Benjamim Taubkin e Adriano Adewale: conversas no idioma universal da música improvisada

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A ideia de gravar um disco sem ensaios ou qualquer preparação prévia assustaria músicos de vários gêneros. Já no universo do jazz e da música instrumental, esse tipo de um desafio é frequente e pode resultar em boas surpresas.

Foi algo assim que o pianista Benjamim Taubkin e o percussionista Adriano Adewale combinaram dois anos atrás: sem ensaios, encontraram-se no Vortex Jazz Club, em Londres, e improvisaram durante horas.

Fragmentos dessa “conversa” musical estão nas quatro longas e inspiradas faixas do CD “The Vortex Sessions” (lançamento do selo Nucleo Contemporâneo). A delicada “Blue in Green in Yellow” é uma releitura da composição do jazzista Bill Evans. “Samba” é quase um diálogo minimalista entre os dois instrumentistas. Em “Paisagens”, Taubkin transforma em belas melodias as imagens que seus olhos registraram na Irlanda. Essa é, aliás, outra qualidade inerente à música improvisada: sem usar palavras, ela é capaz de soar como um idioma universal.


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 27/10/2012)



 

Áurea Martins: mais reconhecida, cantora carioca emociona no primeiro DVD

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É difícil não pensar em injustiça, ou mesmo em preconceito, ao ver uma grande cantora, como Áurea Martins, conquistar um reconhecimento mais amplo só após os 70 anos. Para quem ainda não ouviu a voz negra e preciosa dessa intérprete fluminense, que durante meio século brilhou discretamente na noite carioca, o registro do show “Iluminante” (lançamento do selo Biscoito Fino, em DVD e CD) funciona bem como amostra de seu talento.

Em sambas-canções como “Janelas Abertas” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e “Ilusão à Toa” (Johnny Alf), Áurea revela todo seu potencial como intérprete. Elegante, também desfila a voz expressiva por sambas mais gingados, além de cantar a lírica “Modinha” ao lado de Chico Buarque. Com apresentação da atriz Fernanda Montenegro, a edição em DVD inclui faixas extras e um breve depoimento da cantora. “Quando eu era mais nova tive uma fase de revolta, agora não. O que eu dou está aí, de graça, para quem souber aproveitar. Não tenho mágoa”, diz a generosa veterana da noite.


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 27/10/2012)

Franz Herberg Trio: baixista alemão combina jazz contemporâneo e ritmos brasileiros

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Música improvisada contemporânea? Jazz? Som instrumental brasileiro? Talvez, numa primeira audição, seja um tanto difícil para o ouvinte classificar o original álbum do Frank Herzberg Trio, mas o que importa mesmo é que esse contrabaixista e compositor alemão, radicado há 15 anos no Brasil, forma com o baterista Zé Eduardo Nazário e o pianista Alexandre Zamith um grupo de primeira linha.

Autoral, o repertório do CD “Handmade” (lançamento independente distribuído pela Tratore) reflete a diversidade de influências musicais e a intimidade sonora que esse trio adquiriu em uma década de parceria. A liberdade rítmica e harmônica de “Don’t Talk Crazy” (dedicada pelo baixista a um amigo preocupado com previsões de fim do mundo), o irresistível baião “A Xepa” (que Nazário compôs na década de 1970, quando ainda tocava com Hermeto Pascoal) e a suingada “Too Much, Charlie” (outra de Herzberg) sugerem que, nesse gênero que ainda se convenciona chamar de jazz, as fontes musicais podem ser inúmeras e diversas, mas a improvisação ainda é o denominador comum.


(resenha publicada originalmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 27/10/2012)



 



The ABCD of Boogie Woogie: quarteto britânico se diverte com forma pianística de blues

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 Modalidade de blues calcada no piano, o boogie woogie popularizou-se nos anos 1940 ao frequentar o repertório de expoentes do jazz, como os pianistas Count Basie e Fats Waller. Dançante e de essência rítmica, já na década de 1950 ele contribuiu para a gênese do rock’n’roll.

O nome do quarteto britânico The ABC&D of Boogie Woogie pode dar a impressão de que seu álbum de estreia (lançamento da gravadora ST2) seja uma introdução didática a esse estilo musical, mas, de fato, trata-se apenas de uma sigla com os nomes de seus integrantes. O que os pianistas Axel Zwingenberger e Ben Waters, Charlie Watts, o veterano baterista e membro original da banda Rolling Stones, e o baixista Dave Green querem mesmo é se divertir.

Gravado ao vivo no clube parisiense Duc des Lombards, em 2010, o descontraído CD destaca apenas um clássico do boogie woogie, “Roll’em Pete” (de Pete Johnson e Big Joe Turner), mas composições do grupo, como “Bonsoir Boogie”, “Duc de Woogie Boogie” e “Encore Stomp”, reproduzem bem a forma e a excitação desse estilo musical. 

(resenha publicada originalmente no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 27/10/2012) 


4º Choro Jazz: festival leva música instrumental a Fortaleza e Jericoacoara

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                                                                                                     O trombonista carioca Raul de Souza
Depois de três bem sucedidas edições, o festival Choro Jazz cresceu: além da costumeira semana de shows na bela praia de Jericoacoara (de 4 a 9/12), neste ano sua programação será estendida à capital do estado, Fortaleza, onde vão ser realizados três dias de shows gratuitos (de 29/11 a 1/12).

O elenco musical do festival Choro Jazz combina mais uma vez expoentes e jovens talentos do choro e da música instrumental brasileira. Alguns, como o conceituado Duo Assad, o violonista e cantor carioca Guinga ou o clarinetista italiano Gabrielle Mirabassi, vão se apresentar nas duas cidades.

Mais extensa, a programação na praça principal de Jericoacoara destaca também o trombonista carioca Raul de Souza, o trio da cantora paulista Monica Salmaso (com o pianista Nelson Ayres e o saxofonista Teco Cardoso), o cantor e dançarino pernambucano Antônio Nobrega, o quinteto paulista Vento em Madeira, o trio carioca Madeira Brasil e o grupo francês Lindigo, entre outras atrações.

Centradas na música instrumental brasileira, as atividades pedagógicas do festival também serão oferecidas aos estudantes de Fortaleza. Incluindo cursos de instrumento e aulas de conjunto, as oficinas vão durar quatro dias, na capital, e toda a semana do evento, em Jericoacoara.

Mais informações no site do festival: www.chorojazz.com

Anita O'Day: uma cantora moderna, arrojada e elegante mesmo 50 anos depois

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Não é fácil acreditar que a sensacional apresentação de Anita O’Day, no Festival de Jazz de Newport (veja o vídeo abaixo), tenha acontecido há mais de 50 anos! Sua elegância, seu estilo vocal e seus improvisos arrojados são capazes, ainda hoje, de envergonhar pretensas cantoras de jazz que ficam posando, algumas até desafinando, por aí...

Deixo aqui um trecho do pequeno livro que escrevi sobre a obra e a turbulenta vida de Anita para a “Coleção Folha Grandes Vozes”, já disponível em bancas de revistas e jornais de quase todo o país. Essa edição inclui um CD com 18 faixas, que sintetizam bem a arte dessa grande intérprete da canção norte-americana e do jazz moderno.

"Qualquer um que ouça e veja Anita O’Day, cantando em ‘Jazz on a Summer’s Day’, o cultuado documentário de Bert Stern, dificilmente resiste a seu charme musical. Flagrada em sua excitante apresentação no Newport Jazz Festival, em uma tarde do verão de 1958, sua imagem tornou-se um ícone eterno da modernidade e da elegância desse gênero musical.

Sem saber que estava sendo filmada, com um sorriso contagiante, vestido preto e um grande chapéu com plumas e luvas brancas, Anita exibiu todo seu suingue e inventividade, ao recriar com improvisos vocais as canções ‘Sweet Georgia Brown’ e ‘Tea For Two’. Graças à repercussão do documentário de Stern, ela conquistou enfim o reconhecimento internacional que merecia, depois de uma conturbada trajetória profissional de duas décadas. Diferentemente de algumas de suas colegas, apesar das dificuldades financeiras e pessoais, ela jamais desistiu de sua paixão pelo jazz".


Mais informações sobre a “Coleção Folha Grandes Vozes”: http://vozes.folha.com.br/



 

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