Sabrina Starke: cantora radicada na Holanda é revelação do novo soul europeu

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Assim como o jazz europeu distancia-se cada vez mais das raízes norte-americanas, a soul music produzida hoje no Velho Continente tem demonstrado personalidade própria. Revelação recente desse gênero, na Holanda, a cantora Sabrina Starke (que nasceu no Suriname) já surge como autora de quase todas as faixas de "Yellow Brick Road" , seu primeiro CD, distribuído no Brasil pela EMI.

O fato de este álbum ter sido lançado originalmente pelo influente selo de jazz Blue Note é puramente mercadológico. Em canções como a otimista “Do For Love”, a dançante “Foolish” ou a quase feminista “Second Class Woman”, Sabrina se mostra bem mais próxima de cantoras da cena pop atual, como India.arie ou Amy Winehouse, do que das grandes divas do jazz. O que não a impede de interpretar com a devida emoção baladas como “My King” e “Yellow Brick Road”. Uma estréia promissora. 

(Resenha publicada no "Guia da Folha - LIvros, Discos e Filmes", em 27/11/2009).
  

Paulo Vanzolini: documentário faz retrato poético do sambista paulista e de sua cidade

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Ao dirigir este documentário sobre Paulo Vanzolini, conceituado zoólogo e compositor de clássicos do samba paulista, como “Ronda” e “Praça Clóvis”, o cineasta Ricardo Dias dispensou depoimentos de experts sobre o protagonista. Com um humor ácido, que não perdoa nem a si mesmo, o próprio Vanzolini relembra como compôs suas canções, conta “causos” e expõe opiniões, sem receio de comprometer sua imagem.
“O povo, de cada um, pessoalmente, eu não gosto, mas do povo, em geral, eu gosto muito”, dispara logo ao início do filme "Um Homem de Moral", lançado agora em DVD pela gravadora Biscoito Fino.
Por meio de personagens anônimos que flagrou nas ruas de São Paulo, Dias consegue ilustrar com naturalidade e beleza os enredos das canções de Vanzolini. E assim traça também, como faz esse compositor eventual, um poético e penetrante retrato da metrópole paulista.

(Resenha publicada no Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes, em 27/11/2009) 



Les Paul: DVD narra a história contagiante do pioneiro da guitarra

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Lançado nos EUA em 2007, este documentário sobre a vida do guitarrista norte-americano Les Paul (selo Eagle Vision/ST2) chega ao Brasil três meses após sua morte, aos 94 anos. As primeiras cenas chegam a incomodar pelo tom excessivamente laudatório, mas em pouco tempo já nos rendemos à alegria contagiante desse pioneiro da guitarra – responsável por descobertas nas áreas da gravação e dos efeitos eletrônicos, ou mesmo pela construção de uma das primeiras guitarras de corpo sólido.

Recheado de depoimentos de astros da música, como B.B. King, Keith Richards e Tony Bennett, que reverenciam o legado de Paul, o filme relata a ascensão, a queda e a ressurreição artística desse músico, que se apresentou em clubes de jazz nova-iorquinos durante seus últimos 26 anos. Dizia que tocava “por amendoins”, mas se sentia satisfeito ao fazer o público feliz. Uma espécie de músico em extinção.


(Publicada no Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes, em 27/11/2009) 

  

2º Bridgestone Music: shows do festival podem ser vistos no site em versão completa

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Se você perdeu (ou quer rever) os shows da segunda edição do Bridgestone Music, realizado em maio último, não deixe de dar uma olhada no site desse festival. A cada mês uma apresentação completa está sendo transmitida em streaming. A atração de novembro é o quarteto da sensacional cantora René Marie, uma das surpresas do evento, que dividiu o palco com o talentoso trompetista Jeremy Pelt.

A atração de dezembro será a So What Band, banda de feras do jazz comandada pelo veterano baterista Jimmy Cobb, que relembra todas as faixas do cultuado álbum "Kind of Blue", de Miles Davis. A programação do Bridgestone Music promete ainda a saborosa banda alemã de soul-jazz Tok Tok Tok (em janeiro) e a cantora de soul Bettye Lavette (em fevereiro), outra grande revelação do festival.

Madeleine Peyroux: primeiro DVD da cantora traz imagens de seus shows nas ruas de Paris

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Registrado em janeiro de 2009, num clube de Los Angeles, este DVD com um show de Madeleine Peyroux concentra-se no repertório de “Bare Bones”, seu quarto e recente álbum. Nele, a cantora norte-americana não só se firmou como compositora, como parece enfim ter começado a encontrar sua identidade musical.

No DVD "Somethin' Grand" (lançamento Universal), as conhecidas versões de canções melancólicas de Leonard Cohen (“Dance to the End of the Love”) e Bob Dylan (“You’re Gonna Make Lonesome When You Go”) agora se misturam com composições mais vibrantes, calcadas no soul e no rhythm’n’blues, como “You Can’t Do Me” ou a própria “Bare Bones” (parcerias com o produtor Larry Klein e Walter Becker, da dupla Steely Dan). Além disso, a sombra da forte influência de Billie Holiday, diva do jazz que marcou os primeiros discos de Peyroux, já é bem menor.

Especialmente interessante para os fãs é a inclusão de um documentário que revê a carreira da cantora. Além de destacar flagrantes da época em que Madeleine se apresentou nas ruas e no metrô de Paris, inclui também depoimentos que revelam sua relutância em se adaptar às formalidades e aparências do showbiz.

(Resenha publicada parcialmente no “Guia da Folha – Livros, Discos e Filmes”, em 30/10/2009)


Duofel: violonistas lançam álbum com releituras instrumentais dos Beatles

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Nesta entrevista, Luiz Bueno e Fernando Melo, violonistas do Duofel, contam por que resistiram tanto à tentação de gravar um álbum só com releituras instrumentais de canções dos Beatles.

Vocês já tocam releituras de músicas dos Beatles há duas décadas. Por que só decidiram gravar agora esse álbum?
Luiz Bueno – Desde 1988, quando gravamos Beatles pela primeira vez, vários produtores, inclusive fora do Brasil, sugeriram que fizéssemos um disco como esse, mas ainda não nos sentíamos fortes o suficiente para não nos tornarmos escravos dos Beatles. No ano passado, quando o Duofel comemorou 30 anos, organizamos uma pequena enquete com nossos fãs e mais de 80% deles opinaram que deveríamos fazer esse disco. Antes da gravação, fizemos vários shows, onde percebemos que, na platéia, havia muitas pessoas que não conheciam o Duofel. Elas estavam ali para ouvir Beatles com a gente.

Como os Beatles entraram na vida de vocês?
Bueno – Na verdade, nós nos interessamos por música, ainda garotos, justamente por conta dos Beatles. Fernando e eu nos conhecemos num grupo de rock progressivo. Fizemos um caminho diferente da maioria dos instrumentistas, que já começam curtindo jazz. Quando acompanhamos Tetê Espíndola numa turnê pela Europa, em 1988, fomos conhecer a terra dos Beatles. Já naquela época colocamos “Norwegian Wood” em nosso repertório e ela se tornou um dos grandes momentos dos nossos shows.

Que faixas deste CD, em sua opinião, melhor representam a identidade musical do Duofel? 
Fernando Melo – Nós sempre utilizamos afinações diferentes nos nossos violões, mas neste disco fizemos uma nova experiência. Eu era baixista, mas deixei de tocar contrabaixo porque quebrava as unhas e, na hora de tocar violão no Duofel, ficava difícil. Então resolvi descobrir uma afinação que misturasse a sonoridade do contrabaixo com a do violão. Eu já vinha tentando isso há algum tempo, mas só nesse disco achei o espaço certo para usar essa afinação. Isso aconteceu em “Eleanor Rigby”, que abre o CD, e em “A Day in the Life”, a última. Outra faixa que ficou com a nossa cara é “The Fool on the Hill”, porque nela utilizamos instrumentos que não estariam presentes na música dos Beatles, como a viola caipira e o violão tenor. Também usamos o arco de rabeca, que aparece em outras faixas do disco.   

Hoje, quando o futuro da distribuição da música parece estar associado aos downloads na internet, lançar um álbum focado nos Beatles não é ficar na contramão do mercado?
Bueno – Já nos sentimos na contramão outras vezes, mas temos certeza de que o amante da música que fazemos ainda compra discos. Demos um grande passo em nossa vida profissional, cinco anos atrás, quando criamos a Fine Music. Nossa idéia inicial já era bastante contemporânea: não ser apenas uma gravadora, mas também um ponto de distribuição de nossa música. Em nosso site (www.duofel.com), já vendemos nossos discos por download. E assim que a editora das canções dos Beatles nos der permissão, este CD também será vendido por download. Um álbum reúne não só uma colocação musical e artística, mas um pensamento, toda a filosofia que amarra a vida de um músico ou de um compositor. Eu vejo o álbum como uma galeria de quadros que expressa o momento daquela criação do artista.

(entrevista publicada no "Guia da Folha - Livros, Discos e Filmes", em 30/10/2009)


Duofel: recriando sucessos dos Beatles sem perder a identidade

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Acostumados a ouvir as saborosas versões de canções dos Beatles que o Duofel exibia com freqüência em seus shows, muitos fãs não entendiam por que os violonistas Luiz Bueno e Fernando Melo resistiam à idéia de gravar um disco com esse repertório. Ao ouvir “Duofel Plays The Beatles” (lançamento Fine Music), dificilmente algum desses fãs ficará decepcionado.

Como se tivesse esperado o tempo certo para que suas idéias amadurecessem, a dupla se superou nas releituras de clássicos do quarteto britânico. Algumas, como as de “Across the Universe” e “Here, There and Everywhere”, são mais reverentes. Outras escancaram a personalidade musical da dupla, caso de “Mr. Moonlight”, que soa como uma caipira moda de viola, sem perder sua essência melódica. Um álbum para beatlemaníaco algum colocar defeito.

(Resenha publicada no “Guia da Folha – Livros, Discos e Filmes”, em 30/10/2009)

  

 

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