3º Bridgestone Music: um balanço final

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                                                                                                                     Foto de Mila Maluhy
Pena que o show de Don Byron e seu New Gospel Quintet, última atração do Bridgestone Music, no sábado, tenha sido prejudicado pelo “forfait” do organista Frank Wilkins, que perdeu o vôo para São Paulo. Byron ainda teve uma considerável dose de sorte: conseguiu que o versátil Xavier Davis, pianista do grupo de Christian McBride, substituísse o colega. Mas o estrago já estava feito: o órgão fez falta no repertório centrado em releituras de clássicos do gospel.

Assim restou a Byron fazer um show apenas mediano. Abriu a apresentação com o clarinete, tocando uma relaxada versão de “Giant Steps” (a “prova de resistência” de John Coltrane), movida por ritmos latinos. Mais inusitada ainda, já no meio do show, foi a versão de “Lovesick Blues”, pérola country de Hank Williams, que Byron cantou com os característicos melismas do gênero, num ambíguo tom de caricatura.

Já as releituras de “Feed Me, Jesus” e “Precious Lord” (composições de Thomas E. Dorsey, considerado o pai do gospel negro) contaram com os vocais de DK Dyson. Embora seja uma cantora de recursos,  Dyson chega a soar arrogante, com seu visual imponente e poses artificiais,
diferentemente da simpática Barbara Walker, que conquistou a platéia na noite de estréia. 

Primeira atração do sábado, a cantora canadense Melissa Walker (na foto acima, com McBride) também exibiu muita competência, mas sem brilho especial. Talvez ainda se ressinta do longo período em que teve de se afastar dos palcos para tratar um problema em suas cordas vocais.

Com um repertório que destaca arranjos jazzísticos de sucessos da música pop, como “Mr. Bojangles” (de Jerry Jeff Walker) ou uma curiosa versão de “Flor de Liz” (do brasileiro Djavan), Melissa obteve seus melhores momentos ao homenagear duas ladies do jazz: Nina Simone, com a engajada “Four Women”; e Shirley Horn, com uma versão soul de “Forget Me”. Claro que o quarteto comandado pelo baixista Christian McBride (incluindo os solos de gaita de Gregoire Maret) garantiu um acabamento de primeira linha ao show da cantora.

Depois de três noites excelentes, com destaque para os shows do trompetista Christian Scott, do pianista Ahmad Jamal, do sexteto Escalandrum e do fora-de-série Overtone Quartet, o Bridgestone Music nem precisaria da última noite para se consolidar definitivamente como um festival de alto nível artístico e perfil original, que focaliza o jazz sob o ponto de vista de suas ligações com outras vertentes da música negra. Quem acompanhou esta terceira edição, certamente já está esperando a próxima.


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