Ecuador Jazz 2015: trio do pianista Michel Camilo incendeia plateia em Quito

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Conforme a noite avançava lá fora, a descendente temperatura estava em torno de 13º. Já na lotada plateia do Teatro Sucre, no centro histórico da cidade de Quito, o calor aumentava, sensivelmente, a cada improviso de Michel Camilo. Ovacionado, o trio do pianista e compositor da República Dominicana encerrou ontem, de maneira eufórica, a quinta noite do Ecuador Jazz Festival.

Antes da apresentação de Camilo, a educada plateia já aplaudira o concerto da Banda Sinfônica Metropolitana de Quito (na foto abaixo), que acertou ao reunir um repertório contemporâneo que dialoga com o jazz, destacando uma peça de Aaron Copland e as danças de Leonard Bernstein para o clássico musical “West Side Story”. Ao final do concerto uma surpresa: Camilo entrou em cena para tocar sua composição “Goodwill Games Theme”, em arranjo que escreveu especialmente para essa banda equatoriana.

Ao voltar ao palco, já com o contrabaixista Lincoln Goines e o baterista Mark Walker a seu lado, Camilo não demorou a incendiar a plateia. Da contagiante “From Within”, que ele compôs para o documentário “Calle 54” (de Fernando Trueba), à releitura bem latina de “Perdido” (Juan Tizol), sucesso da orquestra de Duke Ellington, ele nos lembra que o piano também pode ser um instrumento bastante percussivo.

Por outro lado, ao exibir a faceta mais lírica de seu repertório, Camilo esbanja sensibilidade e romantismo, em baladas como “My Secret Place” e “A Place in Time” (esta traz uma figura melódica bem aguda e expressiva, no meio do tema, que só um compositor de alto quilate poderia imaginar).  


Já na exuberante versão do calipso “St. Thomas” (do jazzista Sonny Rollins), Camilo deu uma aula prática de dinâmica e improviso: criou variações inusitadas sobre a melodia, apropriando-se dela como se fosse sua, alternando incursões jazzísticas com outras mais latinas.

E depois de tocar a deliciosa “And Sammy Walked In”, dedicada ao percussionista Sammy Figueroa, ainda fez uma longa digressão sobre as contribuições de diversos músicos latinos – de Machito a Chano Pozo – à história do jazz nos Estados Unidos.

“É como uma grande família, em que todos se apoiam”, comparou Camilo, chamando atenção para uma característica essencial do jazz: em meio ao individualismo e à competição desenfreada que marca a sociedade de hoje, o jazz é uma arte comunitária, que se supera justamente quando é cultivada e apreciada de maneira coletiva. Uma noite inesquecível!


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