Wynton Marsalis e Willie Nelson: dupla inusitada se diverte tocando blues

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Até fãs do trompetista Wynton Marsalis, 47, ou do cantor Willie Nelson, 75, torceram seus narizes, no ano passado, ao saber do lançamento do disco que os dois gravaram juntos. À primeira vista, a inusitada parceria do erudito embaixador do jazz com o veterano medalhão da música country soava como outro daqueles projetos caça-níqueis que volta e meia surgem no mercado musical.

Mas o CD “Two Men With the Blues” (Blue Note/EMI, 2008) provou que não se tratava de armação. O projeto de gravação nasceu após um encontro casual do jazzista com o cantor, em 2003, num show que reuniu diversos astros no lendário Apollo Theatre, em Nova York. Os dois aguardaram as condições ideais para o reencontro, que só se concretizou em janeiro de 2007, na mesma cidade.

Das gravações, realizadas em dois concertos, na sala Frederick P. Rose do imponente Lincoln Center, resultaram as 11 faixas incluídas no álbum, assim como o material que deu origem ao DVD “Live From New York City” (Eagle Vision/ST2), que acaba de ser lançado no mercado brasileiro.

Ao lado de um quinteto de músicos emprestados das bandas de ambos, Marsalis e Nelson deliciam-se interpretando clássicos blues (“Ain’t Nobody’s Business”, “Night Life”, “Rainy Day Blues”) e alguns standards da canção norte-americana, como “Stardust” e “Georgia on My Mind”. O que mais poderiam escolher para que ambos se sentissem em casa?

Além de captar a descontraída atmosfera desse encontro, o DVD inclui três faixas que não aparecem no CD: o gospel “Down By the Riverside” e as jazzísticas “Don’t Get Around Much Anymore” (Ellington e Russel) e “Sweet Georgia Brown” (Bernie e Pinkard). Traz também depoimentos de Marsalis e Nelson, que lembram como se conheceram e refletem sobre suas identidades musicais.

“Os rótulos foram inventados para vender a música. Você tinha que dar um nome a ela antes para poder vendê-la. Mas alguns gêneros musicais englobam tudo e é isso que eu gosto de tocar”, comenta Nelson, sugerindo que há mais afinidades entre o blues, o jazz e a country music do que muitos imaginam.

Reveladores também são os sorrisos que Marsalis troca com os músicos de sua banda, ao ouvir as notas insólitas extraídas por Nelson de seu maltratado violão, que parece recém-saído de uma briga de botequim. “Ele é completamente imprevisível nos improvisos”, comenta o jazzista, elogiando a originalidade do parceiro.

Pena que em vez de se concentrar mais na expressão dos músicos, o diretor Danny Clinch opte com freqüência por inserir imagens noturnas de Nova York, como num documentário turístico. A edição nervosa, que parece querer transformar o registro do concerto em um videoclipe, também incomoda, em alguns momentos. Ainda assim, a música descontraída de Marsalis e Nelson consegue escapar ilesa do exibicionismo do diretor.

(resenha publicada na “Folha de S. Paulo”, em 23/02/2009)

Manu Le Prince: francesa canta tributo a Cole Porter

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Já virou hábito. Nos últimos anos, o projeto Carnaval na Contramão, produzido pelo Sesc Pinheiros, tem oferecido boas opções musicais aos paulistanos que querem fugir das marchinhas estridentes e da folia do rei Momo. Shows de música instrumental brasileira e jazz dão mais uma vez o tom do evento, de domingo a terça.

A atração principal desta edição é a cantora francesa Manu Le Prince, que vai apresentar o repertório de seu recente CD “Tribute to Cole Porter” (selo Sergent Major), acompanhada por um quarteto de feras do instrumental brasileiro: Pascoal Meireles (bateria), Kiko Continentino (piano), Sergio Barrozo (baixo) e Idriss Boudrioua (sax alto), francês radicado no Rio.

“Essa é a minha turma mais querida daqui. Já fiz vários shows com eles”, diz em português a parisiense, que começou a cantar profissionalmente aos 19 anos, em Londres. “O jazz me acompanha desde menina. Minha mãe cantava ‘Cheek to Cheek’ e ‘Night and Day’ para eu dormir”.


Na década de 80, ela começou a dividir sua paixão por esse gênero norte-americano com a música brasileira. “Foi um pouco antes de encontrar meu marido, Tatau Caetano, que tocou com Johnny Alf e Dick Farney. Moramos 15 anos na França, onde trabalhamos juntos até sua morte, infelizmente, em 2002”, relembra.

A idéia de gravar um álbum-tributo a Cole Porter (1891-1964) não se deve apenas, segundo Le Prince, ao fato de ele ser um dos maiores autores da canção norte-americana. “Porter era um dos únicos que compunham música e letra junto, o que resultou em uma obra musical particularmente suingada”, ela explica.

Nas gravações de “Love for Sale”, “I’ve Got You Under My Skin”, “Let’s Fall in Love” e “What Is This Thing Called Love”, entre outras que farão parte do show, Le Prince demonstra ser uma cantora de jazz clássica e elegante, que não dispensa um toque de sensualidade, em suas interpretações. Além disso, pronuncia o inglês de forma irrepreensível, algo raro na França.

Carnaval
Curiosamente, a intimidade com as sofisticadas canções de Porter não a impedem de gostar do carnaval brasileiro. “Sou francesa”, justifica. “Já assisti muitos desfiles de escolas, adoro os blocos. Este ano vou desfilar na Estácio de Sá, junto com meu filho de 14 anos, Julian, que também fará uma participação no show”.

O projeto Carnaval na Contramão começa amanhã com o show do talentoso trio Corrente, formado por Fabio Torres (piano), Edu Ribeiro (bateria) e Paulo Paulelli (contrabaixo). Esse grupo paulistano combina em seu repertório composições próprias e releituras de clássicos da MPB.

A atração de segunda-feira é o quinteto de música instrumental brasileira do guitarrista Duca Belintani. Já na terça, no mesmo horário do show de Manu Le Prince, apresenta-se também o trio Regra de Três, integrado pelos experientes Lupa Santiago (guitarra), Sizão Machado (baixo) e Bob Wyatt (bateria), cujas composições seguem o espírito experimental do free jazz.

(entrevista publicada na “Folha de S. Paulo”, em 21/2/2009)

Madeleine Peyroux: enfim encontrando sua identidade musical

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Na faixa de abertura (“Instead”, um saltitante blues acústico), o timbre vocal e a maneira de arrastar certas palavras ainda lembram o estilo único de Billie Holiday (1915-1959). Mas basta ouvir as faixas seguintes de “Bare Bones” (selo Rounder/Universal), o quarto álbum de Madeleine Peyroux, para se notar que a jovem cantora norte-americana parece enfim ter começado a descobrir sua identidade musical.

Com a produção assinada por Larry Klein (conhecido por sua longa associação com a canadense Joni Mitchell), “Bare Bones” estabelece Madeleine como compositora. Na verdade, ela já havia exibido quatro canções próprias no anterior “Half the Perfect World” (2006), mas ainda sem a consistência que revela agora.

Para uma intérprete cujo repertório foi centrado durante anos em standards do blues e do jazz, ou, mais recentemente, em canções folk de Leonard Cohen e Bob Dylan, quase sempre tingidas por uma considerável dose de melancolia, uma canção como “You Can’t Do Me” (“você não pode transar comigo”), parceria da cantora com Klein e Walter Becker (da banda Steely Dan), é um sinal de novidade.

O ritmo bem marcado entre o rock e o rhythm & blues, colorido por órgão e guitarra, reforça a saliência dos versos: “Eu sei que fico tão triste / Vou fundo como um escafandrista no mar / Fora como um sax tenor à Coltrane / Perdida como uma criança chinesa na guerra / Morta, morta, morta! / Desgraçada como um meeiro do Mississipi / Fodida como uma cheerleader de colégio”.

Esse tom confessional se mantém em outras canções do álbum, como a delicada “I Must Be Saved”, única composta somente pela cantora, que também assina as outras dez com vários parceiros. Ou a triste “River of Tears” (outra com Klein), que Madeleine fez para se despedir do pai, morto alguns anos atrás.

Para quem ainda não teve a oportunidade de ver alguma das várias apresentações que Madeleine já fez por aqui, nos últimos anos, fica um aviso: parte do encanto de suas interpretações registradas nos discos se desfaz no palco, já que ela está longe ainda de ser uma cantora segura, muito menos carismática.

Mas essa timidez acaba funcionando a favor da cantora, reforçada por seus folclóricos sumiços da cena musical, que já renderam páginas e páginas nos jornais e na internet. Graças a esses episódios de aparente rebeldia, não são poucos os fãs que acreditam que a frágil e confessional Madeleine Peyroux realmente viveu todas as perdas e fracassos amorosos sugeridos em suas canções.

(resenha publicada na “Folha de S. Paulo”, em 18/02/2009)



Naná Vasconcelos: o maestro dos trovões rege maracatus no Carnaval de Recife

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                                                              Capa do álbum "Amazonas", de Naná Vasconcelos

No início dos anos 1970, o percussionista Naná Vasconcelos encarou uma missão difícil: para se tornar solista, numa época em que o berimbau e outros instrumentos de percussão ainda eram considerados meros coadjuvantes, ele enfrentou preconceitos e narizes torcidos. Já nesta década, consagrado como um dos melhores instrumentistas do mundo, esse músico pernambucano tem assumido outro desafio na abertura oficial do Carnaval de Recife: reger centenas de ritmistas, em eventos que a cada ano têm atraído um número maior de foliões.

É isso que ele voltará a fazer no próximo dia 20, no Marco Zero, a maior praça da capital pernambucana. Ao comandar o encontro de 14 nações de maracatu, com mais de 600 ritmistas, Naná terá a seu lado, como convidados especiais, Caetano Veloso e o jovem pianista Vitor Araújo. Outra novidade do evento, neste ano, é uma homenagem ao povo nagô por meio de duas lendárias figuras da cultura afro-brasileira: a pernambucana Dona Santa, conhecida como a rainha dos maracatus, e a ialorixá baiana Mãe Menininha do Gantois.

“Os maracatus, que estavam quase desaparecendo, viraram centro das atenções de novo”, comemora Naná, que admite ter ficado receoso ao receber o convite da prefeitura local, para reger o primeiro encontro de maracatus, em 2002. A rivalidade entre as nações de maracatu é semelhante à que existe entre as escolas de samba cariocas ou paulistas, mas o prestígio do veterano percussionista contribuiu para que os maracatus aceitassem participar.

Enfrentando resistências
Mesmo assim, sete anos depois, o maestro ainda enfrenta algumas resistências. “Botar 14 maracatus para tocar juntos, cada um com seu sotaque, é um desafio danado, uma briga de foice. Para que todos possam tocar juntos, eu trago algumas convenções musicais que não fazem parte da tradição do maracatu. Peço licença aos mestres para trabalhar com seus discípulos, mas até hoje alguns deles ainda se recusam a usar o que passei para seus batuqueiros. Dizem que é ‘coisa do Naná’”.

Estimulado pelo conceito de “carnaval multicultural”, que tem regido a folia recifense nos últimos anos, Naná já experimentou diversos formatos sonoros, nesses encontros de maracatus. Já contou com uma orquestra, com uma banda sinfônica, até com uma banda de rock formada para a ocasião. E a exemplo do que fazia na década passada, quando era diretor musical do festival PercPan, passou a convidar estrelas da MPB, como Maria Bethânia, Marisa Monte e Elza Soares, para cantar com os batuqueiros.

Naná convive com os ritmos e tambores do maracatu desde a infância, em Recife. Dona Petronilha, sua mãe, esperava que ele adormecesse para sair com uma amiga atrás do maracatu. “Como não havia poluição sonora, naquela época, uma noite ouvi um ruído que parecia um trovão. Então pensei: ‘É trovão? Mas não está chovendo’. Essa cena marcou minha vida. Maracatu é trovão”, diz o percussionista, que obrigou a mãe a levá-lo para ouvir um maracatu pela primeira vez aos sete anos de idade.

Prestígio nos círculos do jazz
Ironicamente, o grande prestígio que Naná desfruta nos círculos do jazz e da música instrumental, tanto na Europa como nos Estados Unidos, onde viveu e atuou durante grande parte dos anos 1970 e 1980, nem sempre repercutiu à altura entre os executivos do mercado fonográfico brasileiro. É difícil de acreditar que um de seus discos mais cultuados, o inventivo “Amazonas” (lançado pela Philips, em 1973), não tenha sido relançado até hoje. Essa injustiça será reparada pelo selo paulista Museu do Disco (museudisco@ig.com.br), que promete lançar a primeira edição em CD do álbum no próximo mês.

“Acho que o ‘Amazonas’ assustou um pouco as pessoas, na época, porque não parecia com nada conhecido. Teve gente que até perguntou o que eu queria com aquilo”, relembra Naná, esboçando uma explicação para que esse álbum, o segundo de sua discografia solo, ficasse fora de catálogo por mais de três décadas. “Fizeram uma prensagem de umas 5 mil cópias, que foram vendidas, mas, como não tocava no rádio, ele foi engavetado”.

Naná já tinha uma carreira na Europa, quando veio ao Brasil, em 1973. Pensou em lançar aqui “Africadeus”, álbum gravado na França, um ano antes, que o introduziu como solista de berimbau. Mesmo com o entusiasmado aval do escritor Jorge Amado, não conseguiu convencer André Midani, diretor da Philips, a prensar seu disco, mas acabou assinando contrato para uma nova gravação.

Trabalhando sozinho
“Fiz quase tudo sozinho”, conta o músico, que compôs cinco das oito faixas do álbum, além de criar arranjos para dois temas do folclore africano (“Dhina Ô” e “Amazio”). A exceção é “Aranda”, composição do violonista Nelson Ângelo com o letrista Ronaldo Bastos, que Naná transforma em uma peça meio dramática, contando com um expressivo arranjo de cordas do próprio Ângelo.

Em outras faixas, o percussionista e compositor mistura seus vocais onomatopaicos com palmas, imitações de pássaros, assobios, berimbau, tambores e diversos instrumentos de percussão. Inspirada em canções de Luiz Gonzaga, “Coisas do Norte” combina fragmentos melódicos de aboios e lamentos nordestinos. “Cara com Cara” se apóia em ritmos emprestados do samba de roda e do coco.

Mas nenhuma das oito faixas se compara em irreverência a “Um Minuto”, que fecha o álbum. Aproveitando os recursos do estúdio, Naná gravou diferentes risadas que foram distribuídas pelos oito canais de som, como numa obra de música de vanguarda. “No meio da gravação, vi o técnico telefonar para alguém da gravadora, dizendo que eu estava doido”, relembra o compositor, rindo.

Não foi à toa que, após o lançamento desse disco, Naná viu os convites para tocar no Brasil rarearem. “Quase ninguém me chamava mais porque fiquei com a imagem de vanguardista, mas eu curtia isso”, diz, admitindo que, se ainda não tivesse iniciado a carreira no exterior, encontraria dificuldades para sobreviver. Quando voltou a tocar aqui, já em 1986, Naná não pensou duas vezes para desembolsar 200 dólares por um simples LP: uma cópia em bom estado de seu “Amazonas”, que já tinha virado raridade

(entrevista publicada no caderno cultural do “Valor Econômico”, em 13/02/2009)



Banda Mantiqueira: samba, jazz e baiões no primeiro DVD da orquestra paulista

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Não é fácil entender porque a música de uma big band excepcional como a Banda Mantiqueira, com quase duas décadas de estrada e liderada com brilho especial pelo clarinetista e arranjador Nailor “Proveta” Azevedo, chega só agora ao formato DVD.

De irresistíveis sambas de João Bosco (“Linha de Passe”) e Joyce (“Feminina”) a uma vibrante seleção de baiões (“Pau-de-Arara”, “Qui Nem Jiló” e “Último Pau de Arara”, de Luiz Gonzaga), passando pelo jazz de Sonny Rollins (“Airegin”), o repertório dessa apresentação (registrada em 2006, no palco do Itaú Cultural, em São Paulo) sintetiza as influências musicais e o alto nível das performances da banda paulistana.

Como material extra, um breve documentário reúne depoimentos dos 14 integrantes, que relembram como a banda nasceu. Quem ainda não teve o prazer de ver e ouvir a Mantiqueira ao vivo, vai se sentir na primeira fila da platéia.

(resenha publicada na “Folha de S. Paulo”, em 4/02/2009)


Johnny Alf: pioneiro da bossa nova retorna aos palcos

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Nos últimos dois anos, ele se viu privado de um de seus maiores prazeres. Algo que Johnny Alf fazia quase todas as noites desde a década de 50: tocar piano e cantar suas sofisticadas composições, nos melhores palcos e casas noturnas do país.
Refeito da batalha contra um tumor de próstata, o músico e precursor da bossa nova se apresenta hoje e amanhã, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. A seu lado terá três convidados: o saxofonista Idriss Boudrioua e as cantoras Leny Andrade e Alaíde Costa, que interpretam suas canções há décadas.
“Quero continuar minha carreira e voltar a compor”, diz Alf, prestes a completar 80 anos.

Quem sabe de seu pioneirismo na música brasileira achou injusto que você tenha aparecido tão pouco nas comemorações do cinqüentenário da bossa nova. O que pensa sobre isso?
Johnny Alf - Como eu estava meio acamado, não tive a possibilidade de sair muito para tocar. O que pude fazer, eu fiz. Foi legal.

Como foi ficar longe dos palcos?
Alf - Foi difícil, um desespero, mas como era uma questão de saúde, tive de aceitar. Compreendi que era necessário me afastar para poder me recuperar.

Você até se desfez de sua discoteca. Chegou a ficar desiludido com a música?
Alf - Fiz isso porque cansei de ouvir música. Eu era tão viciado em ouvir música que isso até me prejudicava, porque eu até me atrasava para fazer outras coisas. E quando precisava mudar de casa, os discos viravam um problema. Mas ainda tenho tudo que ouvi em minha cabeça.

João Donato disse, no ano passado, que não agüentava mais falar em bossa nova, que gosta mesmo é de jazz. Sua ligação com o jazz também foi forte, não?
Alf - Sempre toquei no meu estilo. O jazz eu usava de vez em quando, mas meu forte mesmo é a música brasileira. Cresci ouvindo rádio, então fui determinado pela música de Custódio Mesquita, Ary Barroso, Caymmi e outros. O jazz eu adquiri porque, quando era jovem, via aqueles filmes americanos que me impregnaram bastante. Tive a idéia de juntar a música brasileira com o jazz. Tento juntar todas [influências] para conseguir um resultado agradável.

Acha que a história da criação da bossa nova está bem contada?
Alf - Eu sempre fiquei à parte. As pessoas estavam lá, mas eu ficava na minha. Acho engraçado quando as pessoas começam a se eleger, mas não porque eu quero reclamar algo para mim. Eu fazia música porque tinha vontade de fazer. Não me ligo nesse negócio de títulos. Toco sem a intenção de reivindicar algo.

Está contente com o crédito musical que recebeu até hoje?
Alf - Fico satisfeito, pelo menos não sou esquecido de todo. Minha música sempre foi considerada difícil. As gravadoras sentiam o valor da minha música, embora não tivesse o apelo comercial que elas gostariam.

É verdade que pensou em trocar seu nome artístico, nos anos 50?
Alf - Adquiri o apelido Johnny Alf quando tocava no Instituto Brasil Estados Unidos, no Rio. Pensei em trocá-lo por Alfredo José, meu nome verdadeiro, quando comecei a tocar na noite. Mas o pessoal já me conhecia por Johnny, até porque eu tocava muito jazz. Valeu a pena.

Chegou a enfrentar preconceito racial ou por ter influências norte-americanas em sua música?
Alf - Isso nunca aconteceu comigo, sempre fui bem recebido. As pessoas que freqüentavam os lugares em que eu tocava também tinham preferência pela música americana.

Você completa 80 anos em maio. Como encara essa idade?
Alf - Estou satisfeito, porque ainda sou bem conhecido e requisitado. Meus discos estão sendo relançados com sucesso. Estou no caminho que sempre desejei.

(entrevista publicada na “Folha de S. Paulo”, em 31/01/2009)

 

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