Discos de 2015: música instrumental, jazz e MPB em 30 álbuns de alta qualidade

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Nos últimos anos, com a chegada do mês de dezembro, tenho ficado aflito ao pensar na obrigação de elaborar outra das habituais listas de melhores discos. A pulverização da indústria fonográfica em milhares de pequenas gravadoras e selos independentes parece tornar mais difícil, a cada ano, a tarefa de acompanhar todos os lançamentos nessa área. 

Acabei aceitando outra vez o convite do colega Juarez Fonseca, que organiza a habitual enquete do jornal gaúcho “Zero Hora”, publicada na edição de hoje, mas já sugeri a ele que, em 2016, pensemos em um novo formato para essa tarefa.

Um pouco descontente com a lista de dez indicações que prometi enviar ao “Zero Hora“, decidi então já esboçar algo diferente neste blog. Em vez de publicar aqui minha discutível lista de “melhores” de 2015, preferi recomendar 30 discos de música instrumental, MPB e jazz. Todos eles foram lançados durante este ano, no mercado brasileiro, e merecem ser prestigiados justamente por estarem bem acima da média dos lançamentos do ano.

Alguns desses discos até já foram resenhados neste blog. Mesmo assim, os 30 títulos da lista são acompanhados por uma pequena resenha que tenta justificar essa escolha. Espero que essa seleção de discos possa ajudar os leitores deste blog a descobrir novos artistas, assim como ampliar suas discotecas com novos discos de alta qualidade. Aqui está a lista, em ordem alfabética:  



30 discos de 2015 para seguir ouvindo em 2016  

Alfredo Del Penho - “Samba Sujo” (independente). Inspirado por Paulinho da Viola, o cantor, letrista, violonista e ator fluminense estreou em disco com uma dose dupla: lançou um álbum instrumental e este outro dedicado à diversidade do samba. Neste, interpreta um repertório saboroso, incluindo composições próprias que confirmam sua profunda intimidade com esse universo musical.  
André Marques - “Viva Hermeto” (Borandá). Pianista do grupo de Hermeto Pascoal há duas décadas, o músico paulista se uniu ao contrabaixista John Patitucci e ao baterista Brian Blade, craques do jazz norte-americano, para visitar 13 composições de seu mestre. Um criativo e jazzístico tributo ao bruxo da música livre, que destaca tanto alguns de seus clássicos como temas pouco conhecidos. 
 
André Mehmari - “As Estações na Mantiqueira” (Estúdio Monteverdi). Mantendo seu hábito de lançar mais de um disco por ano, o eclético pianista e compositor retoma neste projeto seu virtuoso trio com Neymar Dias (contrabaixo e viola caipira) e Sérgio Reze (bateria). Além da faixa-título, bela suíte em quatro movimentos de Mehmari, o álbum inclui homenagens a Dominguinhos, Luiz Gonzaga e Ernesto Nazareth.

Andréa dos Guimarães - “Desvelo” (independente). Uma das surpresas mais animadoras do ano, essa cantora e pianista mineira radicada em São Paulo, integrante do grupo Conversa Ribeira, revela sua bagagem erudita. No repertório, sambas e canções de Chico Buarque, Ivan Lins e Luiz Gonzaga ganham releituras despojadas, ao lado de belas composições próprias, que valorizam o canto expressivo de Andréa.

Antonio Adolfo - “Tema” (AAM). O pianista e compositor carioca revisita melodias menos conhecidas de sua obra, criadas em diversas épocas. Ao lado de craques da música instrumental brasileira, como Marcelo Martins (sax e flauta), Leo Amoedo (guitarra) e Jorge Helder (contrabaixo), Adolfo exercita a faceta de arranjador para que seus saborosos “temas” – alguns até da década de 1960 – soem atuais.

Antonio Arnedo e outros - “Fronteiras Imaginárias” (Núcleo Contemporâneo). Referência na cena instrumental colombiana, o saxofonista e compositor Antonio Arnedo encontra os brasileiros Benjamim Taubkin (piano), Sergio Reze (bateria) e João Taubkin (baixo), em projeto de essência jazzística, com belo repertório autoral. Tomara que sirva de exemplo para outras parcerias entre instrumentistas das Américas. 


Arismar do Espírito Santo - “Roda Gingante” (Maritaca). Além do trocadilho do título, o multi-instrumentista paulistano escolheu uma formação inusitada para o grupo com o qual gravou esse álbum: tocando violão, guitarra e baixo, ele tem a seu lado Bebê Kramer (acordeom), Gabriel Grossi (gaita) e Leo Amuedo (guitarra). O resultado é quase uma “jam session” que mistura belos sambas, baião, coco, valsa, até jazz.

Benjamim Taubkin e outros - “O Piano e a Casa” (Núcleo Contemporâneo). Gravado ao vivo, na Casa do Núcleo, em São Paulo, este álbum traça um panorama de tendências da música instrumental brasileira de hoje. Pianistas de diferentes estilos e gerações, como Amilton Godoy, Hercules Gomes, Heloisa Fernandes, Tiago Costa, Karin Fernandes, Júlia Tygel, Zé Godoy e Fábio Torres, compõem o ótimo elenco.

Carlos Badia - “Zeros” (independente). Ex-integrante do grupo Delicatessen, o violonista, cantor e compositor gaúcho estreia como solista já com álbum duplo – um instrumental e o outro de canções. Neste, o lirismo de Badia se desdobra em vários gêneros: bossa nova, samba, jazz, folk. Aliás, mesmo alguns dos temas instrumentais do álbum deixam a sensação de que ainda podem virar canções, se receberem letras.

Chico César - “Estado de Poesia” (Natura Musical). Depois de seis anos afastado dos palcos para atuar como gestor público de cultura na Paraíba, onde nasceu, o cantor e compositor retoma seu ofício com inspiração e evidente prazer. Seu primeiro disco de inéditas desde 2008 traz canções românticas, assim como uma nova safra de canções de viés social, que abordam o racismo e outras formas de preconceito.  


Conrado Paulino - “4 Climas” (independente). Argentino radicado em São Paulo, o violonista e compositor esbanja sofisticação musical à frente de seu quarteto, que inclui Debora Gurgel (piano), Marinho Andreotti (contrabaixo) e Percio Sapia (bateria). Paulino mergulha com personalidade na diversidade rítmica brasileira, do frevo ao samba, valendo-se de sua bagagem jazzística.   
    
Daniel D’Alcântara - “Canção para Tempos Melhores”  (independente). O afiado quinteto do trompetista paulistano, que inclui Vitor Alcântara (sax tenor e soprano), Edson Sant’Anna (piano elétrico), Bruno Migotto (contrabaixo) e Cuca Teixeira (bateria), traz como referências o hard bop e o samba-jazz dos anos 1960. A irresistível faixa que dá título ao álbum soa como um lenitivo para os dias de hoje.

Daniel Murray - “Autoral” (independente). Depois de revelar seu grande talento como intérprete em diversos grupos e discos, o violonista carioca lança o primeiro álbum dedicado à sua obra autoral. No encarte, rasgados elogios dos craques Guinga e Marcus Tardelli à delicada valsa “Ensimesmada”, entre outros, já dão uma ideia do valor da contribuição de Murray ao repertório para violão. 


Diones Correntino - “Som Mestiço” (independente). Se você pensa que no centro-oeste do país só se cultiva música sertaneja, precisa ouvir este pianista e compositor de Goiânia. Em seu belo álbum de estreia, Correntino combina várias influências: do choro à música clássica, passando pelo jazz e pela moderna música instrumental brasileira. E ainda conta com participação especial do saxofonista Mauro Senise.  

Fabiana Cozza - “Partir” (independente). A cantora paulistana dedica seu quinto álbum à diversidade rítmica da diáspora negra, interpretando canções calcadas em vários ritmos afro-brasileiros, até do Caribe – sinal de que o rótulo de sambista já não se adequa mais ao repertório de Fabiana. A produção do violonista Swami Jr. garante a elegância dos arranjos, baseados em instrumentos de cordas e percussão.

Gilson Peranzzetta e Mauro Senise - “Dois na Rede” (Fina Flor). Comemorando 25 anos de feliz parceria, o pianista e o saxofonista – ambos cariocas – chegam ao 11º álbum, sem apelar para artifícios. Mais uma vez escolheram um repertório de alta qualidade: de temas autorais a clássicos de Baden Powell, Toninho Horta e Dorival Caymmi. O resto fica por conta do talento e da telepatia que os dois revelam ao tocarem juntos.

José Namen - “Identidade” (independente). Tarimbado pianista da cena instrumental de Belo Horizonte (MG), José Namen exibe nesse álbum suas referenciais musicais. Releituras de standards jazzísticos, sambas de Baden Powell e Lupicínio Rodrigues, o clássico bolero “Besame Mucho” e a sublime canção “Outubro” (Milton Nascimento e Fernando Brant) fazem parte dessa espécie de autobiografia musical.  

 
Leo Gandelman - “Velhas Ideias Novas” (Sax Samba). Mais um capítulo do precioso mapeamento da presença do saxofone na história da música brasileira, que Leo Gandelman vem realizando desde a década passada. O saxofonista carioca relembra, neste álbum, grandes estilistas do samba de gafieira e do samba-jazz, como Moacir Santos, Paulo Moura, Casé, Zé Bodega e Juarez Araújo.

Luis Felipe Gama e Ana Luiza - “Vermelho” (Cooperativa). Parceiros há duas décadas, o pianista Luis Felipe Gama e a cantora Ana Luiza não se rendem à mediocridade do mercado musical. Gravaram mais uma coleção de sofisticadas canções que Luis Felipe compôs com diversos parceiros, bem acompanhados por Alberto Luccas (contrabaixo) e Everton Barba (bateria). MPB da mais alta qualidade.

Mario Adnet - “Jobim Jazz ao Vivo” (Biscoito Fino). Gravado ao vivo durante turnê por várias capitais do país, em 2013, este projeto do violonista carioca destaca seus arranjos para uma compacta big band. No repertório, temas instrumentais de Tom Jobim, todos marcados pela elegância do maestro da bossa nova. Em participação bastante emotiva, Nana Caymmi canta alguns clássicos do “songbook” jobiano.  

 
Ná Ozzetti e Zé Miguel Wisnik - “Ná e Zé” (Circus). Parceiros há 30 anos, a cantora e o pianista festejam essa associação, gravando 15 canções que Wisnik compôs entre 1978 e 2014. Algumas, ainda inéditas, nasceram a partir de versos de Fernando Pessoa, Oswald de Andrade e Cacaso. A voz doce e cristalina de Ná soa como um instrumento perfeito para expressar o lirismo e as melodias emotivas de Wisnik.

Neymar Dias e Igor Pimenta - “Come Together Project” (Borandá). Muitos músicos já gravaram versões instrumentais de canções dos Beatles, mas a sonoridade do inusitado duo de cordas – viola caipira e baixo acústico – formado por Dias e Pimenta empresta um tom leve e singelo a esses clássicos da música pop universal. Sem falar nos arranjos da dupla, que parecem revelar belezas de canções tão conhecidas.


Orquestra Atlântica - “Orquestra Atlântica” (independente). Uma delícia ouvir uma big band como essa, formada por feras da cena instrumental carioca, como o trompetista Jessé Sadoc e o saxofonista Marcelo Martins. O repertório combina arranjos de clássicos da bossa nova e composições próprias. Para realçar mais ainda esse time musical, surgem convidados especiais, como Nelson Faria (guitarra) e Vittor Santos (trombone).  


Pau Brasil - “Daqui” (Pau Brasil). Villa-Lobos, Tom Jobim, Moacir Santos, Baden Powell, Ary Barroso: composições desses expoentes da música brasileira, seja ela supostamente erudita ou popular, são recriadas pelo quinteto paulista, em novas e refinadas incursões improvisadas. Referência na cena instrumental desde os anos 1980, o Pau Brasil segue provando que nossa música ainda pode ser motivo de muito orgulho.

Pó de Café Quarteto - “Amérika” (independente). Esse grupo de Ribeirão Preto (SP) vai surpreender muitos que ainda não o conhecem. Bruno Barbosa (contrabaixo), Duda Lazarini (bateria), Marcelo Toledo (sax tenor) e Murilo Barbosa (piano) fazem jazz e música instrumental de alta categoria. O repertório do segundo CD do grupo é todo autoral, com melodias e arranjos que conquistam o ouvinte logo à primeira audição.

Quartabê - “Lição #1 Moacir” (independente). Joana Queiroz (sax tenor e clarinete), Maria Bastos (clarinete e clarone), Mariá Portugal (bateria), Ana Sebastião (baixo) e Chicão (teclados) formam esse grupo instrumental paulistano que estreia em disco com descontraídas releituras de composições do genial maestro pernambucano Moacir Santos (1926-2006). Nada a ver com tributos musicais cheios de reverências.  


Regina Machado - “Multiplicar-se Única” (Canto). Os criativos arranjos e a produção do violonista Dante Ozzetti são essenciais para que este álbum de Regina Machado, dedicado à obra de Tom Zé, tenha identidade própria. O fato de essa cantora paulista ter integrado a banda do tropicalista, nos anos 1980, certamente a ajudou a ir além das homenagens convencionais tão comuns nesse tipo de projeto.

Renato Braz e Maogani - “Canela” (independente). Belo projeto de releitura de clássicos da canção latino-americana, pouco conhecidos no Brasil. O cantor paulista se une outra vez aos violões do ótimo quarteto carioca Maogani, autor do projeto e dos arranjos. Da folclórica canção venezuela “Pajarillo Verde” à milonga argentina “Vuelvo al Sur” (Astor Piazzola e Fernando Solanas), um mergulho no lirismo de nossos vizinhos. 



Tiganá Santana - “Tempo & Magna” (Ajabú). O terceiro trabalho autoral desse talentoso cantor, violonista e compositor baiano é um álbum duplo, gravado no Senegal com músicos locais. Em busca de suas raízes afro-brasileiras, Santana também compõe em kikongo e kimbundu (idiomas africanos), assim como em francês e inglês. O timbre grave e aerado de sua voz realça seus versos de essência filosófica.   

Zé Manoel - “Canção e Silêncio” (Natura Musical). Uma boa surpresa o segundo disco do cantor e pianista de Petrolina (PE), cujas composições remetem às canções marítimas do mestre Dorival Caymmi (1914-2008). O piano sintético de Zé Manoel e os expressivos arranjos de cordas e sopros de Letieres Leite valorizam o repertório do álbum. Quem acha que a MPB está agonizando tem que ouvir este pernambucano.

Miles Davis: caixa reúne quase 4 horas de gravações inéditas do trompetista

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Uma surpresa para os apreciadores do jazz, que viram os lançamentos desse gênero musical desaparecerem do mercado brasileiro na última década: a caixa “Miles Davis at Newport 1955-1975” (lançamento Columbia/Sony Music; R$ 130, em média) traz quase quatro horas de gravações inéditas do trompetista norte-americano que marcou a música do século 20 com seu espírito de transformação constante.

Quarto volume de uma série de registros ao vivo desse artista, que vêm sendo lançados nos EUA desde 2011, a caixa reúne em quatro CDs as apresentações de Miles no Newport Jazz Festival, entre 1955 e 1975. Esse pioneiro evento, criado em 1954 pelo produtor e pianista George Wein, na costa leste norte-americana, serviu de modelo para outros festivais de jazz pelo mundo.

Foi de Wein a ideia de promover, já no segundo ano de seu festival, uma apresentação de Miles com o pianista Thelonious Monk e os saxofonistas Gerry Mulligan e Zoot Sims. Como a sonorização de concertos ao ar livre ainda era precária na época, Miles fez algo incomum ao tocar a melancólica “Round Midnight” (de Monk): encostou a campana do trompete no microfone, para que o som fosse reproduzido de maneira mais clara.

No extenso texto que escreveu para o livreto incluído na caixa, o jornalista Ashley Kahn (autor de um ótimo livro sobre “Kind of Blue”, o disco mais cultuado de Miles) observa que a repercussão dessa performance do trompetista estimulou a gravadora Columbia a contratá-lo. Por meio dessa parceria, que durou três décadas, Miles veio a gravar seus melhores álbuns.

Ao retornar a Newport, em 1958, ele já liderava um dos sextetos mais admirados pelos fãs do gênero, com John Coltrane e Cannonball Adderley (saxofones), Bill Evans (piano), Paul Chambers (contrabaixo) e Jimmy Cobb (bateria). Oito meses antes de gravar com esse mesmo grupo a obra-prima “Kind of Blue”, Miles ainda trazia no repertório pérolas de sua fase “hard bop”, como a sedutora valsa-jazz “Fran-Dance”, de sua autoria, ou o nervoso tema “Two Bass Hit” (Lewis e Gillespie).

Nos anos 1960, ele voltou três vezes a Newport. Em 1966 e 1967, tinha a seu lado o sensacional quinteto com Wayne Shorter (sax tenor), Herbie Hancock (piano), Ron Carter (contrabaixo) e Tony Williams (bateria), que deixou parte da plateia perplexa. Duas diferentes versões de “Gingerbread Boy” (Jimmy Heath) revelam como Miles e parceiros caminhavam para um jazz mais experimental, numa época em que o mundo parecia prestes a explodir em conflitos e revoluções.

“Aquele grupo não estava à frente de seu tempo. Eles eram o tempo”, comenta Wein, no texto do encarte. Já em 1969, outra transformação: Miles exibia sua nova banda com Chick Corea (piano elétrico), Dave Holland (baixo) e Jack DeJohnette (bateria), mostrando em faixas como “Miles Runs the Voodoo Down” e “It’s About That Time” seu interesse em se aproximar do universo do rock e da black music.

Para os felizardos que presenciaram as apresentações de Miles no Brasil, em 1974, um concerto produzido meses depois por Wein, em Berlim (também incluído na caixa), pode trazer lembranças. Ao lado de Dave Liebman (sax soprano), Pete Cosey (guitarra) e Michael Henderson (baixo), entre outros, Miles já tinha mergulhado no funk e no rock. As faixas “Turnaroundphrase” e “Tune in 5” revelam um grau de eletrificação e distorções jamais ouvidas antes nos círculos do jazz. Não à toa os paulistanos cinquentões e sessentões que foram ouvir Miles no Theatro Municipal, naquela época, saíram no meio do concerto.


(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 19/12/2015)

Quartabê: quinteto paulistano relê obra de Moacir Santos com muita liberdade

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Um quinteto que destaca quatro garotas instrumentistas já é algo raro nos meios da música brasileira, mas o que mais chama atenção no grupo Quartabê é sua atitude criativa. Joana Queiroz (sax tenor e clarinete), Maria Bastos (clarinete e clarone), Mariá Portugal (bateria), Ana Sebastião (baixo) e Chicão (piano e teclados) relêem composições do cultuado maestro pernambucano Moacir Santos (1926-2006) com muita liberdade, sem medo de imprimir nelas diversas referências, do jazz de vanguarda ao pop.

O primeiro álbum do grupo, "Lição #1 Moacir” (lançamento independente), não tem nada a ver com “songbooks” ou tributos musicais cheios de reverências. A releitura da popular “Nanã - Coisa #5”, por exemplo, inclui um estridente solo de teclado e improvisos coletivos. Na encantadora “Suk-chá”, o arranjo usa palmas e vocais para hipnotizar o ouvinte e, quando este pensa que a faixa acabou, vem uma seção mais intensa. Aliás, surpresas não faltam no álbum de estreia desse quinteto, que por si só já é uma surpresa promissora. 

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 19/12/2015)




 

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