Tony Bennett & Lady Gaga: um encontro artificial, com 'selfies', caras e bocas

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                                                                Tony Bennett, quem diria, babando por Lady Gaga


Depois que as performances bizarras de Lady Gaga deixaram de causar impacto, a cantora pop ítalo-americana segue fazendo o que pode para chamar atenção. A nova tentativa está em “Cheek to Cheek” (lançamento Columbia/Universal), álbum jazzístico que ela gravou em duo com ninguém menos que o veterano Tony Bennett.

Basta ouvir a primeira faixa -- “Anything Goes”, de Cole Porter, em arranjo orquestral –- para se perceber que o grau de empatia musical da dupla se aproxima de zero. A obviedade dos arranjos e do repertório, com conhecidas canções de musicais assinadas por Irving Berlin, Rodgers & Hart e os irmãos Gershwin, entre outras, só perde para as interpretações de Gaga.

Artificial e afetada, ela parece uma corista em teste para papel de protagonista, na medíocre versão de “Lush Life” (Billy Strayhorn). Aliás, todas as versões do álbum não acrescentam nada às gravações de Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Johnny Hartman ou outros grandes cantores de jazz para essas mesmas canções. Um artista do quilate de Tony Bennett –- única razão para se ouvir esse disco –- não precisava passar por isso.

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 25.10.2014)




Al Jarreau: cantor de jazz homenageia tecladista George Duke em novo álbum

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                                                                                        George Duke e Al Jarreau

Homenagens póstumas costumam ser melancólicas ou mesmo piegas. Al Jarreau não caiu nessa armadilha sentimental: ao dedicar o álbum “My Old Friend” (lançamento Concord/Universal) ao tecladista George Duke (1946-2013), o cantor norte-americano selecionou nove composições de seu antigo parceiro que representam bem a eclética concepção musical de ambos – do jazz ao soul e ao R&B, passando até por ritmos latinos.
 
Ao gravar esse repertório, Jarreau convocou outros intérpretes afinados com seu universo musical, como as cantoras Dianne Reeves, Lalah Hathaway e Kelly Price, o pianista Dr. John e o saxofonista Gerald Albright. Um desavisado talvez nem perceba a intenção da homenagem, ao ouvir a dançante “Every Reason to Smile”, com participação do cantor Jeffrey Osborne, ou a romântica “Bring Me Joy”, com o próprio Duke nos teclados. Um músico como ele, que quase sempre privilegiou a alegria e a dança em sua obra, não poderia ser lembrado de outra forma.

(resenha publicada no "Guia Folha - edição de 27/9/2014)


Luiz Macedo: humor fino e canções hilárias no CD "Orchestra Electromagnética"

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Se você acha que humor e música levada a sério não têm nada em comum, precisa ouvir as composições e os arranjos de Luiz Macedo. Especialista em trilhas sonoras, esse ex-integrante das bandas Sossega Leão, Heartbreakers e Karnak exibe no divertido álbum “Orchestra Electromagnética” (lançamento Jukebox/Tratore) uma heterodoxa mistura de gêneros e estilos musicais: rock’n’roll, swing, música eletrônica, xaxado, funk, choro.

O disco inclui algumas canções hilárias, como o suingado samba “Dr. Peçanha in London” (na interpretação malandra de Skowa) ou a eletrônica “Proparoxigênio” (com o vozeirão de André Abujamra modificado por “auto-tune”). O humor fino de Macedo também está presente até em faixas instrumentais, como o sensual bolero eletroacústico “Tantra” (destaque para o acordeom de Toninho Ferragutti e o cello de Adriana Holtz) ou a conceitual “noYESwhy”. Afinal, música não serve apenas para dançar. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 27/09/2014)





Quatuor Ébène: quarteto de cordas francês se une a dois 'brasilianistas'

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Nos meios da música clássica, um projeto como este é chamado de “crossover”, por misturar repertório e intérpretes originários de diferentes gêneros musicais. Em seu álbum “Brazil” (lançamento Erato/Warner), o talentoso quarteto de cordas francês Quatuor Ébène se une a dois “brasilianistas”: a cantora e jazzista norte-americana Stacey Kent e o cantor e compositor francês Bernard Lavilliers. 

Para quem já aprecia as incursões da doce Stacey pela música brasileira, as versões de “Águas de Março” (Tom Jobim) e “So Nice” (“Samba de Verão”, de Paulo Sérgio e Marcos Valle, que participa dos vocais) podem soar um pouco “déjà-vu”. Não à toa, as faixas do álbum que mais chamam atenção são instrumentais: a bela “Ana Maria” (do jazzista Wayne Shorter), o baião “Bebê” (Hermeto Pascoal) e o dramático “Libertango” (Astor Piazzola), cujas releituras confirmam a inventividade do quarteto. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 29/09/2014) 

Rodrigo Maranhão: fundador da banda Bangalafumenga mostra seu lado intimista

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Há quem aponte uma dissociação entre a música que o compositor e violonista Rodrigo Maranhão faz à frente do festivo grupo (e bloco) Bangalafumenga, um dos responsáveis pela revitalização do carnaval de rua do Rio, e o intimismo das canções próprias que esse talentoso músico carioca exibe em seus discos. 

A gingada “Fuzuê”, que abre em ritmo de samba de roda seu terceiro álbum (“Itinerário”, lançamento MP,B/Universal), parece sugerir que Maranhão convive bem com esses aparentes extremos: na segunda parte da canção, o ritmo é ralentado e abre espaço para improvisos da sanfona de Marcelo Caldi e do violão de Nando Duarte.

Mais lenta ainda é “Maré”, canção doce já interpretada antes pelo cantor português Antonio Zambujo, que participa da gravação da romântica “Madrugada”, emprestando a ela um toque de fado. Tenha ou não Rodrigo Maranhão duas personalidades musicais paralelas, o que conta mesmo é que todos saem ganhando. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 27/9/2014)

 

Marlui Miranda: álbum de recriações ressalta a beleza de cantos indígenas

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                                                                                            Foto: Gal Oppido/Divulgação

Cantora, violonista e compositora, que há mais de três décadas vem se dedicando à pesquisa e divulgação da música indígena, Marlui Miranda selecionou 15 cantos da tradição Juruna -- oito são cantigas de ninar -- para o repertório do álbum “Fala de Bicho, Fala de Gente” (lançamento do selo SESC). Não se trata de um mero registro sonoro, mas de um projeto de recriação desses cantos, adaptados com a aprovação de membros da tribo. 

Acompanhada por Nelson Ayres (piano), Rodolfo Stroeter (contrabaixo), Caíto Marcondes (percussão) e o inglês John Surman (sax soprano, clarone e flautas), Marlui também usa sua voz expressiva para improvisar junto com o quarteto, na melhor tradição da música instrumental brasileira e do jazz. Um diálogo entre tradição e modernidade, que ressalta a beleza desses cantos indígenas e os aproxima dos ouvidos contemporâneos. 

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 27/9/2014)

 

 

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