3º Bridgestone Music: trompetista Christian Scott rouba a primeira noite do festival

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                                                                                                     Foto: Carlos Calado                                           
                                                            
Começou bem a terceira edição do Bridgestone Music, ontem, em São Paulo. O garotão Christian Scott, revelação do trompete, roubou a noite de estréia. Conquistou a platéia do Citibank Hall sem fazer concessões: quase só tocou composições próprias, nem um standard ao menos para agradar a ala mais conservadora do público. Decisão corajosa para um músico ainda quase desconhecido no Brasil, como ele, cujos quatro álbuns permanecem inéditos por aqui.

Falante, Scott fez questão de contar como nasceu sua tensa composição “K.K.P.D.”, um dos destaques do show, que faz parte de seu recente CD “Yesterday You Said Tomorrow”. Vítima de uma blitz noturna, em New Orleans, foi arrancado do automóvel por policiais armados, que o xingaram de “negrinho” e o ameaçaram de mandá-lo para o necrotério. O título dessa música reflete a indignação do autor: nele, Scott fundiu as siglas de Departamento de Polícia com a da organização racista Ku Klux Klan.

Duas outras composições, extraídas do mesmo álbum, também se destacaram. Na releitura de “The Eraser” (de Thom Yorke, da banda pop Radiohead), a sobreposição do trompete, do piano repetitivo de Milton Fletcher e de um ruído eletrônico resultaram em uma atmosfera melancólica e hipnótica. A balada “Isadora” prima pela beleza: um tema delicado, em andamento bem lento, acariciado pelo trompete (com surdina) do autor.

Já a apresentação de Uri Caine e seu quarteto Bedrock, segunda atração da noite, dividiu a platéia, inicialmente. O inquieto pianista e compositor radicado em Nova York reúne uma combinação de gêneros musicais bem heterodoxa nesse projeto. Quem mais pensaria em misturar jazz de vanguarda, soul music, R&B, funk e gospel num mesmo set?

O ponto de equilíbrio nessa fusão inusitada é a simpática cantora Barbara Walker (ex-Pieces of a Dream), que encaixa com muito talento seus vocais cheios de swing, nos intrincados improvisos do pianista, incluindo melismas típicos do gospel e da soul music. Não fosse o carisma e o know-how de Barbara, as experimentações de Caine e seu Bedrock correriam o risco de soar frias e cerebrais em excesso.

Uma estréia promissora para quem esteve no Citibank Hall e pretende retornar outras noites ao Bridgestone Music. 

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