Gal Costa: caixa "Gal Total" reúne 15 primeiros discos da cantora e 28 gravações raras

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Já está nas lojas “Gal Total”, caixa que reúne os 15 primeiros álbuns da carreira de Gal Costa. Do bossa-novista “Domingo” (1967), que ela gravou em parceria com Caetano Veloso, ao popular “Baby Gal” (1983), disco que marcou o final de seu contrato com a gravadora Philips (hoje Universal), essa edição resgata, por meio da voz privilegiada dessa intérprete, um dos períodos mais criativos da música popular brasileira, com destaque para a fase tropicalista.

Além dos 15 álbuns, essa caixa também inclui um CD duplo com 28 gravações raras, extraídas de compactos, de discos de festivais ou de projetos especiais. Muitas dessas faixas estavam inéditas até hoje em CD, como “Dadá Maria” (que Gal gravou em duo com o compositor Renato Teixeira) e “Bom Dia” (de Gilberto Gil e Nana Caymmi), ambas produzidas para o LP “3º Festival da Música Popular Brasileira”, lançado em 1967.

A seguir, uma entrevista com a cantora, que fala de sua paixão pela bossa de João Gilberto e relembra o episódio da canção “Divino Maravilhoso” (veja o video abaixo), marco de uma nova atitude em sua carreira, estimulada pelas inovações da Tropicália. Finalmente, Gal anuncia para 2011 a gravação de seu novo álbum com repertório inédito assinado por Caetano Veloso.

Como foi a sensação de ver as duas primeiras décadas de sua obra musical sintetizadas em “Gal Total”?
Gal Costa - Fiquei muito feliz, porque muitos dos meus discos estavam fora de catálogo. É importante que uma obra tão rica como essa seja registrada, inclusive para os jovens de hoje que se interessam tanto por minha história como pela história do Tropicalismo.

No encarte da caixa, você comenta que resistiu muito à idéia de cantar iê-iê-iê (o rock dos anos 60), apesar da insistência de seu produtor, Guilherme Araújo. Por quê?
Gal - Como eu era totalmente apaixonada por João Gilberto, tinha uma tendência a não gostar de quase mais nada. Eu até gostava de Roberto Carlos, mas não me via cantando aquilo. Era uma questão de postura. Para mim, João Gilberto era um deus e a bossa nova era a maior música que existia no mundo.

O que a fez mudar de atitude?
Gal - Convivendo com Caetano Veloso e Gilberto Gil, fui absorvendo toda aquela discussão do Tropicalismo. Ouvia Jimi Hendrix e Janis Joplin com Gil e aquilo começou a entrar em mim. Quando fui cantar “Divino Maravilhoso” (no Festival de MPB da TV Record, em 1968), Gil perguntou como eu queria fazer. Então disse a ele que queria cantar de uma maneira bem diferente, com um arranjo extrovertido, para fora. Eu queria o oposto do que eu era. Até Caetano, que não participou do ensaio, tomou um susto quando me viu cantar (risos).

Seus fãs mais saudosistas ainda cobram que você mantenha aquela atitude transgressiva dos tempos da Tropicália?
Gal - Essa cobrança já foi feita por muito tempo, mas eu acho que hoje ninguém mais cairia no ridículo de cobrar que eu mantenha aquela postura revolucionária, que eu seja hoje o que eu era na época do Tropicalismo. Se essa cobrança ainda acontecer um dia, vou dar muita gargalhada.

Você sente saudade dos anos 60 ou 70?
Gal – Não sou uma pessoa saudosista. Posso ter saudade da época em que minha mãe era viva, mas não sinto que aquele tempo é melhor do que este. Estou num momento maravilhoso, continuo cantando muito pelo mundo todo. Minha voz está ótima, perfeita. Não perdi nada, só ganhei.

No encarte, você relembra que gravava os vocais de seus discos muitas vezes, no início da carreira. Esse perfeccionismo também tinha a ver com a admiração por João Gilberto?
Gal – Totalmente, tinha tudo a ver com João Gilberto. Não me lembro mais qual, mas sei que cheguei a gravar mais de 25 vezes uma mesma canção para o disco “Domingo”. No final, quando ouvimos, a primeira era a melhor. Com o tempo isso foi se dissipando, esse perfeccionismo exagerado acabou. Hoje, eu gravo a canção quatro ou cinco vezes e escolho a que mais gosto. Às vezes sai direto, logo na primeira vez.

Qual será seu próximo projeto? Vai mesmo gravar em 2011 o disco que Caetano Veloso prometeu produzir?
Gal - Sim, e o grande barato desse projeto é que Caetano está compondo todas as canções. Seis já estão prontas, até já tirei o tom. As músicas são lindas. Considero esse projeto uma homenagem, um presente muito especial de Caetano para mim. Ele é um irmão, temos uma grande identidade musical. Foi João Gilberto que nos uniu.

(Entrevista publicada parcialmente no “Guia da Folha – Livros, Discos e Filmes”, em 29/10/2010)


Quincy Jones: comemorando 75 anos com convidados ilustres no Montreux Jazz Festival

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Até o ano passado, os títulos de shows de jazz e blues disponíveis no formato blu-ray ainda podiam ser contados nos dedos de uma única mão. Esse catálogo vem aumentando com ótimos títulos graças à série “Live at Montreux” (distribuída no Brasil pela ST2), que exibe apresentações extraídas do arquivo do badalado festival de jazz suíço.

“The 75th Birthday Celebration” registra a noite comemorativa dos 75 anos do maestro e produtor Quincy Jones, realizada em 2008. Durante quase três horas, a trajetória desse influente músico norte-americano, no jazz, no pop e nas trilhas de cinema, é relembrada em show que conta com uma big band e convidados especiais, como Herbie Hancock, Al Jarreau, Toots Thielemans, James Moody, Lee Ritenour, Chaka Khan, Patti Austin, Curtis Stigers e Angélique Kidjo. A qualidade das imagens e do áudio é sensacional.

Confira abaixo um trecho desse show: "What's Going On", o hit de Marvin Gaye, com o trompetista James Morrison, a cantora Ledisi e o cantor Rahsaan Patterson, entre outros músicos.


(texto publicado parcialmente na revista "Homem Vogue", nº 30)


Soul Train: compilação do pioneiro programa de TV de música negra sai em caixa de DVDs

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Na década de 1970, os jovens e adolescentes norte-americanos que curtiam soul music, rhythm & blues ou funk não o perdiam por nada. Transmitido pela TV, nas manhãs de sábado, “Soul Train” foi o primeiro programa de grande alcance exclusivamente dedicado à música negra. Exibia apresentações e entrevistas de astros do gênero, como James Brown, Stevie Wonder , Al Green
(no video abaixo), Curtis Mayfield, Isaac Hayes, Chaka Khan, Jackson Five e Temptations.

Outra atração que os fãs adoravam era a Soul Train Gang, divertida trupe de bailarinos que a cada semana exibia novas danças, criando modismos, com seus cabelões afros e calças boca-de-sino (veja o clipe abaixo). Vídeos com trechos do programa, que ficou no ar durante três décadas, já circulam há tempos pela internet, mas agora é possível apreciar um número bem maior de preciosidades de seu arquivo, com o lançamento da caixa “The Best of Soul Train” (à venda no site www.timelife.com).

São oito DVDs, com mais de 13 horas de duração, que trazem o que o programa exibiu de melhor durante os anos 1970. Só o elenco reunido no primeiro volume – Aretha Franklin, Marvin Gaye, Gladys Knight, Earth, Wind & Fire, Isley Brothers e Barry White – já é capaz de deixar qualquer fã de música negra com muita água na boca.

(texto publicado na revista "Homem Vogue", nº 30 

Fernando Salem: um mergulho no universo do samba com humor afiado

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A trajetória do músico paulista Fernando Salem é tão incomum quanto sua obra. Nos anos 80 e 90, ele exercitou diversos gêneros musicais com as bandas Xoro Roxo, Clínica e Vexame – hoje compõe trilhas sonoras e escreve roteiros para cinema, TV e publicidade. Seu primeiro álbum solo, “Disco” (2000), chamou atenção pelo humor afiado e letras repletas de achados.

Só dez anos depois Salem lança outro álbum e não deixa por menos: em “Rugas na Pele do Samba” (selo Vidal), toca todos os instrumentos e assina a produção, os arranjos e 11 das 13 faixas. Nesse projeto, ele mergulha no universo do samba com o mesmo humor ácido, contando com participações de Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e Paulo Miklos.


Talvez sua irreverência, assim como os efeitos sonoros e citações sampleadas presentes em faixas como a roqueira “Sambadiferente” ou a rapeada “Mudei de Musa”, não agradem os fãs mais conservadores do samba. Os que deixarem os preconceitos musicais de lado podem se divertir ou mesmo se surpreender com as inteligentes sacadas de Salem.

(texto publicado no "Guia da Folha de Livros, Discos e Filmes", em 24/09/2010)  

Carlos Malta Quarteto: entre o jazz e a diversidade da música popular brasileira

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Depois de integrar por 12 anos o grupo de Hermeto Pascoal, seu mentor musical, o multi-instrumentista de sopros e compositor Carlos Malta vem desenvolvendo desde 1993 uma bem sucedida carreira de solista. Em “Tudo Azul” (lançamento independente), seu décimo álbum, ele adota o formato do quarteto, já clássico no universo do jazz, sem abrir mão de sonoridades e ritmos mais típicos da música popular brasileira, como a bossa nova, o baião e o partido alto.

Com o apoio seguro de Daniel Grajew (piano), Guy Sasso (baixo acústico) e Richard Montano (bateria), Malta improvisa sobre composições próprias e de seus parceiros, alargando as sonoridades do grupo ao se desdobrar nos saxofones soprano e barítono, no clarone e em várias flautas. O álbum conta também com participações eventuais das vocalistas Misty e Lorena Lobato (nas jazzísticas “Soul Sin/Sou Sim” e “Pat”) e de outros instrumentistas. Música improvisada de alta qualidade, que pode ser conferida no clipe abaixo. 

(texto publicado originalmente no "Guia da Folha de Livros, Discos e Filmes", em 24/9/2010)


Yamandu Costa e Dominguinhos: outras belezas musicais no novo encontro da dupla

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Não se engane pelo título mal escolhido. “Lado B” (lançamento Biscoito Fino), segundo álbum do violonista gaúcho Yamandu Costa com o sanfoneiro pernambucano Dominguinhos, não é composto por gravações secundárias, nem por sobras de estúdio do delicioso “Yamandu + Dominguinhos” (2007), álbum que inaugurou essa parceria. A intimidade resultante da convivência nos palcos reforçou ainda mais, nestas gravações de 2009, a espontaneidade que já caracterizava o primeiro encontro da dupla.

A tônica do repertório deste álbum está novamente em clássicos de várias épocas e gêneros da música brasileira, como o nostálgico choro “Naquele Tempo” (Pixinguinha), o vibrante baião “Pau de Arara” (Luiz Gonzaga) ou brejeiro samba “Da Cor do Pecado” (Bororó). Dominguinhos contribui com belezas de sua autoria, como a valsa “Noites Sergipanas” ou os choros “Fuga Pro Nordeste” e “Chorando em Passo Fundo”, este em homenagem à cidade natal de Yamandu, que compôs o divertido “Choro do Gago”. Tomara que essa dupla tenha vida longa.


(resenha publicada originalmente no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 24/9/2010)


"Confesso que Ouvi": livro de Érico Cordeiro traça perfis de dezenas de jazzistas

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O livro “Confesso que Ouvi” (Editora Azulejo), do maranhense Érico Renato Serra Cordeiro, enriquece a ainda reduzida bibliografia sobre o jazz em língua portuguesa. Com um texto conciso e elegante, o autor traça perfis de quase 70 jazzistas, de mestres do gênero, como Charles Mingus, Dizzy Gillespie e Lester Young, a instrumentistas menos conhecidos do grande público, como o saxofonista Lucky Thompson, o trompetista Joe Gordon ou a pianista alemã Jutta Hipp.

Grande parte dos jazzistas retratados na obra pertence às brilhantes gerações que, nas décadas de 1940 e 1950, cultivaram o bebop, o cool jazz e o hard bop – escolha que revela as preferências musicais do autor. Nesses textos, publicados previamente em seu blog Jazz + Bossa + Baratos Outros, Cordeiro combina, com o devido equilíbrio, informações biográficas e resenhas de gravações dos músicos focalizados. As frequentes referências cinematográficas e literárias indicam que a erudição do autor não se limita ao universo do jazz.


Para obter o livro de Érico Cordeiro acesse seu blog: www.ericocordeiro.blogspot.com




Projeto Coisa Fina: uma promissora homenagem ao maestro Moacir Santos

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Não é à toa que os nomes dos músicos Mario Adnet e Zé Nogueira encabeçam a lista de agradecimentos de “Homenagem ao Maestro Moacir Santos” (lançamento Movimento Elefantes/Tratore) o promissor álbum de estréia da banda paulista Projeto Coisa Fina. Em “Ouro Negro” (2001), um dos discos mais importantes da música brasileira na última década, Adnet e Nogueira revelaram às novas gerações a preciosa e ainda pouco conhecida obra de Moacir Santos (1926-2006).

Foi “Ouro Negro” que estimulou os músicos do Projeto Coisa Fina a garimpar e gravar outras jóias do maestro e originalíssimo compositor pernambucano, como a percussiva “Maracatucutê” (confira o video abaixo), a sofisticada “Stanats” (dedicada por ele ao saxofonista norte-americano Stan Getz) ou a jazzística “Coisa nº 2”.

A homenagem da banda paulista ganha um sentido especial com a inclusão de composições de seus integrantes, claramente inspiradas pelas sonoridades e pela original concepção rítmica de Moacir Santos. Onde quer que esteja agora, o grande maestro tem motivos de sobra para ficar orgulhoso desses frutos de sua música.


(resenha publicada originalmente no "Guia da Folha de Livros, Discos e Filmes", em 24/9/2010)




 

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