Melhores de 2011: críticos elegem seus álbuns favoritos em enquete do "Valor Econômico"

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Atendendo a um convite do jornal “Valor Econômico”, com o qual tenho colaborado durante a última década, participei de uma enquete para eleger os melhores discos de 2011. Para essa votação também contribuíram os jornalistas e críticos João Marcos Coelho, Luciano Buarque de Hollanda, Tárik de Souza e Zuza Homem de Mello.

Quem atua na área musical sabe que essa é uma das tarefas mais difíceis, discutíveis até, nesse ramo. Como justificar que um trabalho artístico nos parece melhor do que outro, sem sermos parciais ou mesmo injustos? Até que ponto nosso gosto pessoal pesa decisivamente nessa decisão?

O fato é que aceitei indicar cinco CDs nacionais e cinco internacionais de qualquer gênero, lançados em 2011. O resultado da enquete está no no site do “Valor Econômico”. Estes foram os 10 álbuns que eu selecionei, em ordem alfabética:
                           


ÁLBUNS NACIONAIS 
Alma Lírica Brasileira - Mônica Salmaso (Biscoito Fino)
Indivisível - Zé Miguel Wisnik (Circus)
Liebe Paradiso - Celso Fonseca e Ronaldo Bastos (Dubas)
Recanto - Gal Costa (Universal)
Vento em Madeira - Quinteto Vento em Madeira (Maritaca)


ÁLBUNS INTERNACIONAIS
Dreamer in Concert - Stacey Kent (EMI)
For True - Trombone Shorty (Verve/Universal)
Live in Marsiac - Brad Mehldau (Nonesuch/Warner)
Ninety Miles - Stefon Harris, David Sánchez e Christian Scott (Concord)
Rio - Keith Jarrett (ECM/Borandá)


Cesária Évora: diva de Cabo Verde dizia que "a alegria e a tristeza são vizinhas"

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Cesária Évora (1941-2012) foi a maior estrela musical de Cabo Verde. Sem sua voz emotiva e seu discreto carisma, a música popular desse arquipélago africano, ex-colônia de Portugal, não seria hoje tão conhecida mundialmente.

Pelo que representou na cena musical do último século, é justo equipará-la a outras grandes divas do canto, como Amália Rodrigues (1920-1999), principal intérprete do fado português, Bessie Smith (1894-1937), maior cantora do blues clássico norte-americano, ou Celia Cruz (1925-2003), “rainha” da salsa cubana.

Sobrinha do compositor B. Leza, que ajudou a dar forma à moderna canção cabo-verdiana, Cesária nasceu no porto de Mindelo. Sua carreira musical levou décadas para engrenar. Chegou a fazer gravações em Portugal, na década de 1970, mas só alcançou o sucesso quando já era cinquentona. Lançado em 1992, “Miss Perfumado” foi o álbum que a projetou mundialmente.

Nenhum dos gêneros musicais que faziam parte de seu repertório identificou-se tão bem com sua imagem artística como a “morna”. Hoje um símbolo cultural de seu país, essa modalidade de canção em andamento lento caracteriza-se por versos carregados de melancolia, que falam de amores frustrados, saudade e exílio – como “Sodade”, o maior sucesso de Cesária.

O hábito de entrar nos palcos sem sapatos, que a tornou conhecida como “a diva dos pés descalços”, não era apenas uma idiossincrasia. Soava também como um gesto que expressava seu apego às raízes da música que cultivou por toda a vida.

“Quem quiser se afastar da tradição, que se afaste. Sempre cantei e vou continuar cantando música típica de Cabo Verde”, afirmava, quando lhe perguntavam se não pensava em “modernizar” seu repertório ou trocar por instrumentos eletrônicos o cavaquinho, os violões, o piano e a percussão que costumavam acompanhá-la.

Essa determinação não a impediu de se aproximar da música brasileira, pela qual tinha grande admiração. Fã da fluminense Angela Maria, cantora da chamada “era de ouro” do rádio brasileiro, Cesária gravou dois de seus sucessos: o samba-canção “Negue” e o bolero “Beijo Roubado” (ambos de Adelino Moreira). Também fez parcerias com Caetano Veloso, Gal Costa e Marisa Monte.

Em uma entrevista que fiz com ela para a "Folha de S. Paulo", em 2005, ao revelar que gostava das folias do Carnaval, Cesária me disse que não era tão melancólica quanto faziam supor as mornas que cantava. “Posso não ser muito alegre, mas triste também não sou. A alegria e a tristeza são vizinhas”, filosofou com sabedoria a diva descalça.


(texto publicado na "Folha de S. Paulo", em 20/12/2011)





Stacey Kent: cantora volta a demonstrar sua paixão pela música brasileira

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Ela não se cansa de declarar seu amor pela música brasileira. Tanto é que, desde 2008, a cantora norte-americana Stacey Kent já esteve quatro vezes no país. Na última visita, em outubro, ao participar do concerto comemorativo dos 80 anos do monumento ao Cristo Redentor, no Rio, ela falou à "Folha de S. Paulo" sobre o CD “Dreamer in Concert”, que a EMI acaba de lançar no Brasil.

“Sempre que meus fãs iam conversar comigo, após os concertos, me perguntavam quando eu faria um disco gravado ao vivo. Eles queriam levar o show para casa”, diz ela, justificando o conceito desse álbum, depois de gravar mais de uma dezena de discos em estúdios, sempre acompanhada pelo saxofonista Jim Tomlinson, seu marido.

No novo CD, registrado em maio último, no La Cigale, em Paris, Stacey interpreta clássicos da canção norte-americana e do jazz, como “If I Were a Bell” (Frank Loesser), “They Can’t Take That Away From Me” (Ira e George Gershwin) e "It Might As Well Be Spring" (Rogers e Hammerstein), além de recentes composições de Tomlinson com o escritor nipo-britânico Kazuo Ishiguro.

Com sua voz doce e “cool”, ela também passeia com elegância pela moderna canção francesa, em “Ces Petit Riens” (Serge Gainsbourg) e “Jardin D’Hiver” (Biolay e Zeidel). E, naturalmente, reverencia a música brasileira, com três canções de Tom Jobim, “Corcovado”, “Águas de Março” e “Dreamer” (Versão de "Vivo Sonhando"), além do "Samba Saravah" (Pierre Barouh, Vinicius de Moraes e Baden Powell).

“Sei que ainda tenho muita coisa a aprender sobre a cultura do Brasil e isso é um projeto para a vida inteira. Química pessoal é algo raro. Eu me sinto bem demais aqui. É uma sensação muito forte”, diz Stacey, já em português fluente. A admiração pela música brasileira a levou frequentar cursos intensivos de língua portuguesa, nos últimos três verões.

O fato de ser “muito emotiva”, segunda ela, ajuda a explicar sua empatia com os brasileiros. “Vocês não têm medo de falar das coisas tristes ou dolorosas, não têm medo de chorar. Eu também gosto, tanto no estúdio, como no palco, de compartilhar minhas emoções, meu coração, com as pessoas”.

 
A cantora também se mostrou eufórica ao falar de seu encontro com o cantor e compositor carioca Marcos Valle, que conhecera na véspera do concerto em homenagem ao monumento do Cristo Redentor. Juntos, cantaram o clássico “Samba de Verão”, de autoria do brasileiro.

“A química entre nós foi tão incrível que passamos quase a noite inteira falando. Era impossível sair. Quando é que teremos outra oportunidade de cantar e conversar com um músico tão fantástico como Marcos Valle?”, disse Stacey, descrevendo o encontro, que também incluiu Tomlinson, seu parceiro.

(reportagem publicada parcialmente, na "Folha de S. Paulo", em 15/12/2011)



New Orleans Jazz & Heritage Festival: evento musical antecipa sua atrações para 2012

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Demonstrando seu interesse em atrair um maior número de turistas, o New Orleans Jazz & Heritage Festival antecipou em um mês o anúncio de sua próxima edição, que vai acontecer de 27/4 a 6/5 de 2012. Grandes atrações de vários gêneros musicais, como Herbie Hancock (na foto ao lado), Al Green (na imagem abaixo), Sharon Jones & The Dap Kings, Esperanza Spalding, Eagles, Foo Fighters, Dianne Reeves, Jannele Monáe, James Cotton, David Sanborn, Regina Carter, Poncho Sanchez, Bonnie Raitt, Jill Scott e Tom Petty, entre muitas outras, prometem um festival com artistas de peso para todos os gostos.

Um dos maiores eventos musicais do mundo, o Jazz Fest de New Orleans mantém há quatro décadas sua eclética receita sonora. Graças aos 12 palcos que exibem simultaneamente suas atrações, ao ar livre, na área do Fairgrounds (o hipódromo local), novamente vai oferecer mais de 400 shows concentrados nas sete tardes de sua programação principal. 


 Atrações internacionais do jazz, do blues, do soul, do R&B e outros segmentos da black music, até do pop e do rock, se revezam no Jazz Fest, todos os anos. Mas seu grande diferencial está mesmo nas centenas de excelentes músicos e bandas locais, como Trombone Shorty, Neville Brothers, Allen Toussaint, Terence Blanchard, Doctor John, Astral Project, John Boutté, Galactic, Irma Thomas, Jon Cleary, Walter “Wolfman” Washington, Donald Harrison, Irvin Mayfield, Big Sam’s Funky Nation, Ellis Marsalis, Luther Kent, Leah Chase ou a Preservation Hall Jazz Band, que vai festejar seu 50º aniversário em 2012. Quem já teve a chance de ouvi-los ao vivo, sabe que esses músicos são capazes de se destacar em qualquer evento do gênero no mundo.

Repito aqui uma dica que costumo dar aos amigos interessados em conhecer New Orleans. Essa é a melhor época do ano para se visitá-la, tanto pelo clima quente e pouco chuvoso, como pela oportunidade de se ouvir, em poucos dias, os melhores artistas e bandas dessa cidade tão musical.

Mais informações sobre o próximo New Orleans Jazz Fest, no site oficial:
http://www.nojazzfest.com/

Vinicius Cantuária: compositor radicado nos EUA volta com saborosas parcerias

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O compositor e cantor Vinicius Cantuária vai irritar muita gente, por dizer, em um vídeo de divulgação de seu álbum “Samba Carioca” (lançamento no mercado brasileiro da gravadora Biscoito Fino), que “todo samba bom tem que ter americano na parada”. Seja ou não pertinente sua tese, o fato é que as parcerias internacionais desse músico amazonense crescido no Rio, que se radicou em Nova York durante a década de 1990, têm rendido projetos bem originais. Só pela faixa “Berlin”, uma belíssima bossa nova composta por Cantuária, cujo arranjo minimalista conta com o piano do jazzista norte-americano Brad Mehldau, este CD já mereceria atenção. 

Além de contar com a inquietude de Arto Lindsay na produção, Cantuária reúne outros parceiros de peso, como o inventivo guitarrista Bill Frisell (na nostálgica bossa “Só Ficou Saudade”) ou os pianistas João Donato (na sintética “Fugiu”) e Marcos Valle (também parceiro do compositor, na suave “Orla”). Um disco cheio de pequenas surpresas, especialmente para quem não pensa que o samba só existe com cavaquinho, pandeiro e tamborim.

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 25/11/2011)



Hamleto Stamato Trio: o carisma do samba-jazz em novo CD do pianista paulista

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Quem poderia imaginar que, meio século após sua eclosão como uma variante instrumental da bossa nova, o samba-jazz voltaria a ser cultivado por novas gerações de músicos e apreciadores? No quarto volume da série “Speed Samba Jazz” (lançamento do selo Delira), o trio do pianista paulista Hamleto Stamato, com o baixista Ney Conceição e o baterista Erivelton Silva, segue a linha dos álbuns anteriores, combinando releituras de clássicos da bossa nova e da canção norte-americana.

Ao ouvir a agitada versão de “Softly as in a Morning Sunrise” (de Romberg e Hammerstein), quem não conhece essa canção, já recriada no passado por diversos jazzistas, pode até pensar que ela tenha nascido com batida de samba. Já as releituras de “Seascape” (Johnny Mandel) e “The Look of Love” (Burt Bacharach) são tingidas por Stamato com a típica melancolia do samba-canção. Entre as composições próprias do pianista, “Na Lapa” revive o sabor característico dos jazzificados sambas da década de 1960.


(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 25/11/2011)
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João Parahyba: percussionista e compositor recria a atmosfera do samba-jazz dos anos 1960

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É natural que as gerações mais jovens associem a imagem de João Parahyba ao lendário Trio Mocotó, cujo contagiante samba-rock foi redescoberto e festejado durante a última década. Mas quem acompanha a carreira desse eclético percussionista, compositor e arranjador paulista sabe que ele também já colocou seu talento a serviço da MPB, do jazz, da música instrumental ou até da música eletrônica.

Em "O Samba no Balanço do Jazz" (lançamento SescSP), João Parahyba interpreta com personalidade a atmosfera sonora do samba-jazz – o híbrido subgênero que revigorou a música instrumental brasileira, na década de 1960. “Minha intenção foi fazer uma reverência ao começo de minha vida musical. Fui um privilegiado, porque entrei na música convivendo com Milton Banana, com o Zimbo Trio e o Tamba Trio. Eu era amigo do Luiz Eça, do Bebeto, do César Camargo Mariano e do João Donato. Fui aceito por eles como o caçula dessa seleção”, relembra.

Com a sabedoria de quem conhece a fundo a linguagem do samba-jazz, JP relê aqui alguns clássicos dessa vertente, como “Sambou, Sambou” (João Donato), “Nanã” (Moacir Santos) e “Batida Diferente/Estamos Aí” (Durval Ferreira e Maurício Einhorn). Exibe também saborosas composições próprias que remetem a esse gênero, como “Kurukere” e “Number One”, conduzindo o elegante quinteto que inclui Giba Pinto (baixo), Rudy Arnaut (guitarra), Marcos Romera (piano) e Teco Cardoso (sax barítono e flauta), além das participações de Thiago Costa (piano), Rodrigo Lessa (bandolim), Marcelo Mariano (baixo), Beto Bertrami (piano) e Ubaldo Versolato (flauta e sax barítono).

Três veteranos do gênero também participam do projeto. Mentor musical de JP, Amilton Godoy, o pianista do original Zimbo Trio, contribui com um arranjo de sua composição “Batráquio”, escrito especialmente para o quinteto do percussionista. O compositor e arranjador Laércio “Tio” de Freitas oferece a seu ex-aluno a oportunidade de lançar a inédita bossa “Búzios”. Clayber de Souza, ex-integrante dos cultuados Sambalanço Trio e Jongo Trio, mostra seu virtuosismo à gaita, no jazzístico arranjo que escreveu para o “Trenzinho do Caipira” (Villa-Lobos).

JP também introduz neste álbum seu filho Janja Gomes, autor da sensível valsa-jazz “Valseta”, cuja gravação destaca o emotivo solo de clarinete de Nailor Proveta e um inusitado sample com o argentino Julio Cortázar, declamando um de seus escritos poéticos. Uma bela surpresa que nos faz pensar: embora não seja regra, o talento artístico certamente pode ser transmitido por via genética.

(texto escrito a convite do selo SescSP)

ECM: preciosidades do selo europeu de jazz e música improvisada retornam ao Brasil

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                    Jan Garbarek, Egberto Gismonti e Charlie Haden, na capa do álbum "Mágico" (1979)

Uma ótima notícia para os apreciadores do jazz e da música improvisada contemporânea: o catálogo do conceituado selo ECM – com mais de 1.200 discos de músicos de alto quilate, como Keith Jarrett, Pat Metheny, Charlie Haden, Chick Corea, Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos – vai voltar a ser distribuído oficialmente no mercado brasileiro. A iniciativa é da gravadora paulista Borandá, que acaba de estabelecer uma parceria com esse selo europeu e também planeja trazer alguns de seus artistas para apresentações no país.

Fundado em 1969, pelo contrabaixista e produtor alemão Manfred Eicher, o ECM (sigla de Edição de Música Contemporânea) só precisou de alguns anos para ver reconhecido o alto padrão musical de seus projetos. Depois de gravar elogiados álbuns de jazzistas como Mal Waldron, Paul Bley e Jan Garbarek, lançou “Köln Concert” (1975), álbum de Keith Jarrett que ultrapassou a marca de três milhões de cópias vendidas – número inusitado para uma gravação ao vivo de piano-solo.

Não à toa, o elogio de um crítico da revista canadense “Coda” (“o mais belo som próximo do silêncio”) tornou-se uma espécie de slogan informal do selo. Assim como o nova-iorquino Blue Note, cujo catálogo é identificado pelo som enérgico do hard bop dos anos 1950, ou o Impulse!, selo associado à ebulição do free jazz da década de 1960, o ECM desenvolveu uma relativa identidade sonora – em parte graças à música esparsa e melancólica de jazzistas europeus, como John Surman, Terje Rypdal ou Eberhard Weber.

Responsável pela parceria com o ECM, Fernando Grecco, diretor da Borandá, conta que a iniciativa aconteceu casualmente. Fã de gravações do selo europeu, visitou seu estande em uma feira de jazz, em abril último, na Alemanha, onde foi divulgar os discos de sua gravadora. Semanas depois recebeu um e-mail do diretor de vendas do ECM, interessado em um parceiro comercial no Brasil.

“Dizem que as melhores coisas no mundo dos negócios acontecem por acaso”, festeja Grecco, contando que nem imaginava a possibilidade de um dia poder disponibilizar discos do catálogo ECM no Brasil, já que a Borandá tem como prioridade produzir, promover e exportar música brasileira. Mas, o fato de Manfred Eicher ter contribuído para desenvolver a carreira internacional do brasileiro Egberto Gismonti, que já gravou dezenas de discos pelo ECM, torna a parceria mais interessante ainda.

“Além de trabalhar de forma integral o catálogo ECM, no trabalho que iremos desenvolver haverá um grande foco na obra do Gismonti”, explica Grecco, que pretende disponibilizar, já no próximo ano, todos os álbuns do instrumentista e compositor a preços mais atrativos do que os cobrados hoje nas importadoras, que chegam a R$ 70. “Graças ao licenciamento, esse valor pode se aproximar de R$ 40 para o consumidor final”, calcula.

Inaugurando a parceria, já neste mês, dois discos de Gismonti voltam ao mercado brasileiro. O cultuado “Danças das Cabeças”, gravado em duo com o percussionista Naná Vasconcelos, em 1976, inclui alguns clássicos de sua obra, como “Celebração de Núpcias” e “Tango”, além da releitura de “Fé Cega, Faca Amolada” (Milton Nascimento). Lançado em 1991, o CD “Infância” foi gravado com uma formação que combina instrumentos de corda, o piano de Gismonti e os sintetizadores de Nando Carneiro.

Outro destaque desse primeiro suplemento é um álbum inédito de Keith Jarrett: o CD duplo “Rio”, gravado ao vivo, em abril deste ano, no Teatro Municipal carioca. O lançamento praticamente imediato se deve a um fato inusitado: conhecido por seu temperamento blasé, o pianista norte-americano ainda esperava o voo de volta, no aeroporto do Galeão, quando ligou para Eicher, pedindo que ele lançasse logo o registro desse concerto, por achar que havia feito ali uma das melhores apresentações de sua carreira.

O pacote se completa com o relançamento de outros 35 álbuns do catálogo ECM, nos formatos CD, DVD e vinil, assinados por músicos como Pat Metheny, Jan Garbarek, Charlie Haden, Charles Loyd, Chick Corea, Zakir Hissain e Steve Reich.

(reportagem publicada originalmente no caderno “Eu & Fim de Semana” do jornal “Valor Econômico”, em 2/12/2011)


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Geraldo Maia: cantor resgata pérolas musicais do pernambucano Manezinho Araújo

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Na história da música brasileira, o compositor e cantor pernambucano Manezinho Araújo (1910-1993), bastante popular entre as décadas de 1930 e 1950, costuma ser lembrado como o “rei da embolada”. Em merecida homenagem a seu conterrâneo, o cantor Geraldo Maia demonstra, em “Ladrão de Purezas”, que o universo musical de Manezinho é mais amplo. Bem acompanhado por Vinicius Sarmento (violão) e Lucas dos Prazeres (percussão), Maia abre o álbum, interpretando com leveza o samba “Vatapá”, que já exibe na letra o característico humor de Manezinho – presente também no choro “Seu Dureza da Rocha Pedreira” e no samba “Nana Roxa”, que ganhou um arranjo bossa nova.

Menos conhecido, o lirismo do "rei da embolada" também comparece na seleção de Maia, tanto na singela valsa “Novo Amanhecer” como na nostálgica toada “Adeus, Pernambuco”. Um tributo musical que atualiza e rejuvenesce a obra desse mestre da canção sem jamais desfigurá-la. 

(resenha publicada no "Guia Folha - Livros, Discos, Filmes", em 28/10/2011)

 

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