Joyce Moreno: cantora e compositora faz tributo às belezas do Rio

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Lançado na Europa pelo selo Far Out, em 2011, este álbum da cantora e compositora carioca Joyce Moreno ganha enfim uma edição nacional (lançamento Biscoito Fino), aparentemente estimulada pela comemoração dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro.

Difícil entender que uma declaração de amor ao Rio precise de uma efeméride para poder ser apreciada no Brasil. Com a elegância de sempre, acompanhando-se ao violão, Joyce resgata nesse disco canções que louvam as belezas do Rio, como “Valsa de Uma Cidade” (Ismael Netto e Antônio Maria), o hino “Cidade Maravilhosa” (André Filho) e a doce “Rio Meu”, sua primeira composição. Por outro lado, relembra “Vela no Breu”, samba de Paulinho da Viola e Sergio da Natureza, que descreve um personagem carioca distante dos clichês da abastada zona sul.

Saboroso também é o contraponto entre Rio e São Paulo, na justaposição dos clássicos sambas “Com que Roupa” (Noel Rosa) e “As Mariposa” (Adoniran Barbosa). Quem precisa de um pomposo aniversário para se deliciar com essas canções? 

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 25/04/2015)


Pedro Sá Moraes: CD "Além do Principio do Prazer" tem viés experimental

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Diz a lenda que, ao encontrar o cantor e compositor Pedro Sá Moraes, o equilibrado Jon Pareles, crítico musical do jornal “The New York Times”, teria se referido ao álbum “Além do Princípio do Prazer” (lançamento Delira Música) com um adjetivo revelador: “Que disco doido!”. Um comentário que, a depender do gosto e da bagagem musical do ouvinte, pode tanto soar tanto atrativo como alarmante. 

Integrante do Coletivo Chama, formado por outros inquietos e criativos músicos e compositores cariocas, Moraes parece decidido a levar a canção brasileira para além das experimentações poéticas e sonoras do movimento tropicalista. 

“Alarido” (parceria com Thiago Amud), canção que abre o álbum em meio a ruídos eletrônicos e distorções de guitarra, já avisa ao ouvinte: “Quando bater bem no seu tímpano, seu ímpeto vai ser gritar /Mas fique impávido pro silêncio ouvir a música ímpar”. Quem não se deixar assustar pelos arranjos ruidosos e vanguardistas, dificilmente vai se arrepender de ouvir este ambicioso trabalho. 

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 25/4/2015)


Yamandu Costa: dois CDs mostram a maturidade do violonista e compositor gaúcho

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Ainda nos anos 1990, quando começou a chamar atenção na cena da música instrumental, o violonista Yamandu Costa dividia opiniões. Muitos festejaram o talento do jovem gaúcho, que chegou a ser comparado ao brilhante Raphael Rabello (1962-1995). Mas também havia os que criticavam os excessos sonoros do garoto-prodígio, em suas performances cheias de vigor.

Já na década seguinte, em meio aos inúmeros shows e gravações que fez, Yamandu desenvolveu parcerias com os veteranos Dominguinhos (1941-2013) e Paulo Moura (1932-2010), que parecem ter contribuído para aparar as arestas de suas interpretações.

Duas gravações recém-lançadas comprovam, não só a maturidade desse superdotado instrumentista, mas também sua evolução como compositor. No álbum “Tocata à Amizade” (lançamento da gravadora Biscoito Fino), ele se une a Alessandro “Bebê” Kramer (acordeom), Luís Barcelos (violão) e Rogério Caetano (bandolim) para interpretar a suíte “Impressões Brasileiras”, que compôs por encomenda do parisiense Museu do Louvre.

Os títulos dos quatro movimentos – “Choro-tango”, “Valsa”, “Frevo-canção” e “Baionga” – já indicam a variedade de gêneros e ritmos que Yamandu escolheu para representar a música brasileira. Completando o repertório do álbum, a “Suíte Retratos” (Radamés Gnatalli) aparece em versão mais descontraída.

Em “Concerto de Fronteira”, CD da Orquestra do Estado de Mato Grosso (lançamento da gravadora Kuarup), Yamandu também contribui como autor e solista. Na longa peça-título, ele é ouvido em um contexto mais erudito, acompanhado pelos naipes de cordas da orquestra. “Bachbaridade”, outra composição própria, é um veículo para o virtuosismo desse músico que encontrou enfim o equilíbrio da maturidade. 


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 28/3/2015)
 

 

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