Tuto Ferraz: baterista e compositor faz jazz com temperos brasileiros

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                                                                                  Tuto Ferraz, em foto de Gabriela Ruffino

O baterista, compositor e band leader paulista Tuto Ferraz lança seu álbum "À Deriva" , nesta quarta-feira (19/3), no Ruella, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Abaixo reproduzo o texto que escrevi para a contracapa desse disco, que eu recomendo. Jazz de ótima qualidade com tempero brasileiro. 


Durante 12 anos o nome de Tuto Ferraz esteve associado ao da Grooveria, banda paulistana apreciada por suas versões dançantes de clássicos da MPB, exibidas em clubes e palcos de várias capitais brasileiras. Agora, o versátil baterista, produtor e band leader revela outro aspecto de sua personalidade musical: sete composições inéditas que comprovam sua afinidade com o jazz mais acústico.

“Tenho vários lados musicais, mas sou muito crítico comigo mesmo”, ele reconhece, ao explicar que só não gravou antes um disco como este por causa da autocrítica excessiva. “Eu também gosto de melodias e de tocar em andamentos mais lentos. Por isso adoraria ver este projeto de jazz se tornar meu prato principal, nos próximos anos”, comenta o baterista, que teve os primeiros contatos com esse gênero musical ainda na infância, estimulado pela variada discoteca de seu pai.

Neste álbum, além de contar com a participação do pianista Pepe Cisneros (seu parceiro desde a década de 1990, quando tocavam na banda Tumbao), Tuto tem a seu lado talentosos instrumentistas da nova geração: o guitarrista Agenor de Lorenzi, o saxofonista Josué dos Santos e os baixistas Sidiel Vieira e Zeli Silva. As sete faixas foram gravadas “ao vivo”, sem truques de edição, na própria casa-estúdio do líder, “com um quarto e três salas de gravação”. Mais ou menos como foram feitos grandes discos de jazz, no passado.

Por essas e outras, ao ouvir “À Deriva”, a delicada valsa-jazz que intitula este álbum, ou “Saudades”, uma emotiva balada levemente tingida de samba, não estranhe se você se sentir transportado para um estúdio de algum clássico selo de jazz, como o Blue Note ou o Prestige, onde brilharam décadas atrás músicos como Miles Davis, Bill Evans, John Coltrane, McCoy Tyner, Elvin Jones, Wayne Shorter, Dave Brubeck ou Oscar Peterson – influências que marcaram a formação jazzística do líder da Funky Jazz Machine.

“Sempre gostei do jazz mais antigo. Pra mim, o creme do creme do jazz é aquele do final dos anos 50, começo dos 60”, comenta Tuto, que mistura em sua composição “Big Band à la Bond” o balanço típico das orquestras de swing, que aprendeu a gostar ouvindo fitas cassete de seu pai, com as lembranças dos emocionantes filmes de James “007” Bond. Não é toa também que sua descontraída levada de bateria, no jazzístico tema “T-Funky”, emula os ritmos funkeados de New Orleans, a lendária capital do jazz tradicional.

Naturalmente, também não poderiam faltar neste álbum as influências da música brasileira. Elas estão presentes em “Triple Samba”, um inusitado samba em ritmo ternário, na leve e valsante “Bom Dia”, ou ainda em “Chorando na Gafieira”, um suingado samba-choro daqueles que grudam no ouvido. Essa é, aliás, uma característica das composições de Tuto: suas melodias são simples e cantáveis, como as dos clássicos standards da canção norte-americana que fazem parte dos repertórios dos jazzistas. 


Empolgado com suas composições, que deflagraram a nova fase de sua carreira, Tuto revela que a produção não parou. “Ano que vem tem outro disco”, anuncia. Pelo talento que ele exibe neste “À Deriva”, só podemos esperar que o próximo álbum saia logo.  

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