Sarah Vaughan: raridade da diva do jazz com astros da MPB retorna às lojas

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Fora de catálogo até mesmo nos EUA, este antigo projeto da cantora norte-americana com músicos brasileiros retorna ao mercado como item da série Caçadores de Música, que reúne algumas raridades dos arquivos da Sony BMG. Acompanhada por ótimos instrumentistas, como Hélio Delmiro (guitarra), José Roberto Bertrami (piano) e Wilson das Neves (bateria), Sarah exibe seu brilho vocal, em releituras jazzísticas de clássicos da bossa nova e da MPB.

Só as participações de Dorival Caymmi (em “Das Rosas”), Tom Jobim (“Se Todos Fossem Iguais a Você”) e Milton Nascimento (“Travessia”) já fariam de "O Som Brasileiro de Sarah Vaughan", álbum gravado originalmente em 1977, um pequeno evento histórico. E para aqueles que já não agüentam mais ouvir cantoras estrangeiras maltratando a língua portuguesa (gafe freqüente que muitas delas têm cometido nos últimos anos), um aviso: a elegante e respeitosa Sarah teve o cuidado de só gravar versões para o inglês nesse disco. Nossos ouvidos agradecem.
(resenha publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 26/3/2010) 

E já que acabo de comentar uma raridade de Sarah Vaughan, fica aqui também a dica para curtir o precioso encontro dessa cantora com o carismático Wilson Simonal, em 1970. Só mesmo um artista completo como ele seria capaz de fazer essa diva do jazz encolher e se derreter toda no palco. Confira:

Marva Wright: morreu uma das estrelas do blues e do gospel de Nova Orleans

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Os paulistanos que frequentam o Bourbon Street Music Club tinham um carinho especial por ela. Depois de sua primeira temporada em Sâo Paulo, em 1994, a cantora Marva Wright, estrela do blues de New Orleans, retornou várias vezes à cidade para atender aos pedidos de um fã-clube que não parava de crescer. Sua úlltima visita foi em 2007, como atração do 5º Bourbon Street Fest. Quem a viu cantando sentada no palco, percebeu que sua saúde já não andava bem.

A "big mama" do blues de New Orleans morreu ontem, aos 62 anos, em decorrência de dois derrames cerebrais que sofreu no ano passado. Os fãs que a viram e ouviram no auge da forma, dificilmente imaginariam um final como esse. No palco, com sua voz trovejante, Marva era uma verdadeira força da natureza.

Fiz a foto acima durante um concerto em tributo à grande lady do gospel, Mahalia Jackson (1911-1972), na edição de 2008 do New Orleans Jazz & Heritage Festival. Na próxima edição desse evento, daqui a um mês, Marva certamente será homenageada. Os clubes da cidade e o Jazz Fest vão ficar mais tristes sem ela.

"Treme": tragédia e reconstrução de New Orleans é o tema de nova série de TV da HBO

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Uma das maiores tragédias deste século, mas também um dramático exemplo de superação humana, o episódio do furacão Katrina, em 2005, que destruiu grande parte da cidade de New Orleans (Louisiana, sul dos EUA), é o tema da nova série do canal HBO. Assinada por David Simon (criador das séries "The Wire" e "Generation Kill"), "Treme" estréia dia 11 de abril na TV norte-americana. 




Contando com participações de vários astros da cena musical de New Orleans, como o trompetista Kermit Ruffins, os pianistas Dr. John e Allen Toussaint, Trombone Shorty e as bandas Galactic, Rebirth Brass Band e Treme Brass Band, entre outros, o elenco destaca como protagonista o ator Wendell Pierce (da série "The Wire"), no papel do trombonista Antoine Batiste. Um dos temas musicais da série é interpretado pelo cantor John Boutté, que esteve em São Paulo em 2005, como atração do Bourbon Street Fest.

A expectativa quanto à repercussão dessa série é grande, especialmente no meio artístico de New Orleans. "Treme" pode ser um veículo importante para que grande parte dos próprios norte-americanos conheça mais sobre a cultura e os hábitos dessa cidade tão original e diferente do resto dos Estados Unidos - e justamente por isso ainda esnobada e mal compreendida por muitos norte-americanos.


B.B.King: fãs do rei do blues têm nova chance de vê-lo no palco

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Três anos atrás, ele se despediu oficialmente de seus fãs no Brasil e no mundo, em uma longa turnê marcada por lágrimas e mútuas declarações de amor. Felizmente, quem passou toda a vida na estrada como ele, fazendo centenas de show por ano, dificilmente aguentaria o tédio da aposentadoria. Aos 84 anos, B.B. King, o carismático rei do blues, está de volta  aos palcos. Sorte nossa!

A nova turnê brasileira de B. B. King começa no Rio de Janeiro, (16/3, no Vivo Rio), segue por São Paulo (18/3, no Bourbon Street; 19 e 20/3, no Via Funchal) e termina em Brasília (22/3, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Preços de ingressos e outras  informações estão disponíveis no site www.bbking.com.br

Lembrando a última visita do rei do blues ao país, recordo a seguir a entrevista que fiz com ele durante sua turnê de despedida, publicada na Folha de S. Paulo, em 2/12/2006.

Despedida de B.B. King emociona a platéia paulista
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
 

A platéia que lotou o Bourbon Street, anteontem à noite, já deve estar sentindo saudade. Na estréia de sua turnê de despedida dos palcos brasileiros, B.B. King comoveu os fãs e se emocionou. O showbiz mundial começa a perder um de seus astros mais carismáticos.

“Minhas pernas não estão boas, minhas costas também não, e a cabeça já não é a mesma”, avisou o guitarrista, explicando com humor porque já só pode tocar sentado. O que não o impediu de conquistar a platéia logo no primeiro blues, nem de dançar na cadeira. “Se alguém aqui estiver próximo da minha idade, não aconselho a requebrar assim”, brincou.

Não faltaram clássicos dançantes do rhythm’n’blues, como “Why I Sing the Blues” e “Rock Me, Baby”. Nem blues lentos, como “Key to the Highway”, cuja letra parecia escrita para a ocasião: “Me dê mais um beijo / antes que eu vá embora / quando eu for, desta vez / você sabe que não volto mais”, cantou King, sem esconder a emoção.

Claro que um veterano mestre na arte de entreter, como ele, jamais deixaria a melancolia prevalecer, mesmo na hora do adeus. Esperto, escolheu a festiva “When the Saints Go Marchin’ In” para a despedida. Minutos antes de entrar no palco, o rei do blues falou à
Folha, com exclusividade:

O sr. passou quase toda a vida na estrada, fazendo shows. Já pensou como vai aproveitar o tempo livre?

B.B. King – Vou pescar ou passear na Disneylândia (risos). Não acho que sentirei falta das viagens, porque pretendo trabalhar em novos discos. Não vou parar de tocar até que as minhas mãos deixem de funcionar. Tenho 81 anos, mas gostaria de viver mais uns 19.

Como vê a cena musical dos EUA hoje dominada pelo hip hop?

King - Acho positivo. Quando eu era garoto, tínhamos o boogie-woogie (risos). Acho que devemos prestar nas histórias que eles contam. Só não gosto de como tratam mal as mulheres. Elas são o maior presente que Deus deu ao planeta.

Vinte anos atrás, o sr. me disse que não se considerava o rei do blues, nem o melhor em nada. Como se vê hoje?

King – Acho que tudo que eu faço alguém pode fazer melhor. Não é falsa modéstia. Aos 81 anos, não tento me enganar. Conheço meu trabalho e sei que o faço bem, apenas isso.

Qual foi o melhor momento de sua carreira?

King - Dois anos atrás, o governador e os deputados do Mississippi, onde nasci, me homenagearam. Chorei muito. Quando eu era jovem tinha medo até de passar perto do campus da universidade, porque os negros não podiam ir a qualquer lugar. Tudo era segregado.

E o pior momento?

King - Tento esquecer as coisas ruins. Perder minha mãe foi muito triste, mas depois que me tornei músico passei a me lembrar só das coisas boas.

O sr. se arrepende de não ter feito algo?

King - Só lamento não ter vivido um casamento feliz, como muita gente. No mais me arrependo de poucas coisas. Levei muito tempo para me tornar conhecido no mundo, mas antes tarde do que nunca. Nem todos gostam do que faço, mas pelo menos muita gente me conhece. Isso me faz bem.

Como quer ser lembrado no futuro?

King - Honestamente, gostaria que pensassem em mim como um amigo, alguém de quem as pessoas gostavam. Só isso.




Johnny Alf; será que agora o pioneiro da bossa vai começar a ser cultuado?

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A música popular brasileira perdeu um de seus criadores mais originais e elegantes. Fica aqui minha homenagem a Johnny Alf, grande músico e compositor que tive o privilégio de ouvir ao vivo, além de ter conversado algumas vezes com ele. A última ocasião foi durante uma entrevista para a "Folha de S. Paulo", em janeiro de 2009, pouco antes de uma de suas últimas apresentações em São Paulo. A seguir, reproduzo na íntegra o texto que escrevi logo após a morte de Johnny, no último dia 4/1. 
 
Johnny Alf antecipou a sofisticação da bossa nova
CARLOS CALADO
Colaboração para a Folha de S. Paulo

É triste constatar que um artista tão inventivo e essencial para a modernização da música popular brasileira, como Johnny Alf, tenha recebido em vida uma parcela de reconhecimento muito aquém do que sua obra merece. Não que ele reclamasse. Da maneira mais nobre e elegante, cultivou sua arte por mais de seis décadas, tocando e cantando para platéias muitas vezes reduzidas, mas conscientes de que ouvi-lo era um grande privilégio.

Ninguém mais do que ele merece o título de precursor da bossa nova. Seu samba “Rapaz de Bem”, composto em 1953 e gravado dois anos depois, é uma prova indiscutível de originalidade. Muito do que veio a se chamar de bossa nova, no final daquela década, foi antecipado por Alf nessa gravação: o sofisticado encadeamento harmônico, os versos descontraídos, a maneira moderna de cantar sem impostar a voz.

Com sua concepção inovadora, ele contribuiu ativamente para fazer as cabeças dos futuros articuladores da bossa nova. Tom Jobim, Newton Mendonça e João Gilberto eram alguns dos amigos e admiradores que freqüentavam suas apresentações na boate Plaza, em Copacabana, durante os anos de 1953 e 1954. Outros, como Roberto Menescal, Carlinhos Lyra e Luís Carlos Vinhas, ainda menores de idade, tinham que se esconder se algum policial entrasse na casa noturna.

Nada mais justo que, anos depois, Johnny Alf fosse convidado por eles a participar dos primeiros shows oficiais dos bossa-novistas, organizados em universidades do Rio de Janeiro. Ao anunciá-lo, o apresentador Ronaldo Bôscoli reconhecia o vanguardismo do mestre, dizendo que ele era “bossa nova desde o dia em que nasceu”.

Humilde, Alf não construía mitos em suas entrevistas. Jamais escondeu que, além da básica formação erudita, o jazz teve um papel fundamental em sua concepção musical. Gostava de ouvir jazzistas modernos, como o pianista Lenny Tristano ou o saxofonista Lee Konitz, mas seus modelos no gênero foram mesmo o pianista Nat King Cole e a cantora Sarah Vaughan.

Sua paixão pelo cinema resultou em outras influências: por meio dos musicais de Hollywood entrou em contato com as pérolas de mestres da canção norte-americana, como George Gershwin, Cole Porter e Irving Berlin. Já no campo da música brasileira, seu interesse recaía sobre compositores que buscavam algo mais elaborado, como Custódio Mesquita ou Garoto, também considerados precursores da bossa.

Obviamente, no caso de um compositor tão sensível e criativo, essa refinada combinação de influências só serve de referência para se tentar entender em qual contexto nasceram obras-primas como “Ilusão à Toa”, “Céu e Mar”, “Olhos Negros” ou “Fim de Semana em Eldorado”. Sem um toque definitivo de genialidade, elas jamais existiriam.

Hoje é difícil acreditar que “Eu e a Brisa”, a sublime canção pela qual ele será sempre lembrado pelo grande público, tenha sido rejeitada nas eliminatórias do Festival de MPB da TV Record, em 1967. Um caso irônico que mostra como o original Johnny Alf foi um criador à frente de seu tempo.


Rogério Botter Maio: "Tudo por um Ocaso" exibe o lirismo do contrabaixista paulista

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Lirismo e uma eclética combinação de influências musicais dão o tom do quarto álbum do talentoso baixista e compositor Rogério Botter Maio, paulista que já alternou temporadas na Europa e nos EUA. Gravado em Barcelona (Espanha), em 2009, o CD (lançado pelo selo Gero, com distribuição da Tratore) reúne sete temas instrumentais e duas canções, todos de autoria do baixista.

A instrumentação pouco convencional (destaque para o clarinete de Carola Ortiz, o cello de Sandrine Robillard, o acordeom e a gaita de Israel Alvarez) reforça a marca pessoal de temas como a doce faixa-título ou a tensa “The Other One”, que remete ao moderno tango de Piazzolla. Mais próxima da rítmica brasileira, “Quiprocó” conta com a colorida percussão de Caito Marcondes. A cada novo álbum de Botter Maio evidencia-se mais sua evolução como compositor


(resenha publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 26 de fevereiro de 2010)



Bissamblazz: big band paulista lança 'Nativ', seu quarto CD, com gravação ao vivo

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Criada em 1993, a big band paulista Bissamblazz segue como veículo para as refinadas composições de seu criador, o percussionista e líder Magno Bissoli. “Nativ” (selo Axis), seu quarto CD, foi gravado ao vivo em 2008, no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, em São Paulo. As cinco faixas desse álbum compõem uma espécie de suíte, que combina influências do jazz e da música contemporânea.

Com levada de samba, a vibrante “But I Am Not Hamlet” é inspirada em poema do dinamarquês Peter Poulsen. “Safari” remete a ritmos afros e destaca um expressivo solo do sax tenor Victor Alcântara. A tensão inicial de “Correndo na Frente”, que encerra o álbum, desemboca em um baião. No engenhoso encarte, as observações musicais de Bissoli, que também é doutor em História pela Universidade de São Paulo, emprestam sabor especial à audição. Venda pelo e-mail
axis@bissamblazz.org

 

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