Ben Harper & Charlie Musselwhite: duas gerações unidas por meio do blues

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O cantor e violonista Ben Harper, 43, e o gaitista Charlie Musselwhite, 69, se conheceram em uma gravação com o mestre do blues John Lee Hooker, em 1997. A afinidade musical os levou a outros projetos conjuntos, mas poucos com a densidade do álbum “Get Up!” (lançamento do selo Stax, distribuído pela Universal Music), um mergulho profundo na tradição do blues.

Autor das 10 faixas, Harper se destaca nos vocais, variando suas interpretações à necessidade de cada canção: recorre ao falsete, no acústico blues “Don’t Look Twice”; solta o vozeirão em “I’m in I’m Out and I’m Gone”, um blues elétrico ao estilo de Chicago; exibe sua pegada roqueira, no pesado “I Don’t Believe a Word You Say”; soa como um soulman, na emotiva balada “You Found Another Lover”.

Musselwhite pode parecer em segundo plano, em alguns momentos, mas as expressivas intervenções de sua gaita criam um inquieto diálogo com os vocais de Harper. Um projeto excitante que deve crescer mais ao vivo. 


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 30/03/2013)

Simone Rasslan: cantora de Porto Alegre interpreta a diversidade brasileira

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A primeira faixa é uma saborosa versão do “Baião de Quatro Toques” (de Zé Miguel Wisnik e Luiz Tatit), que remete a conjuntos vocais dos anos 1950. Depois surgem dois clássicos caipiras: “Rio de Lágrimas” (Tião Carreiro) e “Cuitelinho” (D.P./Paulo Vanzolini), revisitados com a essencial viola e belos arranjos vocais.

Não pense que se trata de um grupo paulista. A cantora Simone Rasslan é, na verdade, uma mato-grossense de voz delicada, radicada em Porto Alegre, que se juntou a Álvaro RosaCosta, Beto Chedid (violões e vocais) e músicos gaúchos para interpretar um punhado de canções de diversos cantos do país, no álbum "Xaxados e Perdidos".


Esse repertório inclui também a bela “Água e Vinho” (Egberto Gismonti e Geraldo Carneiro), o sacudido “De Onde Vem o Baião” (Gilberto Gil) e algumas composições próprias extraídas de espetáculos teatrais. Uma maneira poética e generosa de se reconstruir um Brasil livre de clichês e preconceitos.

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos e Filmes", em 30/03/2013)

 

Pau Brasil: grupo instrumental paulista lança seu 'Caixote' com 8 CDs, DVD e livreto biográfico

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                                                                                                                          Photo by Dani Gurgel

Com shows no Sesc Pompéia, em São Paulo, neste final de semana (dias 30 e 31/3), o grupo Pau Brasil, referência da melhor música instrumental feita em nosso país, comemora três décadas de carreira com o lançamento de seu "Caixote". Esse box, patrocinado pela Petrobrás, reúne seus primeiros oito álbuns, do primogênito "Pau Brasil" (de 1983, ainda inédito em CD) até "2005" (CD que marcou o retorno do grupo, em 2005, após um hiato). 

O "Caixote" inclui ainda um DVD com registro do show "Babel" (1996), e um livreto sobre a trajetória do grupo, incluindo saborosos relatos dos músicos de suas várias formações, que tive o prazer de escrever. Reproduzo abaixo a breve introdução desse livro, aliás, ricamente ilustrado, que também pode ser lido no site do Pau Brasil:
http://www.grupopaubrasil.com/historia.php

Pau Brasil: três décadas de música instrumental brasileira

No futuro, quando algum pesquisador tomar para si a essencial tarefa de narrar e analisar a história da música instrumental brasileira, certamente dedicará um capítulo dessa obra ao grupo Pau Brasil. Nada mais justo: a exemplo de outros expoentes desse gênero musical que o precederam, como o Tamba Trio e o Zimbo Trio, ou de grupos liderados por grandes compositores e improvisadores ainda na ativa, felizmente, como Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti, o Pau Brasil tornou-se uma referência para várias gerações de apreciadores e músicos.
Nas gravações reunidas nesta caixa, realizadas ao longo das últimas três décadas, é fácil perceber como a obra do Pau Brasil reflete, com personalidade, as inquietações estéticas e as transformações sonoras da moderna música instrumental produzida no país – gênero que alguns preferem chamar de jazz brasileiro. Em suas diversas formações, o Pau Brasil sintetizou a busca de uma música essencialmente brasileira e moderna, que utiliza a improvisação sem recorrer aos clichês ou aos standards do jazz norte-americano. Para isso, seus integrantes buscaram novas formas musicais, criando um repertório próprio e original.
O reconhecimento da importância desse grupo musical de São Paulo, tanto pela crítica especializada, como pelo público, foi imediato. Seu álbum de estreia, Pau Brasil (1983), recebeu elogios dos principais órgãos da imprensa nacional, assim como suas gravações posteriores. Sucesso que logo se estendeu à Europa, onde o grupo realizou extensas turnês anuais pelos principais clubes de jazz e festivais de música, além de apresentações nos Estados Unidos e no Japão, exportando o que há de melhor na música instrumental brasileira. E hoje, com uma bagagem musical ainda mais ampla e diversificada, o Pau Brasil segue ativo e criativo, com o mesmo bom humor que sempre o identificou.

Sandro Albert: guitarrista e jazzista gaúcho, com carreira no exterior, toca em São Paulo

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                                                                                      O guitarrista Sandro Albert


A história pessoal de Sandro Albert poderia render um filme, com um daqueles roteiros de Hollywood temperados com cenas inusitadas e toques de contos de fadas. Não é a qualquer hora que um guitarrista brasileiro, crescido em Porto Alegre (RS) e autodidata, muda-se com a cara e a coragem para os Estados Unidos, onde consegue desenvolver uma carreira musical.

Hoje ele é um instrumentista e compositor respeitado, na competitiva cena do jazz praticado em Nova York. Sandro vive nos Estados Unidos desde 1996, para onde viajou com a intenção inicial de passar seis meses.

“Eu nem falava inglês ao chegar aqui, só sabia contar até dez. Vim com 2.500 dólares no bolso e duas guitarras”, diverte-se, falando de Nova York, pelo Skype. “Meses depois eu estava fazendo meu primeiro show, num cassino de Las Vegas, tocando ao lado de Earth, Wind & Fire, Gap Band e Village People, bandas que ouvi muito enquanto crescia”.

Imagine a cena: um jovem branco e brasileiro, em Los Angeles, disputando com 12 músicos negros a vaga de guitarrista da War – lendária banda californiana de black music, que deixou sua marca na década de 1970.

“Acho que ganhei o emprego porque, no intervalo das audições, comecei a tocar uns choros do Garoto (o violonista e compositor paulista Anibal Sardinha), que aprendi em um livro que ganhei do violonista Paulo Bellinati, antes de embarcar para os Estados Unidos. Os caras ficaram muito impressionados com o que ouviram. Queriam um guitarrista diferente na banda, como eu”.

Sandro passou dois anos na banda War, tocando com regularidade. “Saí pouco depois de ter feito meu show número 150. Aliás, os shows da War sempre estavam lotados. A música dos anos 70 continua muito forte aqui nos Estados Unidos”, comenta o guitarrista.

Em 2001, já mais próximo do jazz, Sandro lançou “Soul People”, seu primeiro disco, que contou com uma participação especial de ninguém menos que Milton Nascimento. Foi desse ídolo, justamente, que recebeu um conselho precioso, numa época em que o cenário para a música instrumental não andava muito promissor por aqui. “Ele me disse para focar mais a minha carreira nos Estados Unidos e na Europa, porque, no Brasil, muitas vezes, santo de casa não faz milagre”.

Hoje, com quatro discos lançados, além de ter se apresentado em alguns dos festivais e clubes de jazz mais importantes dos Estados Unidos e da Europa, Sandro exibe em seu invejável currículo parcerias e colaborações com jazzistas de renome, como Kenny Garrett, Russell Ferrante, Harvey Mason, Peter Erskine, Antonio Sanchez e Terri Lyne Carrington, sem falar em instrumentistas brasileiros de ponta, como Airto Moreira, Toninho Horta e Claudio Roditi.

Dias antes de iniciar mais uma turnê de shows pela Europa, em uma rápida passagem por São Paulo, Sandro Albert vai se apresentar nesta quinta-feira (7/3), no auditório do Sesc Vila Mariana. Para essa ocasião, formou um quarteto com antigos parceiros: Jota Resende (piano), Marco da Costa (bateria) e Rubem Farias (baixo).


Uma rara chance de se ouvir ao vivo um talentoso jazzista brasileiro, elogiado com frequência nos EUA e na Europa, mas que seu país ainda pouco conhece.

Mais informações no site do SESC-SP:

www.sescsp.org.br
 




 

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