10° MIMO: Macalé, Gil e um belo concerto de Hamilton de Holanda e Bollani, em Olinda

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                                         Stefano Bollani e Hamilton de Holanda, no Mimo, em Olinda

Bastava ver o nome de Gilberto Gil, no programa na 10ª edição do festival Mimo, em Olinda (PE), para se prever que a noite do último sábado seria a mais concorrida. Surpresa mesmo, para muitas das cerca de 20 mil pessoas que se espremeram na praça do Carmo, foi o irresistível show de Jards Macalé, autor de grandes canções dos anos 1970, como “Vapor Barato” (com Waly Salomão) e “Movimento dos Barcos” (com Capinan), que abriu a noite, no mesmo palco. 

Comandando a Let’s Play That, banda bem jovem e com pegada de rock, Macalé (na foto ao lado) conquistou logo a plateia. Foi seguido por ela, em “Eu Só Quero um Xodó”, na homenagem que fez ao sanfoneiro Dominguinhos, morto em julho. Mas o grande momento veio com “Canalha”, canção de Walter Franco resgatada por Macalé, que soa muito atual. Nem foi preciso mencionar os defensores de corruptos no Congresso, para que o grito furioso – “canalha!“ – explodisse.

Talvez um teatro fosse mais conveniente para o criativo show da Orquestra de Sopros da Pro Arte, baseado na obra de Gilberto Gil, que também já rendeu um DVD. Parte da plateia já estava bem inquieta, depois de ouvir arranjos instrumentais de canções como “Roda”, “Procissão” e "Amor Até o Fim”. Mas bastou que o compositor baiano entrasse em cena para que a tensão se dissolvesse. Sucessos como “Domingo no Parque”, “Expresso 2222” e “Parabolicamará” foram cantados em coro com Gil, que também dividiu o palco com o flautista Carlos Malta (na foto abaixo, à direita).


A melhor noite do Mimo em Olinda destacou também, na lotada Igreja da Sé, o belo concerto do acordeonista francês Richard Galliano com o Quinteto da Paraíba. No programa, “As Quatro Estações”, de Vivaldi, foram seguidas pelas “Estações Portenhas”, de Piazzolla, que emocionaram a plateia. Galliano (na foto baixo) e o conjunto de câmara, que também homenagearam Dominguinhos com o tango “Oblivion”, tiveram que voltar três vezes ao palco.

Na mesma Igreja da Sé, na sexta-feira, a plateia também não queria que o bandolinista Hamilton de Holanda e o pianista Stefano Bollani deixassem o palco. O virtuosismo do brasileiro e o humor inventivo do italiano brilharam nas releituras de “Lôro” (Egberto Gismonti), “Rosa” (Pixinguinha) e “As Rosas Não Falam” (Cartola), entre vários clássicos da MPB.

“Dizer que há uma grande empatia entre o Hamilton e eu parece retórica, mas tudo foi muito fácil desde a primeira vez que toquei com ele. Por serem dois instrumentos harmônicos, a relação entre o bandolim e o piano não é fácil, mas, ao tocar com o Hamilton, eu me sinto conversando com um amigo”, disse Bollani à "Folha", logo após o concerto. O primeiro álbum da dupla, “O Que Será” (ECM), acaba de ser distribuído no Brasil pelo selo Borandá. 


Depois de incluir as cidades de Ouro Preto e Paraty na programação, a produtora Lu Araújo, que criou o Mimo em 2004, diz que ainda não sabe se o evento vai se expandir mais, nos próximos anos. “Outras cidades históricas, como Mariana, Angra dos Reis e Amparo, já nos procuraram, mas, como o festival é artesanal, precisamos avaliar muito bem uma decisão como essa”, comenta.

Segundo ela, o fato de programar atrações mais próximas dos universos da canção e da música pop na programação deste ano, como o rapper carioca BNegão ou a banda francesa Nouvelle Vague, não descaracteriza o evento, que nasceu como uma mostra internacional de música instrumental. “A voz também é um instrumento. A música instrumental também pode soar como rock ou música eletrônica”, argumenta Lu Araújo.


(reportagem publicada na edição online da "Folha de S. Paulo", em 9/9/2013)

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