"Soul Men" e "Cadillac Records": a black music agita as telas

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Se você curte filmes ambientados no universo da black music, como "Ray", "DreamGirls" ou "The Commitments", não deixe de ver "Soul Men", já disponível em DVD e blu-ray, no mercado norte-americano. Nessa comédia ao estilo "on the road", Bernie Mac e Samuel L. Jackson (na foto acima) interpretam ex-integrantes da Real Deal, uma fictícia banda de soul e r&b dos anos 1960.

Brigados durante décadas, os dois músicos decidem voltar à estrada após a morte de outro ex-parceiro - interpretado pelo cantor John Legend, em rápida aparição. Além da saborosa trilha sonora, embalada por muito soul e funk, o filme inclui participação do astro Isaac Hayes, que morreu em 2008, pouco antes de o filme entrar em cartaz. Mesmo destino do comediante Bernie Mac, para tristeza dos fãs de ambos.

Já o dramático "Cadillac Records" resgata a história da Sun Records, gravadora que lançou pioneiros do rhythm & blues, como Muddy Waters, Willie Dixon e Chuck Berry, ídolos das primeiras gerações do rock & roll. No elenco aparece Beyoncé, no papel da rebordosa cantora Etta James, que passou a acusar publicamente a colega de “roubar” seu sucesso "At Last", incluída na trilha sonora desse filme. Com o destaque que tem na história do blues e da black music, Etta não precisava pagar tamanho mico.

(publicado parcialmente na “Homem Vogue”, ano 8, nº 24)

Melody Gardot: acidente grave levou norte-americana a se tornar cantora

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Quem escuta pela primeira vez as canções sofisticadas e românticas dessa norte-americana de 24 anos, cujo nome aparece com destaque na programação dos melhores festivais de música deste verão, na Europa, jamais poderá imaginar a tragédia pessoal que a vida lhe reservou.

Cinco anos atrás, Melody Gardot pedalava sua bicicleta, na cidade de Filadélfia, onde vivia, quando foi atropelada por uma perua Cherokee, que desrespeitou o sinal vermelho. As seqüelas foram devastadoras: depois de passar um ano presa à cama, ela teve de reaprender a andar. Ainda é obrigada a usar bengala até hoje.

“Eu estava me preparando para ser pintora, mas prefiro não pensar em como minha vida poderia ter sido diferente”, diz ela, por telefone, do quarto de um hotel, em Londres.Ironicamente, o acidente alterou os planos de vida de Melody. Para enfrentar as dores que a medicina convencional não conseguia atenuar sem pesados efeitos colaterais, um médico lhe sugeriu alguma forma de terapia musical.

Ainda impedida de sair da cama, ela decidiu aprender violão, deitada mesmo. Assim nasceu a compositora e cantora, cuja carreira profissional começou a decolar depois que um amigo construiu uma página no MySpace, sem que ela soubesse, com algumas de suas primeiras canções.

Influências musicais
“Amo Duke Ellington, Jacques Brel, James Taylor, Carole King”, diz ela, listando alguns de seus compositores favoritos, entre os quais não faltam brasileiros. “Também adoro Caetano Veloso, Jobim e Astrud Gilberto. Tenho ouvido muito ‘Domingo’, aquele álbum de Gal Costa e Caetano”, emenda, animada.

A quase bossa nova “If the Stars Were Mine”, faixa do segundo CD de Melody (“My One and Only Thrill”, recém-lançado no Brasil pela Universal), prova que ela não está fazendo média com o entrevistador. Outras influências saltam logo aos ouvidos nesse álbum: soul (“Who Will Confort Me”), jazz (“Your Heart Is as Black as Night”), chanson francesa (“Les Etoiles”).

Na produção, a presença de Larry Klein (baixista e compositor norte-americano que já emprestou sua experiência a álbuns de cantoras do primeiro time do pop e do jazz atual, como Joni Mitchell, Madeleine Peyroux e Luciana Souza) parece ter sido útil para que Melody encontrasse o tom certo nos arranjos e interpretações do álbum.

Depois dos elogios que o álbum tem recebido na mídia internacional, ao encarar a atual maratona de viagens e shows, hoje ela se preocupa mais com seu estado físico do que com a possível reação das platéias frente à sua música. “Entrar em um palco não é muito fácil pra mim, porque ainda tenho que ser bastante cuidadosa em relação a certos aspectos de minha saúde, mas vale a pena. Sinto uma grande alegria quando tenho a oportunidade de mostrar minhas canções para as pessoas”, diz.

E já que cinco anos atrás ela nem imaginava que viria a tornar uma cantora e compositora de relativo sucesso, será que ela consegue se ver daqui a outros cinco anos como artista? "Mais velha”, ela responde, quase rindo. “Não faço muitos planos, realmente não sei como estarei. Prefiro esperar para ver o que a vida ainda me reserva”.

(entrevista publicada parcialmente na "Folha de S. Paulo", em 15/07/2009)





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Ná Ozzetti: recriando os sambas de Carmen Miranda, em "Balangandãs"

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A cantora paulista fala sobre o projeto e a gravação do CD “Balangandãs” (selo MCD), que reúne criativas releituras de 15 sucessos do repertório da Pequena Notável.

Como você se envolveu com a obra musical de Carmen Miranda? O que é mais atraente no estilo dela?
Ná Ozzetti - Sempre admirei a Carmen, mas foi trabalhando com o grupo Rumo, em 1979 e 1980, que tive a oportunidade de ouvir melhor as gravações dela, pois, na época, pesquisávamos canções menos conhecidas de Noel Rosa, Lamartine Babo e Sinhô. Fiquei fascinada pela forma como ela valorizava não só as canções, mas todo conteúdo musical dos arranjos e das performances dos instrumentistas, elementos que ela aproveitava para suas interpretações, numa espécie de contraponto. Além disso, ela sabia extrair o melhor de sua voz para chegar a uma expressão exata do que desejava. Também era atenta e antenada ao contexto musical da época e aos compositores que surgiam.

Quais foram os seus critérios para escolher as canções de Carmen que gravou?
NO - Antes da gravação, trabalhei na escolha do repertório para o show. Para isso escutei quase toda a discografia dela, selecionando, primeiramente, as canções que me causaram empatia imediata. A partir desta fiz outras seleções até chegar às 18 canções do show. Para o CD, achei que 18 seria um número muito grande de faixas, então não gravei "Boneca de Piche", "Fon-fon" e "Thaí", que funcionam melhor em palco.

Muitos discos são gravados antes dos shows. Por que você preferiu o caminho inverso, gravando o disco só depois de fazer vários shows?
NO - Aconteceu naturalmente. A idéia do trabalho nasceu em 2006, mas, em 2007, não surgiram boas oportunidades de realizarmos shows, o que só veio a acontecer a partir de 2008. No final desse ano já tínhamos tocado bastante e amadurecido os arranjos. Nesse momento resolvemos registrar esse trabalho em CD, o que facilitou muito a viabilização, pois gravamos tudo em três dias, tocando ao vivo no estúdio, como se estivéssemos no show.

Os arranjos desse álbum chamam atenção. Como foi esse processo de criação? Você também participou?
NO – Pedi ao Dante [Ozzetti] e ao [Mário] Manga que preparassem pré-arranjos das canções. Partimos do princípio de manter as levadas das gravações originais, justamente para que não se perdessem os pontos principais onde a Carmen apoiava o seu canto. A partir daí os arranjos foram desenvolvidos em grupo e tomaram forma de acordo com as performances de todos e das novas idéias que iam surgindo. O processo foi coletivo e todos opinaram à vontade até a mixagem do CD.

Hoje, 30 anos após sua estréia como cantora do grupo Rumo, como você se sente no palco ou no estúdio de gravação? Tudo ficou mais fácil?

NO - Algumas características continuam bem presentes, felizmente, como o prazer pelo trabalho, tanto no palco, como no estúdio, em iguais proporções, e a sensação de frescor, de novidade, a cada nova experiência. Mas, sem dúvida, o tempo me ajudou a me sentir cada vez mais a vontade.

Sabemos que Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik marcaram as primeiras fases de sua carreira. O que esses compositores trouxeram para a sua maneira de encarar a música?

NO - Luiz, como idealizador do Rumo, foi e continua sendo fundamental na minha trajetória. A experiência que tive no grupo, com o canto falado, foi uma das mais fortes influências na minha forma de cantar. Depois do Rumo, continuamos trabalhando juntos. Luiz foi muito importante no meu processo como compositora, fizemos algumas parcerias e, de certa forma, continuamos presentes no trabalho de um e do outro.
Zé Miguel foi muito marcante no início de minha carreira solo, ocasião em que tomei contato com suas magníficas composições, que tinham características bem diferentes do trabalho com o Rumo e das referências musicais anteriores. Suas composições exigiam diferentes domínios da voz e da interpretação. Cada uma se apresentava como um desafio distinto a ser encarado, o que eu fazia com o maior dos prazeres.

(entrevista publicada parcialmente no “Guia da Folha – Livro, Discos & Filmes”, em 25/06/2009)

Ná Ozzetti: arranjos valorizam suas releituras de sucessos de Carmen Miranda

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Quem segue a carreira de Ná Ozzetti desde sua fase inicial, como vocalista do grupo Rumo, não esperaria por menos. Só uma intérprete madura, que convive há décadas com o repertório e o estilo de Carmen Miranda, poderia se sair tão bem em um projeto de releituras como este.
A banda formada por músicos versáteis – Dante Ozzetti (violão), Mário Manga (guitarra e cello), Sérgio Reze (bateria) e Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo) – se mostra fundamental para a construção dos inventivos arranjos. Estes trazem sonoridades mais contemporâneas a clássicos como “Diz que Tem” (Vicente Paiva e Hannibal Crux), “Camisa Listada” (Assis Valente) ou “Tico Tico no Fubá” (Zequinha de Abreu), mantendo a essência de cada canção.
Segura e bem-humorada, Ná brinca com os característicos trejeitos vocais de Carmen, sem abrir mão de seu estilo pessoal. Uma preciosa aula de interpretação musical.

(resenha publicada no “Guia da Folha – Livro, Discos & Filmes”, em 25/06/2009)



Beyoncé: black music em alta definição

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Até para os fãs que já viram este show da megastar Beyoncé, a versão em blu-ray (o DVD de alta definição), que acaba de ganhar edição nacional da Sony-BMG , traz novidades. Essa tecnologia permite ver detalhes inusitados, além de oferecer uma sensação de profundidade visual inédita em telas de TV. Embora não inclua entrevistas ou um making of, o blu-ray traz como extra uma jukebox que possibilita editar a ordem em que as canções do show são exibidas – recurso útil para quem não aprecia todos os estilos cultivados pela cantora, que combina soul, R&B, funk, hip-hop e baladas românticas, em seu repertório.

Com mais de duas horas de duração, “The Beyoncé Experience” soa como uma releitura contemporânea dos shows de variedades de Las Vegas. Mistura esquetes teatrais, coreografias robóticas, até elementos de balé clássico, além de solos instrumentais das belas garotas da banda. Talentosa, divertida e sensual, Beyoncé reina hoje absoluta na cena da black music, inclusive em seus momentos de cafonice e vulgaridade.

(resenha publicada no “Guia da Folha – Livro, Discos & Filmes”, em 25/06/2009)



 

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