Adriano Grineberg: a trilha de uma viagem em busca das raízes africanas do blues

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Pesquisador de música étnica e folclórica, Adriano Grineberg realiza um projeto arrojado em "Blues for Africa" (lançamento independente), seu segundo álbum: investigar as raízes africanas do blues.

Provando que se pode ir além dos clichês desse gênero musical (como a melancolia das canções dos escravos norte-americanos e de seus descendentes), o pianista, compositor e cantor paulista relê hinos e cantos tradicionais da Nigéria, da África do Sul, de Mali, Zâmbia e Quênia.


Grineberg também inclui composições próprias entre as 14 faixas. Em “Olodumaré”, ele veste um canto iorubá com sonoridades de blues e um afro-brasileiro berimbau. “Tuareg Blues”, cantada em inglês, revela a proximidade da música de Mali com cantos islâmicos. 

Não pense que se trata de um sisudo projeto musicológico: “Blues for Africa” é a trilha sonora de uma ensolarada viagem musical que também pode, simplesmente, servir para dançar.

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", edição de 26/7/2014)
 



Jazz na Fábrica 2014: festival do Sesc SP explora os limites desse gênero musical

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Quais são os limites do jazz? Até que ponto esse gênero musical pode se aproximar da tradição clássica, do experimentalismo, da música étnica ou mesmo da música pop sem perder sua essência ou deixar de inovar? Questões como estas, que vêm acompanhando as transformações desse gênero musical há décadas, inspiraram a quarta edição do Jazz na Fábrica.

O festival produzido pela equipe de programação do Sesc Pompéia vai trazer à capital paulista, de 6 a 31 de agosto, dezenas de músicos e grupos de diversos estilos jazzísticos e nacionalidades. E com um diferencial importante, numa cidade com custo de vida tão alto como São Paulo: os preços dos ingressos são acessíveis, variando de R$ 12 a R$ 60.

Entre os maiores destaques desta edição está o multi-instrumentista de sopros e compositor norte-americano Anthony Braxton, 64, criativo expoente do jazz de vanguarda de Chicago, que vai se apresentar pela primeira vez no país (dias 7 e 8/8). Seu quarteto, o Diamond Curtain Wall inclui Mary Halvorson (guitarra), Ingrid Laudbrock (sax tenor) e Taylor Ho Bynum (trompete, flugelhorn e trombone).

Quem inicia a programação (de 6 a 8/8) é o pianista nova-iorquino Randy Weston, 88, brilhante discípulo de Thelonious Monk (1917-1982), que já nos anos 1960 abriu seu jazz moderno aos ritmos da África e do Caribe. Weston virá acompanhado pelo septeto African Rhythm, que reúne Talib Kibwe (sax alto e flauta), Bill Saxton (sax tenor), Robert Trowers (trompete), Alex Blake (baixo), Neil Clarke (percussão) e Lewis Nash (bateria).


Outros pianistas de primeira linha estão no elenco desse festival. A japonesa Hiromi Uehara, 35, tem conquistado as plateias com muita energia e um repertório que mistura elementos do rock, da música clássica e da jazz-fusion. Pela primeira vez no Brasil (dias 16 e 17/8), ela trará o trio que destaca também o baixista Anthony Jackson e o baterista Simon Philips.

De Cuba vem Harold López-Nussa, 31, pianista-revelação e compositor que já tocou com astros da música cubana, como Omara Portuondo e Chucho Valdés, além de integrar grupos de destaque na cena do jazz internacional, como o Ninety Miles e o Monterey Latin Jazz All-Stars. Vai tocar nos dias 30 e 31/8.

As fusões do jazz moderno com ritmos latinos também estão representadas pelo quarteto colombiano liderado pelo saxofonista Antonio Arnedo com o pianista Juancho Valencia (9 e 10/8). Os improvisos do grupo são calcados em ritmos locais, como a cumbia e o passillo.


Conhecido integrante das bandas de James Brown e George Clinton, essenciais no soul e no funk dos anos 1960 e 1970, o trombonista Fred Wesley, 71, vai mostrar sua faceta mais jazzística. Terá a seu lado o organista Leonardo Corradi e o baterista Tony March, parceiros no trio Generations (23 e 24/8). 


Um dos músicos africanos mais populares desde a década de 1970, na cena internacional, o saxofonista e vibrafonista Manu Dibango (da República de Camarões), hoje com 80 anos, já fez diversas gerações dançarem com suas fusões de funk, soul, jazz, reggae, afrobeat e outros ritmos da África Ocidental. Ele encerra a programação do festival, dias 30 e 31/8, na Choperia do Sesc Pompéia. 

O jazz europeu também está representado nesta edição. Dia 15/8 toca o experiente trompetista francês Stéphane Belmondo, 47, que já gravou com astros do jazz norte-americano, assim como tocou com Milton Nascimento. O saxofonista finlandês Timo Lassy, 40, cultiva a dançante fusão do jazz com a soul music (22/8). Já a banda norueguesa Jaga Jazzist traz seu jazz experimental com influências do rock progressivo e do afro-beat (16 e 17/8).

Experimentação também é uma constante na obra do trompetista e compositor norte-americano Wadada Leo Smith, 72, que poderá ser ouvido em um inédito encontro com HPrizm (também conhecido como High Priest), um dos fundadores do grupo de hip hop alternativo Antipop Consortium, e o baixista Henri Grimes (dias 9 e 10/8).

 
Ainda na linha mais experimental, o Jazz na Fábrica programou também uma série dedicada à improvisação livre. Os shows destacam: o quinteto do trompetista norte-americano Nate Wooley (28/8); o trio Kock-Rohrer-Gianfratti com o baixista inglês John Edwards (14/8); o duo Flac (o baterista Flávio Lazzarin e o saxofonista André Calixto) com o guitarrista Luiz Galvão e o saxofonista Marcelo Coelho (15/8); e o grupo Rumores (21/8).

Outras atrações nacionais completam o elenco do festival: o sexteto do trombonista Bocato (29/8); o quinteto do saxofonista Felipe Salles (23/8); o grupo do baixista Itiberê Zwarg (29/8); o grupo Meretrio (22/8); e o quinteto Jazz Brothers (dos irmãos Wilson, saxofonista, e Cuca Teixeira, baterista), que terão como convidada a cantora Sarah Chrétien (28/8).

Desta vez 40% dos ingressos para os shows do Jazz na Fábrica serão vendidos online, a partir de 31/7 (quinta-feira), às 17h30, com a limitação de dois ingressos por pessoa/espetáculo. Já nas bilheterias das unidades do Sesc, a venda de ingressos começará no dia seguinte: 1º/8 (sexta-feira), às 17h30. 


Mais detalhes sobre os shows e venda de ingressos no site do Sesc SP:   http://www.sescsp.org.br/programacao/39950_JAZZ+NA+FABRICA#/content=programacao













Rio das Ostras Jazz & Blues: festival anuncia concurso para selecionar grupos fluminenses

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                                              O tecladista Marc Cary e o saxofonista Donald Harrison 

O Rio das Ostras Jazz & Blues anuncia outra novidade para sua 12ª edição, além do novo formato, com a programação de shows dividida em dois finais de semana (conheça as atrações neste link). Músicos do Estado do Rio de Janeiro poderão participar de um concurso que permitirá ao vencedor se apresentar no festival, em 2015, assim como exibir duas composições próprias na noite do próximo dia 16 de agosto.

Grupos de jazz, blues e música instrumental (de três a sete integrantes), interessados em participar desse concurso, devem preencher uma ficha de inscrição disponível no site da Prefeitura da Rio das Ostras (www.riodasostras.rj.gov.br/concursodebandas), até dia 31 de julho. Devem também entregar um CD contendo três músicas, sendo duas autorais e uma cover. Esse material deve ser enviado pelos Correios ou entregue diretamente na sede da Secretaria de Turismo de Rio das Ostras (Pça. Prefeito Cláudio Ribeiro, s/nº, Extensão do Bosque) ou na Fundação Rio das Ostras de Cultura (Pça. São Pedro, nº 109, Centro).

Uma equipe técnica composta por cinco jurados vai selecionar entre os inscritos 18 grupos. Esses finalistas vão se apresentar, nos dias 12, 13 e 14 (seis grupos por noite). O júri avaliará quesitos como: interação, letras (em português ou inglês), melodia, harmonia, ritmo, criatividade e performance. 

O edital e o regulamento do concurso estão disponíveis no site da Prefeitura de Rio das Ostras e no site do festival. Outras informações pelo tel. (22) 99819-6969. 


Bourbon Street Fest 2014: próxima edição destaca expoentes da cena musical de New Orleans

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Atrações já confirmadas, como o pianista Allen Toussaint, o guitarrista Walter “Wolfman” Washington, o trombonista Glen David Andrews e os cantores Germaine Bazzle (na foto ao lado) e Rockin’ Dopsie Jr. prometem: se não for a melhor, a 12ª edição do Bourbon Street Fest – de 16 a 24 de agosto, em São Paulo – certamente será uma das melhores que esse evento já realizou até hoje. 

Pela primeira vez em palcos brasileiros, o veterano Allen Toussaint, cultuado expoente do rhythm & blues de New Orleans (EUA), é autor de clássicos como “Southern Nights”, “Working in the Coalmine” e “Whipped Cream”. Já escreveu arranjos e produziu gravações para diversos figurões do blues e da música pop, como Eric Clapton, Elvis Costello, Paul Simon, Etta James e John Mayall, entre outros.   


Conservando o diversificado perfil musical que exibe desde sua primeira edição, o festival produzido pelo paulistano Bourbon Street Music Club vai trazer mais uma vez nomes de ponta de várias correntes musicais cultivadas em Nova Orleans: do funk e do R&B de Walter “Wolfman” Washington (na foto à direita) ao zydeco e ao rock de Rockin Dopsie Jr.; do jazz de Germaine Bazzle ao funk, ao gospel e ao hip hop de Glen David Andrews. 

O elenco do próximo Bourbon Street Fest vai incluir também duas revelações mais recentes da cena musical de New Orleans: a cantora e guitarrista Mia Borders, que tem chamado atenção com suas letras emotivas, em canções próprias que vão do blues ao rock; e a banda Brazz-a-Holics, que une a tradição das bandas de metais de New Orleans com o balanço do jazz e do funk.

Mais informações no site do Bourbon Street Fest

Luciano Salvador Bahia: entre a malícia do samba e a irreverência do rock

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A surpresa ao ouvir um disco com canções e sambas tão refinados e espirituosos, como este, só aumenta ao notar que seu autor, quase desconhecido fora da Bahia, já tem uma carreira de três décadas. Depois de tocar por muito tempo na noite soteropolitana (inclusive com Daniela Mercury), o músico, compositor, arranjador e cantor Luciano Salvador Bahia só lançou o primeiro disco autoral em 2006.

“Abstraia, Baby” (lançamento Dubas), seu segundo álbum, provoca e delicia o ouvinte desde o elétrico samba que o abre, “Afobado”. Não à toa, várias das canções são recheadas de referências musicais, como o hilário “Tango do Mal”, que Luciano canta com Eduardo Dussek, ou o samba “Madame Gente Fina”, inusitada paródia do clássico "Pra Que Discutir com Madame?" (de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa), imortalizado por João Gilberto.

Irresistíveis também são o samba-canção “Não Precisa” e o blues-rock “Maciota”. Entre a malícia do samba e a irreverência do rock, Luciano prova que, felizmente, nem toda a produção musical da Bahia se curva ao domínio do famigerado axé. 

(Resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 28/6/2014)

Ouça aqui as faixas do álbum "Abstraia, Baby":


 

 

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