. Desenvolveu novas formas de composição, inclusive utilizando inusitadas notações gráficas, sem abrir mão da liberdade da improvisação.


As faixas “Composition nº 366d” e “Composition nº 367b”, com mais de uma hora de duração cada, ocupam os dois CDs do álbum de Braxton, que toca sax alto, soprano e sopranino ao lado de Taylor Ho Bynum (trompete e flugelhorn), Ingrid Laubrock (sax soprano e tenor) e Mary Halvorson (guitarra). Sons acústicos e eletrônicos formam texturas repletas de surpresas e contrastes dinâmicos. Diferentemente do redundante universo da música pop, na música inventiva de Braxton tudo se move e se transforma, sem repetições. 

Esses CDs estão disponíveis nas lojas das unidades e no site do Sesc

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 27/02/2016)

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Jazz,música para entendidos.Eu sempre acho que pra gostar de jazz,a pessoa deva ter ouvido absoluto,o meu é relativo demais.

Carlos Calado disse...

Desta vez vou ter que discordar de você, Ademar. Não tenho ouvido absoluto, assim como a imensa maioria dos mortais, e comecei a ouvir jazz ainda na adolescência. Você não precisa entender tudo o que ouve, necessariamente. Basta você se familiar com a linguagem do jazz, escutando com alguma atenção. Depois de algum tempo, já nem vai se preocupar mais com isso. Qualquer um pode ouvir e gostar de jazz.

 

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